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Mensagens

A mostrar mensagens de 2010

Fronteiras

Nasce o ano de outro Que morre Em mesa de um de tudo cheia, Borbulhante, embriagada… A mesa do outro, cheia de nada… O outro, no mundo todo,   No mundo todo quase, em razia, O outro quase morre,   Ou morre mesmo todo, Em fronteira vazia, Cheia de lágrimas, Seca de tudo, Cheia de nada, Em fronteira vazia, No vazio do outro De mesa vazia Que morre Em ano que nasce De outro   Que morre… Évora, 2010-12-31 J. Rodrigues Dias  

Bom Ano

Hoje último dia do ano, venho por este meio dar um abraço a todos, abraço de solidariedade, abraço festivo, abraço para todos os gostos e necessidades, já que neste mundo ninguém caminha sozinho e os abraços servem principalmente para nos recordarmos desse facto singelo. Acho que 2011 vai ser um ano único. Representará de facto o fim do mundo, tal como o entendemos. Estes últimos anos, são a prova disso mesmo, o mundo começou a mudar e, o que dávamos por garantido nos últimos anos do século passado, hoje constitui apenas uma vaga memória. Devido às novas tecnologias da informação as distâncias foram pulverizadas. Senti isso quando acabaram com o "Concorde"; hoje o mundo percorre-se num clique... O meu vizinho é tanto o Sr Sousa da Malagueira quanto o Sr Wang de um qualquer bairro em Cantão... Estamos no início desta revolução, os lados obscuro e luminoso ainda se sobrepõem à paleta infindável deste novo cosmos, mas é para a multiplicidade que caminhamos, aos tropeções, a gat

O MONSTRO

(foto do blogue Cidadania) O monstro bateu à minha porta, primeiro de forma suave, como quem não quer a coisa, depois, cada vez mais insistente, com pancadas secas, sincopadas, à medida da sua raiva. Fiquei sentado no meu canto à espera que desistisse, mas não; o monstro não desiste nunca, é tenaz. Chegou o momento em que só o fragor das suas pancadas, aquele martelar ritmado e assustador a ressoar na minha cabeça, se fazia sentir. Pum, pum, pum, sou eu o monstro, pum, pum, deixa-me entrar, não vês que não necessito de estar junto a ti para te atormentar. Não entendes que mesmo distante te possuo a alma? Anda, deixa-me entrar, se o fizeres, se te deixares possuir, tudo terminará, não sofrerás, não sentirás, não ouvirás, não serás mais…

Feliz ano Novo para todos

Aproxima-se o Ano Novo, estou muito satisfeito com isso. Um ano novinho em folha a estrear, não é um ano zero, mas apesar de tudo é novo e tudo o que é novo festeja-se. Festeje-se então. Há que festejar a mais que provável vitória da corrupção, do compadrio, da falta de dignidade dos senhores feudais, que governam o mundo a partir das suas torres virtuais e inacessíveis. Há que festejar a ignorância, a estupidez dos acomodados, a cobardia dos que julgam que a última fatia que lhes cortaram do corpo foi mesmo a última e por isso vão morrendo de braços cruzados, contorcidos, mas a lamber a mão dos algozes. Há que festejar as nossas crianças sem escola, os nossos doentes sem cuidados de saúde, os nossos reformados, os nossos pensionistas, os nossos trabalhadores precários, a nossa justiça de pacotilha. Há que festejar a caridadezinha para que os pobres não morram de fome e de frio. Há que festejar os cinco mil milhões de euros torrados num banco privado, as parcerias público privadas, o

Espectáculo

Vinte e dois miúdos e uma bola num campo com montículos de pedras a delimitar balizas, é futebol. Vinte e dois jogadores profissionais, supervisionados por três fiscais, num estádio bem equipado, com um relvado tratado e demarcado, com balizas, com milhares de pessoas a assistir in loco, mais uns quantos milhões pela televisão e uma bola… não é futebol, é espectáculo. Um homem na Palestina, a pregar por uma sociedade menos desigual, mais justa e equilibrada, a viver no meio dos desprotegidos, dos marginalizados, dos esquecidos e a ver a sua mensagem seguida por eles e por outros e mais outros, a ser perseguido por isso e a ser condenado e morto e mesmo assim permanecer… é religião. Uma instituição poderosa, rica além do imaginável, que trata os pobres como se os possuísse, que lhes reserva a esmola da caridade e que confunde isso com solidariedade, que tem uma praça como Estado, com milhares de pessoas a assistir in loco e mais uns quantos milhões pela televisão a um homem de branco à

