Diz o PM que o
programa eleitoral do PSD continha tudo o que foi acordado com a Troika e mais
umas quantas medidas avulsas. Não terá sido assim; o programa foi copiado do
memorando e viu depois uns tantos acrescentos, apenas para que se pudesse
distinguir dos programas do PS e do CDS, que por sua vez também eram o acordo
quase ipsis verbis, apenas com uns retoques para lhes conferir uma
originalidade que não possuíam.
Durante a campanha foi
dito e jurado que não existiria outra alternativa para Portugal, que se não
existisse o acordo e os subsequentes fundos de resgate, o país sucumbiria a uma
inevitável bancarrota e que isso, só por si, justificava plenamente a abdicação
de grande parcela da nossa soberania e a austeridade cega que o pacto implicaria.
A quem não concordou e
alertou para o futuro sombrio, foi colado um rótulo de irresponsabilidade, um
labéu de traição.
Assumiu-se que uma
renegociação da dívida seria a total perda de credibilidade internacional e que
mais do que isso, os fundos de resgate e as reformas a aplicar seriam mais do
que suficientes para nos tirar do atoleiro. Já na altura se sabia que não era
assim, que o único objectivo do resgate era o pagamento da dívida,
independentemente das consequências para os portugueses.
Falou-se então da
imagem de coesão nacional, da determinação colectiva de superar a crise pela
via da austeridade, a única que convinha aos credores.
Sabiam bem os
defensores de tal política que a renegociação seria inevitável, e que a nossa
posição, chegada a altura de o fazer, estaria muito mais fragilizada do que à
época.
Num passe de chico-espertice
quiseram fazer-nos crer que os credores não sabiam disso, que estavam de boa fé
e que se nós falássemos mais alto do que a surdina dos submissos eles se
zangariam e não nos emprestariam o dinheiro. Era vital passar uma imagem de
confiança, mas não foi de confiança a imagem que passamos, foi antes de
submissão cega aos desígnios que nos foram impostos.
Mais de meio anos se
passou, a austeridade sucedeu à austeridade, e estamos incomparavelmente pior
hoje do que estávamos aquando das eleições. Muitas vozes insuspeitas se
levantaram entretanto para repudiar este atentado à economia europeia. Enquanto
isso os credores vêem os proventos crescer e vão impondo a seu bel prazer a indigência
às economias mais frágeis; e o que faz o governo? Continua com o mesmo
discurso! Não podemos exigir a renegociação da dívida porque isso é mau para a
nossa imagem, claro que vamos ter de a renegociar, mas até lá fingimos que os
credores são estúpidos, que o povo é desatento e vamos insistindo até que o
país fique submerso na miséria, até que esteja de tal forma na penúria que a
renegociação se transformará inevitavelmente num pontapé nos fundilhos e na
saída do euro para ficarmos entregues à nossa sorte, tal como a Grécia.
É claro que existem os
comentadores do costume que dizem fazer o governo muito bem, porque embora
todos saibam que esta dívida é impagável, o governo tem de fingir que não sabe,
tem de aceitar que os credores finjam que não sabem, tem de impor ao povo que
sofra com isso, só porque sim, porque a sua cartilha assim o exige.
Entretanto ouvi dizer
que há para aí um Presidente da República, que é o pior de todos os Presidentes
da 1ª e 2ª Repúblicas, a encolher os ombros e assobiar para o ar, mas que vai dizendo umas larachas que os seus
assessores desdizem.
Esta merda vai mesmo
ao fundo! Ai vai vai.
(imagem daqui)
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