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A historia da Girafa sem Pescoço



Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África.
Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz.
Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado.
Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim.
Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai.
Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua melancolia.
Todas as noites, antes de adormecer, olhava para as estrelas e expressava um desejo. A girafinha queria ter voz, tal como os seus amigos. Se calhar por ser tão forte o desejo, uma bela noite apareceu-lhe embrulhado num sonho, o seu espírito protector.
- Olá amiguinha, que descontentamento é esse que trazes sempre contigo? Perguntou-lhe o espírito com ar trocista.
 Ela ainda embasbacada com tal visita, respondeu-lhe que a causa da sua tristeza era não poder falar tal como todos os animais que conhecia.
- Mas quem és tu? Perguntou depois de passado o espanto.
- Eu sou o teu espírito protector, e posso dar-te voz, se assim quiseres.
- Claro que quero! Exclamou toda entusiasmada.
- Só que existe um pequeno problema, para que consigas falar, terás de perder o teu pescoço…
- Não me importo! Respondeu excitada, não me importo mesmo nada.
- Tens a certeza?
- Sim sim, claro que tenho! O que quero é poder falar, como todos os meus amigos.
- Então assim seja, quando acordares já poderás falar.
Foi mesmo isso que aconteceu, quando acordou na manhã seguinte, reparou que já não tinha o longo pescoço que a tornava tão elegante. Cheia de entusiasmo abriu logo a boca, e, espanto dos espantos, conseguiu falar.
Toda lampeira, foi instalar-se à sombra de uma árvore onde estava o leopardo e começou a conversar com ele. Ao princípio o bom do leopardo ainda teve paciência para a ouvir, mas a girafa falava tanto e tão depressa, que ele cansado de a aturar, inventou uma desculpa esfarrapada e fugiu dali para fora já com a cabeça à roda de tanta conversa.
O mesmo se passou com todos os animais que com ela se iam cruzando.
Entretanto, a nossa girafa de tão animada que estava por conseguir falar, nem percebeu o quanto é aborrecido falar, falar e falar, sem sequer deixar que os outros possam responder às nossas questões.
Por essa altura, já toda a savana sabia o que tinha acontecido e todos os animais fugiam da girafa sem pescoço, com medo que ela metesse conversa.
Foi então que a tagarela ficou com fome, toda senhora do seu nariz, dirigiu-se a uma árvore para comer as suas folhas tenrinhas, mas quando lá chegou, percebeu que por mais que esticasse o seu pequeno pescoço, não conseguia chegar às ditas. Esfomeada foi ter com o elefante.
- Elefante, tu és tão grande e forte que bem podias pegar em mim para eu comer umas folhinhas lá no cimo da árvore.
Mas o elefante mandou-a passear dizendo que não era seu criado para andar consigo ao colo.
A zebra que estava por perto e tinha ouvido toda a conversa, ainda lhe disse para fazer como ela e comer as ervas que cresciam no chão, mas a girafa, que tinha umas pernas muito altas, por mais que se esforçasse, não conseguia curvar-se o suficiente para chegar com a cabeça às ervas.
Quando já desesperada chorava a sua triste sina, o macaco, pendurado no ramo de uma árvore mandou-a pedir ajuda ao leão, afinal ele é o rei dos animais, se alguém a podia ajudar, esse alguém seria o Leão.
A boa da girafa assim fez, foi ter com o leão e contou-lhe toda a história, mas falou tanto, tanto, que o Leão furioso, lhe disse:
- Sai já daqui senão eu corto-te aos pedacinhos e não é só sem o pescoço que tu ficas!
A girafa cheia de medo, fugiu dali a sete pés, correu, correu, correu e de tão cansada que estava, logo adormeceu à sombra de uma árvore frondosa.
Quando acordou, o seu belo e longo pescoço tinha voltado e ela sem saber se tudo tinha sido fruto da sua imaginação aprendeu a lição. Nunca mais pensou sequer em ser outra que não uma bela e elegante girafa na savana, em África…
Mas lá que dizer umas palavritas de vez em quando seria muito bom, ai isso seria…


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