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As Ruínas do Castelo



Os desígnios insondáveis da vida trouxeram-me até Évora.
Quando surgiu a oportunidade de vir não hesitei, sempre vi esta cidade como um espaço de cultura, um bastião de tradição e de criatividade, uma zona de confluência de saberes e de veres, consequência da Universidade e da condição de cidade património mundial. Uma jóia a rematar a obra de arte que é o Alentejo.
Évora é para mim e para muitos que como eu a amam, uma cidade sem tempo, cerzida durante milénios pelas mãos atentas de diversas culturas, pelo olhar melancólico das gentes da planície.
Os sons e os sabores e os saberes populares entrelaçados na erudição e no estudo de homens como Resende e como frei Manuel do Cenáculo e tantos outros e outras. É a capital do Pelicano, esse rei que o foi de facto e que a partir daqui deu novos mundos ao mundo, que pariu o Renascimento Português, o renascimento do nónio, das cartas de marear, da medicina, da matemática, do aproveitamento das coisas do mundo, da síntese.
Vim de braços abertos, cheguei e integrei-me, de início não foi fácil, os Alentejanos são gente reservada. Recebem de forma polida, hospitaleira, mas precisam de conhecer e isso leva tempo; já foram usados demasiadas vezes para entregarem a chave da amizade nas primícias…
Mas quando entregam fazem-no de alma e sem reservas e é isso que eu sinto, que estou prestes a recebê-la. É um bom sentimento.
Amo esta cidade! Tenho pena que as coisas estejam como estão. Pessoas de costas voltadas, contemplando umbigos, medindo o tamanho dos passos alheios e a cidade a degradar-se entregue ao abandono, asfixiada pela indigência de um poder autista, perdido no desvario de uma inexplicável fuga para a frente, como se todos os outros fossem inimigos, sem soluções, apenas com a vontade de os derrubar como móbil das suas acções.
Em vez do debate o confronto, em lugar do esforço comum, a eliminação dos oponentes, em lugar das acções o vazio…
É pena, é doloroso de assistir. Como é que num Concelho com pouco mais de cinquenta mil habitantes se cruzem apenas as pessoas, nunca as ideias?
Será o poder assim tão viciante?
Será que o medo de o perder é tanto, que lhes impede o convívio com quem os elegeu e a quem têm de prestar contas?
Custa assim tanto trabalhar com os outros? Abrir as janelas, Arejar a casa?

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