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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2010

Homem Estátua

Há muito nas coisas expressas que transcende de largo o que retemos no olhar. Uma fotografia de alguém que desconhecemos, por exemplo, leva-nos sempre a uma viagem reveladora, véus soltam-se e mostram-nos sempre tudo o que o olhar frio da câmara não conseguiu revelar. A época, o enquadramento, o estatuto económico do fotografado…. Enfim, revela-se a pessoa por detrás da máscara. O mesmo com as cidades. As ruas desvendam quem as traçou, mas desvendam também quem as percorre. Não nos define aquilo de que dispomos. A nossa assinatura está no uso que lhe damos. Não resisto a contar aqui um episódio interessante. O meu amigo António, conhecido por “Homem Estátua”, cansado dos entraves colocados às suas performances nas ruas deste país, contou-me que a primeira vez que foi a Copenhaga, ao escolher um sítio para actuar, foi abordado por um polícia que, espanto dos espantos, lhe indicou um local mais conveniente, já que por desconhecimento da cidade, o bom do António tinha optado por um esp

O Povo é sereno

A minha madrinha Roque deu-me uma moeda de vinte e cinco tostões para ir comprar rebuçados à loja do Maurício Matias, que ficava no outro lado da rua. Lá fui eu todo lampeiro com a pequena moeda de prata na mão fechada. Ao entrar na venda, que à época era também uma casa de vinhos e petiscos, deram em estalejar foguetes lá para os lados do Pupo. Que é que se passa, ouvi alguém perguntar. O botas caiu de uma cadeira, e está a bater a caçoleta, respondeu uma voz vibrante de alegria. Que raio, pensei eu, então o Constantino cai da cadeira, fica às portas da morte e as pessoas põem-se a festejar, fiquei com pena do Constantino Botas, homem simpático, meu vizinho, até me contava histórias de polícias e ladrões… que gente mais desumana. Entretanto o Maurício convidara todos os presentes para beberem um copo e, a mim ofereceu-me uma laranjada da rical, claro que me recusei a aceitá-la, jamais faria essa desfeita ao meu amigo Constantino. Mas de repente, ei-lo que aparece a dobrar a esquina,

Bing Crosby

Bing Crosby, é para mim um grande "crooner", marcou uma época, tem canções inesquecíveis. Esta, datada de 1931, em plena grande depressão, é intemporal, mostra-nos a inevitabilidade do eterno retorno... Dá que pensar. ontem como hoje.

A face oculta da lua

Tanta coisa com a face oculta da Lua. Afinal é parecidíssima com a que está à mostra...

B.Leza

Gosto de Cabo Verde. Capital da lusofonia. Ponto de encontro de todos os continentes. Transatlântico parado no Mindelo e os meninos à volta do navio, com os olhos enormes, olhos de ver e de encantar. Um deles, fica suspenso dos sons e dos tons de um violão que o cozinheiro do navio dedilha. "Tu quer aprender a tocar violão, rapaz?" perguntou-lhe o homem com o seu sotaque dos Brasis. Que sim, que queria, respondeu o puto. A partir desse dia, sempre que o vapor chegava às águas de S. Vicente o homem e a criança recapitulavam lições aprendidas, avançavam na arte de bem tocar. O mestre, orgulhoso do seu aluno exclamava no seu brasileiro gingão: "Beleza" A criança adoptou o nominho e anos mais tarde já músico bem conhecido, toda a gente o chamava B. Leza. Adoro Cabo Verde. Terra pobre de GENTE rica...

silencios

Vou cozer-me com as paredes libertar silêncios espaços abertos entre as palavras olhar-te contemplar o teu aceno e sorrir apenas sorrir são momentos não se estragam momentos com palavras

You got to get in to get out

Saí de casa, nos Poveiros, perto do Coliseu. Estava o dia a nascer. Desci até ao Douro, mochila às costas, a pensar- "vou-me embora, vou-me embora daqui". Fui apanhar boleia e só parei em Amsterdão. Enquanto descia até à marginal, para me despedir do rio e despedir dos cheiros da cidade, o gravador ligado...