O asteróide

A vida que se mede, se pesa, se compara, a vida sucessiva feita de apegos, de lastros, de simbólicas conquistas, essa vida esmaga-nos com o peso do efémero, com a espuma dos dias. Abdico boamente dessa vida apenas pela eternidade de um momento, pelo vislumbre irrepetível do ser. A amizade é isso, um momento. Aquele em que dois, apenas, decidem dar as mãos. Perpétuo momento, Natal. Hoje o Pedro, um dos meus momentos: "Como as meninas na roda a brincar Unem-se as casas na rua a estreitar E quando o sol ali se enfia é um lápis Que se afia para mais rapidamente colorir o dia E já ouço a vizinha de cima a gritar ao marido: O que tu querias, o que tu querias sei eu Era que fosse uma puta como as outras!!! E há logo janelas a abrirem-se de repente As amigas usam o fio dos estendais Para comentar tudo isto muito telegraficamente." Foi-se embora o Pedro, passou por cá como um asteróide a rasgar o céu. Mas para mim é eterno.

24 de Dezembro

Feliz Natal na Paz de Cristo

Aproxima-se o Natal, já se ouvem ao longe os sinos das renas e a gargalhada estrábica do  vendedor da coca-cola . É a versão consumista da modernidade, substitui-se o gaiato Jesus pelo cota de encarnado. Desenganem-se no entanto os puristas, que a coisa não é muito diferente. Em verdade vos digo, que de facto à dois mil anos, mais ou menos, nasceu para as bandas do oriente mediterrâneo um rapaz, presumivelmente Essénio, que se viria a destacar do maralhal, pela sua intensa actividade política. Poder-se-ia afirmar sem grande receio de errar, que foi um anarquista "avant la lettre" como Pitágoras ou Gautama e muitos mais, que em tempos remotos já tinham uma visão igualitária do mundo. Teve uma vida cheia, mesmo arrebatadora. Conseguiu fazer tremer o poder, arrastou consigo multidões identificadas com a sua mensagem, magnetizadas pelo seu carisma. Foi de tal ordem o seu impacto, que foi perseguido, condenado, executado (ao que dizem) de forma exemplar. Tal homem não podia morre

Heroes

Perguntares se estou bem adianta o quê? Pergunta antes pelos pássaros Ou pelos concomitantes carreiros das formigas que preenchem o verão Ou pelo voo rasante dos peixes Pergunta-me das rochas vulcânicas Ou dos sedimentos depositados na indiferença Indaga das máscaras que compõem a alma Ou dos ramos de flores dispersos na monotonia do deserto Das nódoas de vinho Das migalhas Dos restos Das mãos que preenchem E daquelas que rasgam Tenta saber das bolas de naftalina no armário Ou das cartas quase escritas Ou das palavras quase ditas Do pó que se acumula Do sopro Do som inconfundível da campainha pascal Das procissões Das profissões Da fé das gentes. Tirando isso estou bem muito obrigado.

José Luís: Help me find José Luís

José Luís: Help me find José Luís : "My 7 year old son, José Luís Pinto de Sá, has been missing since the end of July. He was kidnapped in Évora, Portugal, by 34 year old Ana M..."

IMI - invenções, mentiras, incongruências

Tencionava na crónica de hoje, abordar o sucedido na Assembleia Municipal de sexta-feira última. Discutia-se e aprovava-se o Orçamento, debatia-se a rescisão do contrato com a empresa AdCA, havia também uma proposta do BE com vista à regulamentação do Centro de Recolha Oficial de Évora, (vulgo canil municipal) que embora certificado, não dispõe de nenhuma linha orientadora estatuída ficando assim entregue ao livre arbítrio do seu responsável. Quanto à água, assistimos a mais um chuto para a frente, o Executivo vai renegociar o contrato com a empresa responsável pela distribuição em alta e tem três meses para preparar as contas a prestar aos munícipes. O orçamento foi aprovado tranquilamente, sem grandes debates e a proposta do Bloco foi aprovada por unanimidade, já que foi elaborada para gerar consensos e servir de ponto de partida para uma gestão mais eficaz e transparente do Centro de Recolha Oficial. Fiquei assim com espaço para me debruçar sobre outra questão que tem dado muito qu

