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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2011

Cristãos na Palestina

Adel Sidarus Uma das preocupações do recente Sínodo dos bispos do Médio Oriente em Roma, era o êxodo em massa das populações cristãs dos vários países da região e a consequente diminuição do seu número, precisamente na região que viu nascer e se desenvolver a religião inspirada pela vida e palavra de Jesus Cristo. No Dia internacional da Palestina, cabe aqui falar dos cristãos da Terra Santa em particular. Em 1948, na véspera da proclamação unilateral da criação do Estado de Israel, os cristãos formavam 28% da população palestina. Hoje, numa população de quase sete milhões, eles não representam mais que 2 a 3%! Dez anos depois da data nefasta de 1948, 80% dos cristãos palestinos tinham já optado pelo exílio. Enquanto nos anos cinquenta, a população cristã de Belém se situava nos 2/3 do total, hoje já não perfaz mais de 1/3. Em Jerusalém, outrora pouco habitada por muçulmanos e judeus, mal se contabilizam hoje 12% de cristãos. Não queria hoje demorar-me sobre este fenómeno como t

L'etat c'est moi

Escrevinhei esta crónica há já uns tempos... Continua actual, talvez mais actual do que nunca: Deus morreu, Marx morreu e, eu próprio não me sinto lá muito bem. É este o retrato do partido actualmente no poder. Aderente entusiasta da “real politic”, o partido liderado por José Sócrates é isso mesmo, um conglomerado de interesses, sem referências, condenado a governar à vista, dependente de lideranças conjunturais, forçado a reagir mais do que a determinar a sua própria agenda. Partido laico, que meteu o socialismo na gaveta e que por via disso, perdeu as referências ideológicas. Só assim se entende o percurso ziguezagueante das suas reformas; da educação à saúde, da justiça à reforma fiscal, passando pela administração pública, tudo no governo deste partido é fachada inconsistente, pastiche político, governação “a la carte” Manipulam-se dados estatísticos, distorcem-se verdades, sufoca-se o contraditório, recorre-se ao “Photoshop” e eis o país moderno, das energias renováveis, das

O mediterrâneo é um lago

Sempre foi. De um lado o destino, o determinismo semita que coloca o homem como espectador e vítima da sua própria história. Tudo acontece pela mão dos deuses. Do outro a vontade, o périplo humano dos gregos que entende o homem como fautor do seu caminho, independentemente da vontade dos deuses. É esta a nossa história nos últimos milhares de anos, um confronto sem síntese possível, feito de avanços e recuos e submissões impostas pelo lado ocasionalmente vencedor. E de tantos enlaces e desenlaces resultou esta nossa mediterrânica cultura, feita de heróis humanos e vencíveis, que por instantes, cósmicos instantes, se sobrepõem ao desalinho do caos e abrem novas portas com limiares ainda inultrapassados. Agora vivemos um momento assim, no mediterrâneo é a alma dos homens que se levanta e que grita não. Sem margens, sem sul nem norte, apenas homens, milhares de homens, milhões de homens saídos da matriz da nossa cultura. Sem elfos, nem valquírias, sem druidas nem fadas… Ulisses e Gilgam

A liorna dos mânfios

Interrogo-me até que ponto esta encenação da democracia burguesa, que culmina com o dia de eleições e a respectiva romaria às urnas, é coisa útil nos tempos que correm? Na embalagem vem sempre o respectivo aviso: Recomenda-se o voto em propostas, não nas pessoas que as apresentam. Como se isso fosse provável, ou até mesmo possível. Num mundo construído sobre o imediato, em que a imagem é factor determinante, recomenda-se que a escolha se fundamente nas propostas apresentadas. Sugere-se à sociedade a suprema contradição de se negar a si mesma e na hora do escrutínio, abstrair-se da televisão, das novelas, do trabalho aturado das assessorias, para votar em consciência segundo o que rezam os manifestos que ninguém lê, os programas que ninguém conhece, as ideologias que ninguém interpreta. O candidato tal disse do seu oponente tal e tal, ao que o outro respondeu blá blá blá blá e blá blá. Dias depois tudo se esquece, as novidades são outras, constroem-se novos efémeros, que surgem em cat