Cardeal Patriarca "dixit"

"Ajudar a família é, antes de mais, respeitá-la na sua dignidade e na sua natureza antropológica de instituição baseada no contrato entre um homem e uma mulher, que origine uma comunidade específica, onde acontece a procriação e a caminhada em conjunto na descoberta da vida." Ler mais:  http://acincotons.blogspot.com/#ixzz0dqFDEJjC ( picado do "A cinco tons" com a devida vénia a Luis Serra)

Da Família

"Tinha a jovem Sara noventa anos quando Deus lhe prometeu que Abraão, então com cento e sessenta, lhe daria um filho nesse ano. Abraão que gostava de viajar, partiu para o terrível deserto de Cadés com a mulher grávida, sempre jovem e bela. Um rei desse deserto não deixou de se apaixonar por Sara, como já acontecera com o rei do Egipto; apresentou a mulher como irmã e ganhou ainda nesse negócio ovelhas, bois, servos e servas. Podemos pois dizer que o tal Abraão se tornou bastante rico devido à mulher." Voltaire, Dictionaire Philosophique

Sky

Sky from Philip Bloom on Vimeo . Eu sou Sol Tu és Lua Eu sou das coisas pequenas Expostas... Tu és dos véus e dos desvelos...

Moira

Sou Moira. Sou uma mãe encantada mas não estou escondida nas águas, estou nas margens que lhe dão abraço e me transportam os filhos ao mar. Nada que o vento já não me tivesse contado. Que sem vento Como podem os meus filhos voar? Sem vento as velas são apenas pano, véus, espessos de mais para essa estranha liberdade de chegar, só pelo prazer de chegar. Nenhum filho parte de mim sem antes ter chegado. senão... De que vale a névoa que se solta do rio... Sim! que o mar também tem alma, e entanto só o rio tem saudade. Só se tem saudade do que se pôde abraçar....

Um fado

hoje estou com a alma desnuda! amores passados, desamores presentes. todos numa farândola. a caminhar por mim acima. uma estátua de desencanto. um fado...

Haiti

A Unicef receia que devido à falta de controlo existente no Haiti, muitas crianças estejam a ser retiradas do país, com destino e futuro incertos. Nestas alturas de caos total tudo é possível, e se existem oportunidades de negócio, elas são aproveitadas, mesmo que à custa da vida de inocentes, como parece ser o caso. A calamidade que se abateu sobre este país, a primeira nação do mundo a libertar-se do jugo colonial, é o triste culminar de uma história trágica, feita de ditaduras, de invasões, de desrespeito pelos mais elementares direitos que assistem a qualquer pessoa, o Haiti é hoje um país sem futuro, como já o era antes do sismo, distante do que sonharam os escravos revoltosos que se bateram pela sua independência. Há um ditado mexicano que diz: “pobres dos Mexicanos, tão longe de Deus tão próximos dos Norte Americanos”.   Este dito assenta que nem uma luva ao Haiti; ocupado durante trinta anos, sujeito a ditaduras ferozes, que saquearam os recursos do país, patrocinadas pel
Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos... Assim a palavra do senhor crescia poderosamente e prevalecia. Actos,19:19-20

o inextinguível riso dos deuses

"Depois de o deus rir, nasceram os sete deuses que governam o mundo... Quando ele rompeu às gargalhadas, Surgiu a luz [...] Gargalhou segunda vez, e tudo foram águas.À terceira, gargalhada, apareceu hermes; à quarta, a geração; à quinta, o destino; à sexta o tempo". Depois, antes do sétimo riso, o deus inspirou fortemente, mas tanto riu que até chorou, e das suas  lágrimas nasceu a alma... papiro de leiden- séc III in História do riso e do escárnio de Georges Minois (teorema)

Callas de amor a alguém que nunca foi, mas que poderia ter sido.

Como se do rio que me seduz a janela,sobressaísse apenas o rastro das naus que abraçaam o mundo. Fantasmas, apenas fantasmas, nada mais! grita-me a angústia ao ouvido da alma. Mas eu garanto-me o contrário, por isso escrevo espesso, que é a cor da minha memória, a veste atávica deste fado mareante. Não importa o rastro, tãopuco as naus que o desenham; importam-me os homens, esses circum-navegantes da vida, que volta após volta, lavram um mundo maior que o tempo, maior do que a própria existência. Não é um rio de lágrimas esse que me seduz a janela. Essa janela, meu amor, é nossa. Que palavra, que mágica? Como posso eu, que dia a dia te pressinto, te aspiro, escrever a espuma de ti, sem me tornar Narciso e confundir a paixão com o espelho... Sorris, nesse teu jeito simples de fazer as coisas, todas as coisas, e eu, insisto, no meu trejeito arrebatado de ser. Todo o meu Sol, oh fazendeira, se compraz em iluminar as pequenas coisas que inteiram a vastidão sempre crescente d

O meu bicho papão...