Assembleia Municipal de Évora

RECOMENDAÇÃO Criação e Aprovação do Regulamento do Centro de Recolha Oficial de Évora Na sequência dos polémicos acontecimentos registados no Centro de Recolha Oficial de Évora, Canil Municipal, tendo em conta a legislação existente que regula o funcionamento dos Centros de Recolha Oficiais (CRO) (Decretos-Lei n.º 314/2003 e n.º 315/2003, de 17 de Dezembro, e Portaria n.º 81/2002, de 24 de Janeiro) e, à semelhança do que acontece noutros municípios, nomeadamente, os de Valongo e Coimbra, consideramos urgente aprovar um regulamento de funcionamento do Centro de Recolha Oficial de Évora. De acordo com o ponto 4 do artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 314/2003, de 17 de Dezembro, a direcção e coordenação dos CRO é da responsabilidade dos Médicos Veterinários Municipais, que dependem directamente dos Presidentes de Câmara e da Direcção-Geral de Veterinária. O funcionamento dos Centros de Recolha é regulado por legislação que nos últimos anos tem sofrido alterações, no sentido aumentar o co

Um dos Marx

O sr Marx dizia para quem o quisesse ouvir, que jamais faria parte de um clube que o aceitasse como sócio. Sábias palavras. Dignas do Maio de 68, a revolução apocalíptica que encerrou a era do electrodoméstico. Entramos de rompante no tempo do faça você mesmo, cultivadores do hedonismo, anárquicos e individualistas; rompemos as grilhetas da família Silva, ponderada e apolínea, amante do aforro e do plástico, das rádio novelas e da compostura apagada da televisão a preto e branco e atiramo-nos de cabeça para o eu existencialista, ausente de determinismos, fazedor das suas próprias limitações. Ao abdicar voluntariamente da tribo, a mobilidade reentrou nos nossos hábitos, retornamos ao nomadismo; mais absolutos, abstraimo-nos das fronteiras, avezamos novas dimensões. Agora as palavras do senhor Marx (o Groucho) já não são premonitórias, estão gravadas no nosso código de barras. Assim a modos que uma Torre de Babel.

o poema é uma arma

“Se queres escrever poesia porque é que não escreves poesia? Porque é que não cantas as aves e os peixes, os ramos persistentes dos antigos carvalhos, a fúria dos elementos? Porque é que não dás voz a quem não tem dinheiro para o tabaco, à criança que vagueia pelas lixeiras…” Existe um vate em Portugal, cujo nome não refiro, que é um homem de esquerda, que apregoa solidariedades várias e que se encanta com o sorriso das crianças e por isso escreve para elas. Existem crianças que lêem os seus livros, que se deixam seduzir pelos seus poemas, que por via deles sonham com um mundo melhor. Esse filho das musas é muitas vezes convidado para se deslocar às escolas, conviver com as crianças, falar-lhes em português do português com que expressa a sua mensagem. Esteve para vir a Évora, a S. Mamede. Toda a Escola se agitou, fizeram-se desenhos, escreveram-se poemas, enfeitou-se a escola, crianças houve que fazendo anos no mesmo dia do vate, entusiasmadas escreveram sobre isso para lhe entreg

Blues

25 de Abril, 17 anos, Lisboa, Olivais De um dia para o outro tudo mudou. Mudaram as caras do poder mesmo antes que percebesse que o poder, ele próprio, tinha mudado a sua maneira de ser. As ruas cinzentas encheram-se de cor, tornaram-se festivas e as pessoas de sempre largaram as máscaras obscuras que lhes velavam os rostos e começaram a sorrir, as mulheres amanheceram bonitas e os homens soltaram os olhos do chão e pela primeira vez em muitos anos olharam em frente. A Liberdade chegou na Primavera num assomo de cheiros, e cores luminosas de sabor diferente, de toque fulminante. Ainda por cima, a Liberdade coincidiu com a minha Primavera. A partir daí só tive tempo para viver, mais nada me ocupava que não viver. Tudo era novo, até o mundo que chegava era novo. Depois fomos tropeçando nas rugas da indiferença e tudo se foi esbatendo, ficando de novo cinzento. Com homens e mulheres cinzentos, com crianças cobertas de manto cinzento, para que não se lhes apercebam as cores. Cópias cinzen

