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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2010

Vontade

Art.º 25.º (Sessões extraordinárias) 1.        O Presidente da Assembleia convoca extraordinariamente a Assembleia por sua própria iniciativa, quando a Mesa assim o deliberar ou, ainda, a requerimento: a)        Do Presidente da Câmara Municipal, em execução de deliberação desta; b)        De um terço dos seus membros ou de grupos municipais com idêntica representatividade; c)        De um número de cidadãos eleitores inscritos no recenseamento eleitoral do município equivalente a 50 vezes o número de elementos que compõem a Assembleia. A Assembleia Municipal é composta por quarenta membros. 40 x 50 = 2000 São necessários dois mil eleitores inscritos em Évora para que o Presidente da Assembleia, por solicitação, convoque uma Assembleia Municipal Extraordinária. Com esta petição , contra o encerramento do Museu do Artesanato, podemos atingir este número. Mais, embora o Museu, a sua manutenção, seja uma causa justa, poderíamos afirmar taxativamente, preto no branco, que o nosso voto não

O Nefando Pecado

Muitos foram queimados nas fogueiras do Santo Ofício por terem cometido o “nefando pecado” (sodomia), geralmente eram pessoas de posses, cujos bens eram confiscados e iam engrossar os cabedais da Igreja e da Coroa. O negócio começou no reinado de D.JoãoIII, quando o Santo Ofício, depois de grandes libelos, passou a depender directamente da Igreja Portuguesa (leia-se da coroa) e não da Cúria Romana como até então. Não bastava a acusação de judaísmo, tinham de a reforçar para sublinhar a culpa. Os judeus eram perseguidos, obrigados a professar a fé católica e só depois, enquanto cristãos, podiam ser considerados hereges e assim ficar sob a alçada da Inquisição… Muitos lucraram com as condenações. Entretanto a Inquisição mudou de nome e agora designa-se por “Congregação para a Doutrina da Fé”, mas os métodos não andam distantes dos desses conturbados tempos. Os homossexuais continuam a ser perseguidos, outros credos subalternizados. Funciona a dita Congregação como se o mundo não tiv

A cadeira do poder

O Candidato

Um candidato a Presidente tem de ser politicamente engajado, tem de se afirmar através dos seus valores, apresentar ideias, defendê-las, tomar partido. Um candidato a Presidente não pode pairar sobre o que se passa no país sem se manifestar, sem tomar posição, não pode dizer sim umas vezes, outras não, outras ainda nim. Ou é a favor do PEC, deste PEC, ou é contra, ou está do lado daqueles que a cada dia que passa vêem o seu poder de compra reduzido, daqueles que caíram no desemprego e que não vislumbram solução para as suas vidas, daqueles que tendo descontado toda a sua vida activa, se vêem, atingida a reforma, espoliados dos direitos que julgavam adquiridos; ou não. Um candidato a Presidente tem que dizer se está do lado da banca, dos especuladores, da minoria, que detendo o poder neste país nos levou a este estado de miséria, ou se pelo contrário está do lado daqueles que sem responsabilidade nos erros cometidos, se vêem forçados a pagar mais uma vez os dislates cometidos por quem

A petição

A petição Corre uma petição ( subscrever aqui ) que apela à manutenção do Museu do Artesanato. Ao que sei perspectiva-se a reutilização do espaço em que este museu funciona para aí ser instalado um Museu do Design que albergue uma mostra privada, a “Colecção Paulo Parra”. Sou totalmente a favor da criação de um espaço deste tipo, ou de qualquer outro, que hospede com dignidade o espólio privado, que pelos vistos abunda nesta cidade e ao que julgo saber se encontra à disposição de todos nós. Assim existam condições, para que se cumpra este desiderato. O que não entendo e como eu muitos, é que em vez de recuperar ou reaproveitar inúmeros locais abandonados ou subaproveitados, se mande às urtigas o Museu do Artesanato ou qualquer outro, para, num acto administrativo, não lhe dou outro nome por decoro, dar guarida a uma colecção privada; nem que essa colecção fosse a das jóias da rainha de Sabá. Quando se fala num cidade de excelência, aberta à modernidade, empenhada em recuperar o prest

pale blue eyes

Lá ao fundo, o Lou Reed canta e é um sortilégio ouvi-lo. Velho companheiro... Gasto. Ambos sabemos dizer adeus sem acenos, sem lágrimas. Iremos simplesmente, sem dramas, sem sermos sonegados do nosso repouso. De que nos serve o engodo da felicidade? Hesito. É talvez a noite que chega, o sono, esse silencio sem rosto. A sublime chegada à ausência do tempo, como o instante que antecede a morte. E entanto não tenho lágrimas desperdiçadas, não secou ainda a minha fonte.