O meu bicho-papão tem dez tentáculos ao pé da boca, dentes afiados, três olhos e é verde com manchas azuis. Usa umas meias cor-de-rosa. Quando se zanga mostra os dentes e rosna, mas ele é simpático. Tem 16999 anos e quer casar com uma alga bebé cor-de-rosa. Sabe muito bem representar, e sempre que passam piratas por as suas águas ele dá um salto e depois vomita para cima deles. Durante a noite ele gosta de ir a terra e a cidade mais próxima dele é "Hollywood". Quando ele entra nos estúdios de "Hollywood" é uma personagem dos "piratas das Caraíbas" o filme. Porque pensam que a pele dele é um fato. Ah, já me esquecia o nome dele é Jack. Texto da minha filha Maria (oito anos)

Crónica Diana FM

A água e a torneira Uma crónica é o relato de algo que passou, quanto muito, a sua análise à luz de uma opinião particular. Restringe-se assim o campo, e pelos vistos bem, já que de outra forma, se se abordasse o devir, correr-se-ia o risco de transformar em propaganda, o que nasceu para estimular o debate. Digo isto, porque o meu primeiro ímpeto, foi o de escrever acerca de uma iniciativa do partido em que me enquadro, o BE, que pretende aumentar o subsídio de desemprego para 70% do salário, e reduzir o prazo de garantia para seis meses de descontos ao longo do último ano de desemprego, em vez de quinze meses de trabalho em dois anos (previstos na lei) ou um ano em dois (como será em 2010). Para se ter uma ideia do imenso alcance da proposta do Governo, basta dizer que dos actuais 300 mil desempregados sem direito a subsídio, apenas dez mil beneficiarão com tão judiciosa medida. Quanto a isto serão efectuadas acções, que não cumpre aqui divulgar, mas que a seu tempo, sem dúvida,

A palavra no cabide

A palavra no cabide não é palavra pendurada, é palavra oscilante. Vai com a paixão volta com a ressaca. Mas não é puta não senhor, é apenas volúvel, salta de frase em frase. Aos pontos... sorri, faz um manguito e passa por cima. É palavra popular, não cabe na gaveta dos doutores, nem se dobra às conveniências gramaticais. É ladina a magana, cheira longe as concordâncias da sintaxe e pira-se, é lesta, é uma lição. A palavra no cabide....

Momentos

Está-se sentado num bar de fim de tarde, só, entre muitos. À frente, um copo de cerveja. Em torno, vozes, muitas vozes, sobrepondo-se, amalgamando-se, tornando-se indistintas na sua desordem. Na cerveja, destacam-se as bolhas gasosas que amarinham copo acima até ao contacto do ar. Entretanto, outras vão surgindo e, quando desaparecem de todo, a cerveja está morta. Não é um processo imediato, as bolhas vão escasseando até à extinção, e aí, com o seu fim, a cerveja perde o sabor, irremediavelmente. Pede-se outra. Renova-se o processo e a tiragem sai melhor, filha da experiência ganha a verter a bebida para o copo. Perto, apoiado no confortavelmente sólido balcão de madeira, um homem de meia idade, de altura invulgar e corpo seco, limita-se a ouvir, mas pelo seu rosto cerzido no osso, baila uma distância que lhe confere a máscara do alheado. Apenas um ligeiro arrepanhar da boca, quase despida de lábios, lhe trai o esforço de ouvir. Para onde o seu olhar aponta, um grupo, pequeno

Os putos de S. Tomé

Subsídio de Desemprego

O Embondeiro de S. Tomé

Semiramis

Mulheres com sorrisos nos olhos. Sensualidades várias que despertam a minha alma de fazendeiro. Atavismos que me levam a querer vindimá-las... Vou então transformar a minha cama numa vinha das mais variadas castas. Será aí que me metamorfosearei em Baco, e, nesse culto do amor, inventarei uma nova linguagem. Com todos os meus sentidos. Vou dedicar-vos o suor que me rega a pele. Depois com o meu cheiro, o meu sabor molhado, vou recoser uma vela. Fenícia. Vou enfuná-la em ventos de paixão. Sei muito bem que só assim, aqueles olhos que brilham como os portais das estrelas, se vão abrir para mim. Poderei então repousar...

