Nós portugueses, não
temos um Presidente da República, temos em seu lugar uma sombra, uma
virtualidade.
Em Belém habita uma
figura sinistra e deplorável, um não cidadão.
Um Presidente é um
político, um homem de ideias, com pensamento consistente, com obra.
Porque só com obra um
homem se expõe, só com obra ele existe, e quando existe, existe também a coragem
de ser, a rectidão de afirmar, de ultrapassar as suas fronteiras e assumir a
tarefa que lhe puseram nas mãos, que lhe confiaram. Contra ventos e marés,
contra os seus próprios interesses ocasionais, porque um Presidente é um
símbolo, um garante da cidadania, uma luz, uma referência.
Em Portugal em vez de
um Presidente, temos um capataz, um ordenança, um sempre em pé, especializado
na esquiva dos ventos, aprestado em servir quem lhe paga, quem o deixa aparecer
em bicos de pés num rodapé obscuro de um livro que ninguém quer ler.
Eis o homem na sua
infame pequenez, o sacrificado, aquele que abdica de putativos ganhos para se
dedicar à causa pública, mesmo que ninguém entenda que causa será essa que o
leva a virar costas ao povo, a mentir, a defraudar os ingénuos que se deixaram
levar pelo seu ar hierático e a sua
postura de mestre escola a ensinar inúteis banalidades, a verter lugares
comuns, a fingir rectidão e honestidade, vestido de noite, corvo servo de
corvos, nascido na noite fascista, resistente à luz da liberdade, juiz em causa
própria, mistificador de uma democracia, em que o povo não tem lugar, porque
ela, essa democracia de pacotilha, é criada e limada e empacotada pelos seus
donos, é uma democracia que se compra, porque só pode comportar aqueles que se
vendem.
Os outros ficam de
fora, os felas, os intocáveis, os deserdados, o POVO!
Comentários
Enviar um comentário