Avançar para o conteúdo principal

O País e as Pessoas



O país são as pessoas, eis a verdade que muitos insistem em ignorar.  As pessoas não são números, não se resumem a dados estatísticos mais ou menos arranjados, mais ou menos organizados. As pessoas sentem e sofrem, têm aspirações, sonhos a cumprir, têm filhos, família, ficam doentes, têm necessidades. As pessoas nascem e vivem e morrem! Os números não. Os números são símbolos.
A crise actual é um espelho desta verdade. Alguém que num gabinete qualquer insiste em transformar as pessoas em números, para salvar os números que criou a fim de melhor controlar as pessoas. Ou seja: um homem que pelo seu trabalho aufere o salário mínimo, com quatro filhos e mulher desempregada, com renda de casa para pagar, mais luz, mais água, mais electricidade, mais impostos, directos e indirectos, para os senhores dos gabinetes é alguém que vive abaixo do limiar da pobreza, na realidade é uma pessoa desesperada.
Um velho que recebe uma pensão de duas centenas de Euros, que vive isolado, sem apoios sociais dignos, sem dinheiro para pagar os medicamentos, sem transporte gratuito para centros de saúde que distam dezenas de quilómetros da sua casa… para os senhores dos gabinetes é um sénior, na realidade, é uma vergonha.
Os mercados, as agências de notação financeira, a banca, trabalham com números, as pessoas sofrem na pele a crueza da verdade.
Poder-se-ia dizer que estando todos no mesmo barco, todos teremos de suportar por igual medida as soluções impostas pelos tais gabinetes. Mas isso não é verdade. Não estamos todos no mesmo barco, não suportamos todos a canga. Alguns de nós sim! Os outros…
Os outros beneficiam com isso, sobrevivem disso, fazem da austeridade a sua fortuna.
Metem-nos medo com as penas do inferno, para poderem continuar a viver próximos do céu.
Quando as agências de notação financeira, que trabalham para os especuladores, principais responsáveis por esta crise, nos colocam numa posição abaixo do Egipto, que vive uma revolução, que não tem um governo que possa ser apelidado de tal, a pergunta que se impõe é: será que tudo isto é para ser levado a sério? Não será melhor agarrar numa vassoura e levar tudo a eito? Umas vezes com a escova, outras tantas com o cabo?
Pagar a dívida sim, sem dúvida, mas primeiro nós, as pessoas e só depois os números.
Termino como comecei: As pessoas nascem e vivem e morrem, os números não! São símbolos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Viva a globalização II

WILSON from Arnaud Bouquet on Vimeo . Vou postar todos os dias um video com lágrimas. Um video do absurdo e da estupidez. Um video da insanidade deste mundo que habitamos. Da esquizofrenia global. Da imensa tristeza de habitar tal espaço...

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...