A distribuição da água e a privatização de direitos fundamentais

   crónica de Manuel Branco Professor do Departamento de Economia da UE in "Diário do Sul" em espaço da responsabilidade do BE no âmbito das eleições de 2009 "A água está na origem da vida na Terra, nenhum organismo pode viver sem água sob qualquer das suas formas. Assim, e porque também é essencial à sobrevivência humana, ao exercício do direito humano à vida, a água constitui um direito fundamental, como é, aliás, afirmado em várias declarações recentes das Nações Unidas. Numa altura em que se fala de privatizar a distribuição de água convém relembrar alguns princípios que devem presidir à garantia de direitos humanos em geral, e deste em particular. Em primeiro lugar, a igualdade e a não exclusão no exercício de direitos fundamentais é uma condição que deve ser respeitada por quem, neste caso concreto, fornece água aos utentes. Ora, seguindo a sua lógica o mercado, a economia privada, não consegue evitar pelo menos a exclusão, isto é, se um indivíduo não puder paga

Sem ressentimentos

Redigem-se manuais, comenta-se, afinam-se estratégias, congeminam-se possíveis alianças. Amores e desamores combinados em danças encantatórias de pássaros Kiwis, emplumados e sedutores, numa voragem efémera de ter algo a fazer, algo a acrescentar. Nada de novo, o que não seria grave, se não fosse tudo muito velho, velho de mais! Cacos ligados por gatos de metal, colocados em lugar de destaque numa prateleira conveniente de uma tasca retro, que todos frequentam, todos clientes assíduos desse franchising parlamentar, espalhado pelo mundo, de Pretória a Reiquiavique… Entretanto o mundo chia, mandam-se emails e SMS e em segundos tudo se debate numa Ágora global que extravasa parlamentos e ideologias e estratégias Bismarkianas de manutenção do poder. Esquecem-se os mandatados que o Homem está cada vez mais próximo de Deus… As asas de Ícaro, já não são feitas de cera, são asas efémeras, virtuais, que sobre passam o tempo e o espaço e voam para longe, movidas pelo toque de um dedo numa t

Alentejo

Alentejo 31551,2 Km2. (um terço do território nacional + ou -) 24% De densidade populacional. (Km2) 441604 Habitantes (grosso modo). 8 Deputados eleitos num total de 230. São estes os números da descentralização, motivo bastante para que questionemos o caminho até aqui seguido. A taxa de crescimento efectivo da população é de -0,51%, não se augura nada de bom, a manter-se o ritmo. O que é que vamos fazer? Apoiar o crescimento das Megacidades, incentivar o enriquecimento do litoral? Contentarmo-nos com o TGV com paragem em todas as estações e um Aeroporto que ainda não é mas está quase a chegar, com pazadas de turistas e investidores e contentores de nano-micro-médias empresas e mirabolantes investimentos dos grandes grupos económicos, que finalmente começam a olhar para nós? Tudo isto tutelado por Lisboa e por um poder central mais gordo e mais distante a cada dia que passa. E os nossos putos? Estudam, especializam-se e depois vão embora atrás do dinheiro e das oportunidade

Leo Ferré

A chuva cai, a cortar de água o ar frio de Janeiro, a humedecer o cheiro da madeira queimada. As vidraças das janelas, embaciadas como o dia, os sons metálicos, agrestes da cidade mergulhada em si, chamam-me para uma valsa solitária e rodopio vezes sem conta de braços abertos até ficar inebriado pela turvação do movimento e me sentar, a respirar o ar frio e a sentir a chuva na cara afogueada, as mãos pendentes ao longo do corpo, um sorriso de pasmo pela afeição que se liberta; do húmus da terra, do leito dos homens…