Palavras aos tropeções

Palavras aos tropeções, como se se tratassem numa voz feminina, perdida no desvario de uma canção romântica. Doces escarpas, rasgos luzentes de preto e nada de nadar, de navegante com braços remos, rectos e flexíveis como salgueiros do campo. Aldeia mesopotâmica, íngua exposta à curiosidade dos xatos. Pequenos cefalópodes de braços rapados, com as ventosas ululantes a saudar a ausência de ventre. Coisas singelas como Tortozendo torcendo-se de óbvios gelos no meio da serra. Kapas deitados de barriga por cima dos Bês, de costas prostradas no chão do abecedário. Sexo litúrgico expurgado da distante Niceia que já foi, ficando persistente nos gestos incautos. Desgarradas. Destravadas. Acupunctura em estado persistente a queimar o nervo dos mareantes. Ciática estática.

Não fiquem em casa

Os Amigos

Agora que a campanha está nos últimos dias, com alguns já a desmontar a tenda, apressam-se uns e outros a demarcar terreno, ou melhor a conquistar posição confortável na aldeia da  roupa suja . Embora muito disto não passe de contra-informação saída da candidatura de direita, o que é lógico, dada a baixíssima qualidade do debate, não é muito difícil admitir que exista um fundo de verdade no que por aí se vai lendo e ouvindo. Estou envolvido na campanha de Manuel Alegre, tenho contactado de perto com o aparelho (?) do Partido Socialista e sou forçado a constatar que se existem pessoas genuinamente empenhadas, existirão muitas outras que tudo fizeram e ainda fazem para que a mensagem não passe. Tenho pena porque Manuel Alegre é uma alternativa válida ao actual presidente, é um homem de esquerda, empenhado na defesa dos valores que são a base do estado social, é corajoso e determinado.  Tenho, pesados os prós e os contras, a consciência  que ao decidir apoiá-lo tomei a decisão correcta.

What a fuck?????

Lá pelo Gharb as coisas não andam muito bem. O Califa de Boliqueime descontrolou-se  e começa a atirar em todas as direcções, não cuidando sequer em resguardar-se das suas próprias setas. Do alto do púlpito oferecido, ele que na sua arrogância garante que sem si o pão sairia com bolor, os galos anunciariam o crepúsculo e os rios nasceriam do mar submergindo com as suas incontidas águas toda a terra, não se deu conta das vozes que entretanto se levantaram do sepulcral silencio e que aos poucos foram questionando tamanha empáfia: "Se é assim tão honesto, porque não acalma as nossas dúvidas e prova com actos mais do que com palavras a sua honestidade?" " Se se preocupa tanto com o nosso bem-estar, porque nos condena à esmola dos poderosos em vez de cuidar de distribuir melhor o que é de todos?" "Se a sua voz é tão ouvida pelos que nos atacam, porque se remete ao silêncio e nos sujeita a tamanhos enxovalhes?" Mas o Califa, ao sentir que essas vozes têm

a beleza das palavras

A beleza das palavras escritas, aprisionadas na eternidade de um momento. Irrepetível instante. Zénite. Água e mar e fogo e terra condensados num ponto criador. Um universo a nascer. O singular big-bang espontâneo numa tarde de inverno no hemisfério norte. Pequenos signos entrelaçados sem outro sentido que o seu sentido comum. Abertos ao desfrute do olhar e do ver, apenas. Nada de sentires; os sentimentos são filhos da espuma. Paleta transitória das almas. Caminhos convergentes para um absoluto qualquer. Absoluto indiferente porque todos os infinitos se contêm e se absolvem na sua irrestrita diversidade.

