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a crise a família e a psiquiatria social


Fui beber café a uma esplanada aqui em Évora, ao meu lado um conhecido relativo. Cumprimentei e perguntei se ele estava bem na esperança de ter como resposta um inócuo vai-se andando. Nada disso. O homem começou por sorrir, um sorriso melancólico, depois, o desfiar do rosário...
-Espero que não chova esta noite
-Então porquê? Vai à feira?
-Não! A minha companheira pôs-me na rua. Vai amanhã trabalhar para o Algarve e não me quer mais lá em casa...
-Não percebo...
-Pôs-me na rua e eu não tenho dinheiro. Depois de tudo o que eu fiz por ela e pelos filhos, agora que estou sem dinheiro... Rua!
-Então mas não tem dinheiro para arrendar um quarto por esta noite?
-Não tenho um tostão. Há sete meses que estou desempregado.
Seguiu assim a conversa. Não vou fazer leituras, cada um sabe de si; conto isto apenas porque tenho a certeza que situações como esta serão cada vez mais frequentes. Podemos dizer o que quisermos, não podemos é tentar tapar o Sol com uma peneira porque ele queima na mesma. A ideia de sucesso económico, de dignificação através do trabalho, leva a isto. As pessoas não foram feitas apenas para trabalhar! Senão bastar-lhes-ia uma memória incipiente e um polegar oponível. As pessoas foram feitas para criar, produzir, gerar. Reduzir isto a trabalho é negar a sua humanidade.
Em pleno séc. XXI com tantas possibilidades, tantas e tão deslumbrantes robóticas maquinetas, capazes de fazer milhentos trabalhos, aposta-se ainda naquela máxima de quem não trabuca não manduca. aumenta-se a idade da reforma, reduzem-se apoios sociais... Para que serve então o progresso? Para que se ultrapassaram tantas barreiras?
Tudo mudou excepto essa delirante ideia do que é meu é meu e o que é teu é teu. Mesmo que o que é meu seja tudo e o que é teu seja apenas a submissão à minha vontade.
Quando não há pão, toda a gente ralha e ninguém tem razão...
Haver pão... há! só que...
Agora gostaria de fazer uma pergunta inocente: o que destruirá mais a família? o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou esta miséria sem sentido que nos impõem?

Comentários

  1. Toda a gente se esqueceu que para além de outras coisas, até mais importantes, a família é um conjunto de pessoas que contribuem para um mesmo pote. Às vezes uns contribuíem mais que outros mas possívelmente daí a uns dez anos são os uns que contríbuem menos que os outros. Às vezes só contríbuem uns e os outros contríbuem com tempo para determinadas tarefas. A tal economia doméstica das donas de casa nos anos 50 que concerteza ajudou a criar muitos de nós! A base é o compromisso, os objectivos comuns e a comunicação! O que se vê agora é que afinal os objectivos não eram iguais, a comunicação não tinha sucesso e os compromissos não se estipulavam! Pois afinal havia sempre dinheiro para a televisão da moda, para o iphone, para o carro da marca, para a roupinha jeitosa com os ícones que mostram riqueza e estavam todos felizes sem se questionarem... Agora é tempo de definir tudo do zero. É pena é que a base seja olho por olho, dente por dente. Já noto isso desde algum tempo. Até fiz experiências com pessoas que fiquei na dúvida se afinal eram tão amigas assim... O tema dinheiro mostra sempre do que é que as pessoas são feitas!!! Bem haja!

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