O Caminho

Eu vejo a diferença como uma sumptuosa manifestação de liberdade. Que desculpem os monocromáticos, mas o seu caminho é demasiado estreito e para mim não serve. Sou curioso, gosto de esmiuçar o sentido das coisas e a sua correlação. Um caminho sem ramificações leva apenas a um lado e só chegados poderemos saber se esse é o destino que nos convém. Cá por mim, prefiro ser um andarilho sem mapas, deixar-me seduzir por essas fascinantes encruzilhadas da vida. Como diz a minha filhota, a liberdade é um arco-íris...

para adopção

Liberation

O "Liberation" do passado dia 18 de Março não saiu em Portugal. A justificação: problemas de impressão. Nada de extraordinário se não fosse  isto . Dá que pensar...

Cheguei...

Eis-me por cá. Menino de peito enfunado virado ao horizonte. todos os gestos me tocam e sorrio aos cheiros que  chegam ao berço. Sou tão conforme ao mundo que ainda ignoro o acaso. Não existem milagres onde a dúvida não dói. Sou apenas um menino pequenino cuja alma ainda não sobra dos olhos...

Este Mundo

Todos os dias coloco no canto superior direito um video diferente acerca de temas incómodos. O último abordou a violência sobre animais. Seguem-se as crianças. As nossas crianças. As crianças que são responsabilidade de todos nós...

Desencontros

Sentado junto ao portal numa noite de verão, Aziz sonhava com o outro lado do mar. Não que a vida lhe fosse madrasta, pesava-lhe e isso bastava. Mohamed, o seu irmão mais velho, tinha partido há já alguns anos e tinha regressado próspero, para se casar e levar consigo a mulher. Mas tinha deixado atrás de si o perfume de histórias aventurosas que atiçaram o fogo do mistério no coração de Aziz, era imperioso partir, atravessar aquela imensidão de água que o separava da vida. A partir daí, embora os seus olhos fossem os mesmos, o seu luzir era diferente, perdido na lonjura do sonho, olhos de um brilho sem norte, desfasados da alma, essa sim, já muito distante. Começou a vaguear pela cidade, perdido, calcorreando horas a fio as ruas poeirentas, recamadas de cheiros e cores que o desesperavam. tudo lhe sabia a pouco, vida seca, como areia a escorrer-lhe dos dedos. Fosso intransponível esse que tinha Aziz, ave de arribação de asas cortadas. Foi assim que resolveu abalar. Fumando um ci

Liberdade meu Amor

Eu hoje estou triste. Temo que muito do que conseguimos, se perca nesta sanha criminosa de por o povo sofrido a sofrer. uma vez mais. sempre mais uma vez... Até quando?

Bocas de Incêndio

Bocas de Incêndio É bom sentir a natureza áspera da pedra na concavidade da mão. O calor do incenso, o frio do limão… A luz fosca da manhã na pele dos olhos. O cheiro da Lua… E a água? Tão penetrável Tão densa Tão sedutora… Que viveiro de sensações A água…

Ricardo Reis

Tirem-me os deuses Em seu arbítrio Superior e urdido às escondidas O Amor, gloria e riqueza. Tirem, mas deixem-me, Deixem-me apenas A consciência lúcida e solene Das coisas e dos seres. Pouco me importa Amor ou glória. A riqueza é um metal, a gloria é um eco E o amor uma sombra. Mas a concisa Atenção dada Às formas e as maneiras dos objectos Tem abrigo seguro. Seus fundamentos São todo o mundo, Seu amor é o plácido Universo. Sua riqueza a vida. A sua glória É a suprema Certeza da solene e clara posse Das formas dos objectos. O resto passa, E teme a morte. Só nada teme ou sofre a visão clara E inútil do Universo. Essa a si basta, Nada deseja Salvo o orgulho de ver sempre claro Até deixar de ver. 6-6-1915 Odes de Ricardo Reis  . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).   - 55.

blur

Por vezes, uma janela se abre de mim para o mundo. É uma janela a preto e branco, uma visão de infante, sem matizes, quase inconveniente na torrente de dúvidas que desperta. O medo que ela comporta, obriga-me a seguir o olhar, impõe essa contenção quase apocalíptica de me negar a vontade de contemplar e ao ignorar os pormenores imiscuo-me neles. Na verdade o meu sonho é ficar por fora,  não participar. Por isso me desloco ao sabor das dúvidas dos outros, de todos os outros. Não penso a facilidade como um instrumento, não penso sequer que alguma vez poise no meu beiral. Recordo-me tenuemente das vezes que com ela me cruzei e não são boas essas memórias, são gavetas perdidas no fundo da alma, meandros inacessívelmente dispostos e que me indisponibilizam de mim...

