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A dor insepulcrável

Diz o Presidente da Câmara que melhor fora as forças da oposição terem-se coligado para o sufrágio de 11 de Outubro, do que se coligarem agora para inviabilizar a sua gestão.
À primeira vista seríamos levados a pensar ser este o novo "franchising" do PS.
- Chegou a vitimização à nossa cidade, visite o novo espaço bem perto de si, na Praça do Sertório...
Mas, se atentarmos bem, a coisa tem um sentido bem mais profundo.
Existem qualitativamente duas espécies de votos, a primeira engloba os votos no partido detentor do poder executivo, é a espécie "golden" e os seus detentores têm garantida por um período de quatro anos a gestão  discricionária da "coisa pública". A segunda, a espécie "standard", abarca todos os outros votos e os seus detentores têm o direito de ouvir e concordar, ou então, caso não concordem, têm o dever de calar.
O raciocínio até seria interessante se as suas premissas não estivessem ligeiramente distorcidas, é que na realidade todos os votos são iguais e não há, pelo menos que se saiba, votos mais iguais do que os outros. Assim sendo, seria de todo incompreensível que as forças da oposição, num arrebatado gesto de despojo, ignorassem o programa para que foram mandatadas e sem delongas dessem o seu ámen a propostas que de todo se diferenciam das suas.
A coincidência de opiniões só demonstra que as questões debatidas e votadas são temas transversais, que exigem "sensibilidade e bom senso",  pelos vistos  prática comum na oposição e pontual no executivo do PS.
Por vezes esta convivência democrática, provoca uma "dor insepulcrável" em quem detém o poder (efémero, como se sabe). Uma dor sem fim, uma mágoa que não se enterra...   

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