Foi o culminar da obra de arte! 50%! Com o Espírito Santo Salgado a dizer em voz doce que tem de ser assim.
Já o Saraiva num passe de mágica resolveu deixar o habitual cinzentismo e virou-se para a"stand up comedy", com uma genial prosa acerca dos gastos e poupanças de uma classe média, descoberta vamos lá saber onde.
Entretanto o pessoal vai cantando e rindo e concordando com o massacre. A coisa ainda se passa com o vizinho do lado, ainda não chegou o esmifranço na sua plenitude. Até nem cortaram no subsídio de férias... Claro que não! nem poderiam! há que mandar o pessoal de visita à terrinha, afastá-lo dos percursos do dia a dia, dos custos do dia a dia, das discussões do dia a dia porque o dinheiro não chega... Quando regressarem a penates, aos livros para a escola dos putos, às compras do mês, as visitas ao médico, às roupas que encolhem nos corpos dos filhos que crescem, aos comprimidos para a tensão, às discussões intermináveis porque o dinheiro se sumiu, ao medo de perder o emprego porque o patrão diz que as coisas vão mal... Quando perceberem que garantias não têm, que o futuro é mais do que sombrio, que as casas serão penhoradas, os carros ficarão parados à míngua de combustível, que a electricidade aumentou, que a água aumentou, que os transportes aumentaram, que tudo aumentou, até os impostos que pagam, à excepção dos ordenados, talvez aí já não achem doce a melíflua voz do Espírito Santo Salgado, que não achem piada aos desconchavos do Saraiva, que percebam por fim as portas que Portas lhes fechou, os passos que Coelho lhes negou.
Aí perceberão que são manipulados, abusados, triturados pelos mesmos de sempre, por aqueles que há séculos estão sentados no poder, sustentados pelos Saraivas da vida. Mesmo assim duvido que se ergam e lutem. O mais provável será irem de chapéu na mão, cerviz dobrada, pedir o favor da esmola ao carrasco.
Pedir que não os façam sofrer muito, que lhes cortem a cabeça e pronto...
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