Franz Kafka -Carta ao Pai-

"Querido Pai:  Você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala. E se aqui tento responder por escrito, será sem dúvida de um modo muito incompleto, porque, também ao escrever, o medo e suas conseqüências me inibem diante de você e porque a magnitude do assunto ultrapassa de longe minha memória e meu entendimento. Para você a questão sempre se apresentou em termos muito simples, pelo menos considerando o que falou na minha presença e, indiscriminadamente, na de muitos outros. Para você as coisas pareciam ser mais ou menos assim: trabalhou duro a vida toda, sacrificou tudo pelos filhos, especialmente por mim, e graças a isso eu vivi "à larga", desfrutei de inteira liberdade para estudar o que queria, não precisei ter qualquer preocupação com o meu sustento e

A carga

O homem está a meia haste. Nem velho, nem novo. Presente com um passado às costas, como um saco de viajante, um saco de lona cheio de tralhas acumuladas, coisas supostamente belas, como o brilho dos corvos, arrecadadas, olvidáveis, perdidas no meio de outras. O homem vai inevitavelmente sentir pelo custo do seu caminhar, que tem de alijar a carga, deixar para trás as memórias e contentar-se com as recordações. Lenços brancos acenando ao seu percurso. Coisas da vida…

O MONSTRO

O monstro bateu à minha porta, primeiro de forma suave, como quem não quer a coisa, depois, cada vez mais insistente, com pancadas secas, sincopadas, à medida da sua raiva. Fiquei sentado no meu canto à espera que desistisse, mas não; o monstro não desiste nunca, é tenaz. Chegou o momento em que só o fragor das suas pancadas, aquele martelar ritmado e assustador a ressoar na minha cabeça, se fazia sentir. Pum, pum, pum, sou eu o monstro, pum, pum, deixa-me entrar, não vez que não necessito de estar junto a ti para te atormentar. Não entendes que mesmo distante te possuo a alma? Anda, deixa-me entrar, se o fizeres, se te deixares possuir, tudo terminará, não sofrerás, não sentirás, não ouvirás, não serás mais…

É assim a vida

Cá estou eu. A bem dizer, nem estou; vou estando. Procuro ainda um lugar. Não sou daqui, nem de algum outro lado que eu conheça. Na verdade acho que qualquer sítio me apraz, desde que me sinta bem. Bom… qualquer sítio serviria, não fossem as pessoas que os usam. Apropriam-se deles, decoram-nos como se fossem árvores de Natal e depois, quando chego, decidem que não encaixo. Enfiam-me num canto e deixam-me lá ficar, esquecido. Lembram-se de mim uma vez por outra e vão a correr verificar se ainda estou no cantinho que me reservaram. Vou aguentando enquanto posso, mas posso pouco, farto-me e abalo. Como os pássaros, sempre de um lugar para outro, de ramo em ramo. É assim a vida; não se pode ter tudo. Eu só quero um lugar onde me sinta bem. Se me deixarem…

O poeta que queria ser presidente

Cavaco Silva é o homem cinzento das emoções contidas, é a diligente formiga que trabalha metódica, disciplinadamente. Tem metas, que são as suas metas, olha em volta e vê o mundo moldado à sua imagem de tecnocrata; em gráficos. Para ele a boa governação é rectilínea, a cada pessoa um número, a cada número uma função. Manuel Alegre é o arrebatado, dos gestos, das emoções; é a cigarra que canta e encanta, que provoca amores e desamores, o seu pensamento é sentido, emotivo. Vê-se no mundo porque anseia mostrar-se ao mundo; não é homem de distâncias. Gente é gente, ninguém cabe num rebanho, ninguém precisa de um pastor. Quem dita as regras são os Cavacos, não os Alegres. Os Alegres desconstroem-nas. Os Cavacos subvertem-nas. Quando Alegre se candidata, fá-lo correndo o risco de ser usado. Quando Cavaco se candidata, fá-lo consciente de que para ganhar, terá de usar alguém. Se Sócrates (outra formiga) apoiar Alegre fá-lo-á tendo a noção que esse apoio irá beneficiar Cavaco. Tal c

