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Ruínas


Esta cidade poderia ser uma festa.
Ainda é "Património Mundial", o edificado ainda está de pé, apesar de tudo.
Ainda tem uma Universidade.
Ainda tem gente.
Ainda tem admiradores, que à distancia a consideram uma cidade modelar.
Terá mesmo cidadãos que se batem por ela e se recusam a baixar os braços, que não aceitam o fim anunciado.
Mas a realidade, pura e dura, é bem diferente do oásis que alguns pretendem vender.
O lixo acumula-se nas ruas, os edifícios do Centro Histórico degradam-se a cada dia que passa, sem que alguém tente sequer pôr cobro a essa ruína crescente.
A Universidade e a Autarquia apesar das declarações de amor eterno, vivem de costas voltadas.
A Cultura sobrevive do esforço de privados, que fazem das tripas coração para que se não perca definitivamente o pouco apetite que resta (neste apagado desencanto), por alguma coisa que fuja da norma massificadora do enlatado, ou do pacote instantâneo.
As escolas vão fechando, consequência de uma visão economicista do mundo, esquecendo que a Economia existe para servir as pessoas e não para as escravizar.
A saúde, a justiça são miragens para o comum dos cidadãos, para aqueles que ganham um salário médio, que trabalham o dia inteiro, que só vêem os filhos na hora da deita e do despertar.
A cidade "Património Mundial" não tem acessibilidades dignas desse nome, não tem infraestruturas desportivas, não tem cinemas, tem um Teatro - que é uma jóia arquitectónica - votado ao semi-abandono.
Tem ervas a crescer nas ruas, ou no meio do lixo que se amontoa, tem um comércio do séc. passado, com horários completamente desfasados das actuais necessidades, tem turistas perdidos nas ruas desertas, tem continuas crises de abastecimento e de qualidade na água, tem asfalto onde deveria ter zonas pedonais e caminhos de cabras onde deveria ter vias que libertassem o transito.
Tem uma edilidade hermética que se julga dona da polis e que decide nas costas do povo o que ao povo diz respeito.
A capital de Distrito não tem comboio, mas ao que parece vai ter uma fábrica de aviões, a capital de distrito vai tendo cada vez menos desempregados, não porque se crie emprego, mas porque as pessoas fogem.
Sim, fogem dela como o diabo da cruz.
Já teve umbigo e coluna, agora tem uma punção e uma vareta, que se verga ao sabor dos ventos expelidos por Lisboa.
Até já foi capital do reino, mas isso foi noutros tempos, bem distantes por sinal.
As pessoas estão anestesiadas e culpam os ciganos e a má sorte e alguns que se insurgem.
E lá vão andando, as pessoas, entre as ervas e o lixo e as ruínas e o sono letárgico de nada fazer; não porque não possam.
Mas porque já esqueceram...

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