Boas razões para votar Cavaco

"Pubis pubis"

Tenho andado arredio deste espaço. Estou envolvido na campanha eleitoral para a Presidência da República e a vida para lá da faina do voto também tem chamado por mim. Mas o dia 23 aproxima-se e o tempo (como diria o Jesus do benfica) ruge. Vistas e ouvidas as intervenções dos vários candidatos, dois sobressaem como corpos estranhos, Coelho, o homem da Madeira, que desmonta através da sua intervenção cívica (cívica sim) o lado bacoco desta teia de relações a que chamamos sistema e que já deveria ter sido revista há muito e Cavaco, o homem da transparente opacidade. Transparente, porque à medida que vai falando todos nós entendemos o que é e ao que vem. Uma pessoa dúbia, sem valores sustentados, a não ser um pretenso pragmatismo que foi construindo baseado na sua formação académica e que, descarta qualquer comprometimento social que implique uma distribuição justa dos direitos e obrigações dos cidadãos, base de uma sociedade democrática feita por e para homens livres. Para Cavaco a

O Honesto

O homem é intocável. Criou-se o dogma da honestidade e pronto, ele é honesto. Cavaco é o referencial: mais honesto só à segunda reencarnação, na terceira vida poderemos enfim aspirar a esse patamar do iluminado. Até lá sempre que o questionarmos é má fé e se quisermos a prova disso basta consultar o site da Presidência porque está lá tudo. Temos então o candidato porque sim e se dissermos que porque sim não é resposta, ele zanga-se e remete-nos para o referido site e se isso não for bastante, ele diz que o que pretendemos é atacá-lo pessoalmente. Não nega que investiu na SLN, mas afirma desconhecer como se processou esse investimento e quanto ganhou com ele, porque essas coisas corriqueiras de gerir o dinheiro que se tem, não são para ele, ocupado que está com os altos desígnios que se atribui. Se por acaso se rodeou de um bando de malfeitores, a culpa não é sua que os escolheu, não pode ser responsável por isso; nem pelos filhos quando crescem, quanto mais... Ele é o azeite, o

O Arrogante

-Eu sou honesto! Mais honesto que eu não há. -E menos honesto? -Menos honesto? -Sim, menos honesto. Por exemplo: numa escala de zero a dez, que valor atribuiria à sua honestidade? -Bem... assim de repente... sei lá... olhe! nove e meio. -Então não é honesto. -Não sou honesto? -Não. falta-lhe meio valor para ser honesto. -Essa agora... -Claro. A honestidade é um valor. Concorda? Sendo um valor ela é absoluta, ou se é honesto ou não. -Mesmo assim eu sou mais honesto que os outros. -Não, poderá quanto muito ser menos desonesto. Partindo do princípio que me está a dizer a verdade; nada me garante que esse meio ponto que lhe falta, não se refira a uma incapacidade de falar verdade. Pode ser desonesto porque falta à verdade, ou porque rouba, ou porque não não respeita compromissos... -Esse meio ponto deve-se apenas à minha modéstia. -Significa isso que mentiu por modéstia quando afirmou não ser cem por cento honesto? -Sem dúvida. -Mentiu então por modéstia. -Menti -Hones

José Sá

O delito de opinião não é propriamente um delito. O delito de opinião é tão só um dedo apontado, uma voz dissonante. O delito de opinião apenas transgride o delírio do poder. O delito de opinião não tem delinquente, apenas julgado e juiz e executor. O delito de opinião é o fermento de uma sociedade sem sal, tipificada, orquestrada, manipulada. O delito de opinião é uma honra. O delito de opinião não prescreve nunca. O delito de opinião é um tom fora do compasso. Uma flor no esterco, a rara beleza que emerge da merda. Um delito de opinião é um deleite. Um delito de opinião é a verdade incontestada, para além das regras que tentam impor uma única verdade. Um delito de opinião é a prova provada da vida além da subsistência.