Chuva

Cai a chuva sobre a cidade Véus cinzentos cobrem a alma das gentes, é quase noite. Muitos vão para casa, outros nem tanto. Deixam-se ficar nos umbrais a ver a chuva cair, miudinha, como um manto sofrido, pensamentos entrecortados como soluços invadem-lhes a alma. Os brinquedos dos miúdos, o emprego, as prestações em atraso que se vão acumulando… Algumas alegrias contudo terão, mas são tão poucas, tão ténues, tão ensombradas pelo desencanto dos dias… Deixam-se ficar e pronto. Por cada gota que cai um sonho se perde, diluído na água que corre no sentido do mar. Por cada sonho desfeito uma vida se transforma. Deixam-se ficar a ver. O que poderiam ter sido, o que nunca serão.  O mar eterno de gotas salgadas da chuva das almas. Das gentes do meu país. Tanto mar...

De volta ao Esteves

Jantar na Trindade. Um bife de lombo com ovo a cavalo e molho à Trindade. Há muito tempo que não fazia isto. Aproveitei a reabertura do Museu de Arte Popular e concedi-me uma noite de folga em Lisboa. De seguida direitinho ao Bairro, fazer o périplo dos bares a ver se reencontro amigos, se desperto memórias, coisas pequenas, laços que não desfiz, laços que transporto pelo prazer de recordar, de os entender despidos do véu da distância... Eis-me no Esteves. Lá está o meu amigo sentado a uma mesa de canto, entretido com o jornal. A sua mulher, Felicidade (que glorioso nome) e o filho, estão atrás do balcão numa labuta aparente, mais para matar o tempo, já que o único cliente sou eu. Quedo-me a olhá-los e penso na sagrada família; provavelmente seriam assim, se José em lugar de carpinteiro tivesse uma tasca e se chamasse Esteves. Ficaram a mirar-me, olhos franzidos, como que a percorrer lembranças de tempos idos. De súbito ei-lo que salta da cadeira... "Ah grande cabrão! És mesmo t

Maravilhosa Liberdade

Outro dia, debaixo do chuveiro, fui tomado por um surpreendente pensamento, uma espécie de epifania. Projectei-me para lá da casa, para lá do planeta e do sistema solar, da galáxia, do universo e dos que lhe sucediam. Fui crescendo cada vez mais, até me reencontrar de novo no duche, com as infindas gotas de água soltas no ar e a névoa quente a envolverem-me o corpo. Fiquei sem fôlego. Será isto a condição humana? Tudo e nada, simultaneamente? Será esta capacidade de soltar amarras o verdadeiro sentido da vida? Essas múltiplas, miríficas alforrias, esses pequenos gestos, que sempre em movimento enformam a liberdade? Que lhe dão sentido? Agirmos únicos em consonância com o todo? Se assim for viver a liberdade é abraçar a utopia, ou não?

Gingle Bells

Já escrevi isto há uns tempos, mas agora que o Solstício de Inverno e as inerentes festividades estão aí à porta: Eu gosto muito do dinheiro, mas não é ele que me faz falta. Faltam-me as coisas que ele pode pagar. Comida na mesa, roupa no corpo, um tecto… Não incomoda trabalhar, fazendo aquilo que não se gosta, se por via disso se conseguir ter o que é preciso para viver, e já agora mais umas coisitas que nos façam felizes, que dêem algum sentido à vida. Até acho que tudo o que é verdadeiramente importante não tem preço. Vejo mesmo, com a minha percepção de raios X, o ridículo que se esconde por detrás de muitas máscaras de sucesso dito económico. Mas que digo eu? Ridículo? Antes trágico, tragicomédia encenada no vazio de muitas vidas aparentemente felizes. No princípio era a troca: quatro gansos por um porco. Pouco prático; o melhor é atribuir valor às coisas, acabar com as trocas e atribuir valor simbólico às conchas, são tão bonitas as conchas, ou ao sal, ou ao ouro… Porque não o O

Dia Mundial dos Direitos Humanos

Hoje celebra-se o Dia Mundial dos Direitos Humanos. Hoje é um dia especial, em todo o planeta, em todos os prostíbulos, em todas as fábricas com mão-de-obra infantil, em todos os acampamentos de refugiados, em todas as ruas sombrias de uma cidade qualquer, em todos os campos de batalha com crianças expostas ao horror de matar, ao risco de morrer; hoje vai existir alguém que sussurre aos ouvidos dos abusados: Eu sei que é difícil, mas não te preocupes, nós estamos contigo, és humano e os humanos têm direitos. Por isso criamos este dia, um dia especial; o dia mundial dos direitos humanos. Alegremo-nos porque hoje os corações das mulheres excizadas, das crianças violentadas, daqueles que são diferentes, que pensam e sentem diferente, dos idosos, dos índios da Amazónia, desse imenso exército de vítimas expostas no mundo inteiro à prepotência dos poderosos… esses corações amargurados, vão por vinte e quatro horas deixar de sentir dor e revolta e medo. Tudo graças a nós, que celebramos com