Carta de uma guerra escusada

Tite, 3 de Fevereiro de 63 Depois de dias de tensão emocional grande, parece que as coisas, embora não voltem àquela calma anterior, estão com tendência para se aproximarem do normal. Será uma calma enganadora para depois voltarem à carga com maior decisão? Nunca se sabe, no entanto tenho dúvidas que tentem repetir a graça da malfadada madrugada de 23. Não só porque se saíram mal, deixando quatro mortos e mais de uma dezena de feridos, como a vigilância quadruplicou e melhoraram notavelmente as condições de segurança do aquartelamento. Foi uma noite dramática, e quando nada o faria supor, eram cerca de uma e meia da madrugada, noite escura como breu, todos dormíamos; eu por acaso não estava na messe, pois tinha-me deitado no posto de socorros, onde tinha estado a ler até cerca da uma hora. Acordei com uma fuzilaria dos demónios e com o explodir de uma granada. Inicialmente pensei que algum dos presos fugira e se tinha lançado a confusão. Mas rapidamente me convenci que tinham assaltad

Eu gosto muito de vocês

Eu gosto muito de vocês, mas não pactuo com a vossa vontade. Se agora, por exemplo, me pedirem para vos levar a “viajar” no espaço, é evidente que não "vos" levo. “Merci beacoup. Repond le garçon qui veut aller au bout du chagrin. Une fenaitre ouverte, une fenaitre eclairé”. No fundo, bem no fundo, todos nos questionamos, todos temos esperanças estioladas na voragem da vida.  Estultas conversas às portas do nada, com todos os buracos negros a sugar qualquer réstia de dignidade que possa sobejar das palavras ainda por dizer.

libergnose

Maravilhosa Liberdade Outro dia, debaixo do chuveiro, fui tomado por um surpreendente pensamento, uma espécie de epifania. Projectei-me para lá da casa, para lá do planeta e do sistema solar, da galáxia, do universo e dos que lhe sucediam. Fui crescendo cada vez mais, até me reencontrar de novo no duche, com as infindas gotas de água soltas no ar e a névoa quente a envolverem-me o corpo. Fiquei sem fôlego. Será isto a condição humana? Tudo e nada, simultaneamente? Será esta capacidade de soltar amarras o verdadeiro sentido da vida? Essas múltiplas, miríficas alforrias, esses pequenos gestos, que sempre em movimento enformam a liberdade? Que lhe dão sentido? Agirmos únicos em consonância com o todo? Se assim for viver a liberdade é abraçar a utopia, ou não?

Bakunine

Eles [os marxistas] defendem que nada além de uma ditadura - a ditadura deles, é claro - pode criar o desejo das pessoas, enquanto nossa resposta para isso é: Nenhuma ditadura pode ter qualquer outro objectivo para além de sua auto-perpetuação, ela pode apenas levar à escravidão o povo que a tolerar; a liberdade só pode ser criada através da liberdade, isto é, por uma rebelião universal de parte das pessoas e organização livre das multidões de trabalhadores de baixo para cima. Bakunine

Sr. Fanfarrão

Sete dias por semana tinha o sr. Fanfarrão para com voz maviosa endrominar o povão. Do alto do seu poleiro ele desbundava dinheiro, eram escolas, hospitais, eram lares e tribunais, eram pontes, aeroportos, comboios e ferrovias e estradas excepcionais. O povo quando o ouvia, de tão contente aplaudia e o sr. fanfarrão nos seus enganos seguia. Mas um dia chegou a hora das suas contas prestar e aí o tal senhor Mandou o cinto apertar.  Tudo o que prometera Ele resolveu adiar. não que a culpa fosse sua, Que não era não senhor. A culpa, essa magana Era do trabalhador. Que em vez de bulir dormia e o que tinha gastava sem olhar ao amanhã. O pobre patrão coitado, à conta do excomungado, vivia vida malsã. Há que cortar nos aumentos, nas pensões e nas reformas e ajudar os banqueiros para pôr tudo nos eixos… Estava assim nestes preparos, quando alguém se lembrou, que poderia sair p’la porta por onde entrou, expulsaram-no a pontapé e o regabofe acabou. oh yeahh.