Tourada

Os fins de feira são todos iguais: Uma Tourada. Os do Sol agitam-se em despedidas frenéticas. Os da Sombra anseiam pelos bilhetes do Sol na próxima corrida. O Inteligente toca pasodobles de honestidade e isenção a mando do Director que tenta passar discreto por entre a multidão. Na arena ramos de flores, chapéus, sapatos dos olés, misturam-se com o sangue dos toiros e dos cavalos... É festa brava.

cerração

Ponte Vasco da Gama. Lisboa velada por um manto de brumas. Os miúdos a dormir. Eu cheio de pensamentos, a cruzarem-me o cérebro como asteróides. O rádio a dar notícias, como pãozinhos quentes, esperança e paz e amor e solidariedade e o rio por baixo, cinzento como o Hudson; momento triste de viver. Na cidade, as ruas com habitações em prateleiras, carros, muitos carros comandados por luzinhas que acendem e apagam e piscam e acendem outra vez, um desconforto. Mouraria! chegamos! paro o carro junto a uma parede que dá dinheiro se carregarmos nas teclas certas... desta vez acertei, saíram umas notas de um orifício e dei-as aos putos. Entretanto, por uns segundos se fez luz, alguém conhecido passeava no desconsolo deste domingo. " Olha olha o Tó Zé Chaparreiro, o homem que nunca tem dinheiro". Parou, olhou para mim e disse: "Olha olha o Miguel Sampaio, que diz mais disparates que um papagaio". Abraçamo-nos, já não nos víamos há tanto tempo... Conversamos, dissemos adeu

Pessoas

Há uns anos atrás, vivia eu na Bica, em Lisboa, aconteceu-me sair à noite, para ir ao Bairro Alto, como fazia frequentes vezes. Nessa noite, as ruas estavam repletas e eu, que não gosto de grandes confusões, resolvi voltar para casa. No regresso cruzei-me com um amigo, que se mostrou espantado por eu ir tão cedo para casa. Repondi que havia muita gente nas ruas. "Tens razão", disse depois de pensar um pouco," muita gente e poucas pessoas". Prefiro pessoas a gente. Desconfio sempre daquelas frases que elogiam o aprender a ser gente. Qualquer um pode aprender, até os burros aprendem se lhes enfiarem uma cenoura à frente do nariz. Há até um leque de gente para todos os gostos e serviços. Quanto a ser pessoa... Ou se é, ou não. As pessoas vão muito além, têm cara e espinha dorsal e destacam-se pela sua singularidade no meio das gentes. Eu,  pela parte que me toca cultivo as pessoas, sei que a floresta é feita de árvores e, baseado nesta constatação construo as m

se fosse eu a mandar

(Matisse-joie de vivre) 2011 Ano Novo! Os dias vão ser diferentes, o amanhecer terá diversas cores e sons e cheiros. As pessoas antes de sair, ensaiarão os sorrisos que melhor se adeqúem ao dia. Escolherão os tecidos pela textura e as cores como reflexos do dia que as espera. Ensaiarão saudações originais, consoante o fluir do momento: se for verde, suspirarão alface, se for azul retorquirão turquesa, se castanho, chocolate ou canela, se lilás, primeiro andar. Uma vez na rua, virarão as palmas das mãos aos céus e darão saltinhos de contentamento, como se fossem coelhos bebés avistando pela primeira vez a grande couve celestial. Depois circularão desordenadamente pelas artérias que cosem a cidade, como se estivessem muito ocupados. Ignorar-se-ão e cumprimentar-se-ão de forma aleatória; os cumprimentos serão efusivos e apressados.Os que forem acompanhados de interjeições, ihhh ou ohhh, ou então ahhh, serão dispensados e substituídos por rhhhhmmm, ou grrooooff, ou mihaaamm, todos eles pr