O Cavalo de Tróia

Quem controla a informação detém o poder. Eis mais um mito caído. A volubilidade do mundo actual acentua a autofagia dos impérios. Antes a grandeza territorial aliada à pouca velocidade com que a informação corria, levava a que as medidas tomadas pelo centro de decisão chegassem inadequadamente tarde. Agora pelo contrário a velocidade da informação estilhaça a dimensão do território e antecipa-se a qualquer decisão. Não há como prevenir; ou reprimem e perdem, ou entram no jogo e colaboram na reinvenção da democracia directa, a uma escala global. Uma nova cidade estado, horizontal e mais equilibrada. A Wikileaks é somente o cavalo de Tróia. Quem divulga a informação desconstrói o poder.

O nosso amigo John

Há trinta anos morreu um amigo próximo. Foi assassinado à porta de casa, na cidade que tinha escolhido para viver. quatro tiros desfechados à queima roupa e pronto, deixou de respirar. Mas para ele a morte não foi o fim. Aquele momento marcou o início da descoberta do homem, não apenas da estrela pop excêntrica que se envolvia em causas ainda tão embrionárias que só décadas depois começam a ser entendidas em toda a sua dimensão. Foi um homem que realizou serem as maiorias um resultado aritmético de muitas minorias. Viu o mundo como um todo e foi isso mesmo que cantou como se fosse um trovador a trazer notícias de um sítio distante. Falou de paz e de guerras para nos mostrar que só existe uma única paz para todas as guerras do mundo, porque a paz é libertação e as guerras grilhetas. Falou da mulher e da submissão e da indiferença por essa submissão, disse que a mulher é o negro do mundo e com essa frase abarcou o universo inteiro. Basta ouvi-lo, é essa a melhor homenagem

Filhos da puta

Existe em Évora, uma mulher que tem a seu cargo dois filhos. Um rapaz e uma rapariga. A menina, vítima de paralisia infantil, tem sérios problemas de locomoção. Esta mulher trabalha, pagam-lhe o salário mínimo. Com esse dinheiro têm de viver os três. Agora viu serem-lhe cortados alguns apoios sociais. Mudou de casa, optou por um sítio com renda ainda mais baixa. Enquanto até aqui a escola da sua filha era próxima do local de residência, agora tem de apanhar um transporte público para levar a menina às aulas. Chova, faça frio ou calor, este calvário repete-se quotidianamente. Entretanto quem legisla sentado nos gabinetes com ar condicionado, com carro do estado, com todas as mordomias obscenas pagas com o nosso dinheiro, preocupa-se com a crise, afinca-se na redução das despesas, lida com números, gráficos, projecções... Ao fim do dia vai para a sua casa, para o conforto que lhe proporcionamos com os impostos que pagamos e escreve um artigo de opinião a dizer que os portugueses,

Ezequiel Ferreyra

Este é o mundo em que vivemos: A la 1.35 hs de esta madrugada murió Ezequiel, el niño de seis años que desde los cuatro era esclavizado por la empresa Avícola, Nuestra Huella. El lunes de la semana pasada lo habían vuelto a operar, pero el tumor ya le había ocupado todo el cerebro. La corta vida de Ezequiel transcurrió la mayor parte de su tiempo entre la sangre y el guano de las gallinas y manipulando venenos con elementos cancerígenos de la empresa para cumplir a rajatabla con los topes de producción que la patronal le imponía a su familia.  Las maestras de la escuela de Ezequiel, ya habían advertido que el niño se dormía cuando iba a clase, hasta que a finales de setiembre se desmayó y fue llevado de urgencia a una clínica de Pilar. Durante semanas nadie tuvo noticias de él. La empresa prohibió terminantemente a los padres hablar del tema con sus compañeros de trabajo. Y logró la manera de modo muy simple: convenciendo a los padres que si algo le pasaba a Ezequiel ellos serían penal