Fui beber café a uma esplanada aqui em Évora, ao meu lado um conhecido relativo. Cumprimentei e perguntei se ele estava bem na esperança de ter como resposta um inócuo vai-se andando. Nada disso. O homem começou por sorrir, um sorriso melancólico, depois, o desfiar do rosário... -Espero que não chova esta noite -Então porquê? Vai à feira? -Não! A minha companheira pôs-me na rua. Vai amanhã trabalhar para o Algarve e não me quer mais lá em casa... -Não percebo... -Pôs-me na rua e eu não tenho dinheiro. Depois de tudo o que eu fiz por ela e pelos filhos, agora que estou sem dinheiro... Rua! -Então mas não tem dinheiro para arrendar um quarto por esta noite? -Não tenho um tostão. Há sete meses que estou desempregado. Seguiu assim a conversa. Não vou fazer leituras, cada um sabe de si; conto isto apenas porque tenho a certeza que situações como esta serão cada vez mais frequentes. Podemos dizer o que quisermos, não podemos é tentar tapar o Sol com uma peneira porque ele queima na