Estou assim a modos que estupefacto.
Porquê? Perguntar-me-ão.
Eu explico. No passado dia 10 de Março foi rejeitada uma Moção de Censura ao governo pelo nosso estimável Parlamento. Disseram os senhores deputados com ar sério e compungido, que, apesar do governo governar mal, que apesar da maioria dos portugueses estarem a suportar privações abrasadoras, de não bater a bota com a perdigota nos dados fornecidos pelos excelsos ministros… se a dita Moção fosse aprovada seria o caos, o fim do mundo, o mais aterrador dos pântanos, porque os nossos credores, os senhores mercados e os países do centro da Europa, aqueles das duas guerras mundiais, deixariam cair a espada de Dâmocles no macio cocuruto da nossa soberania.
Quem aprovasse tal moção seria não só incauto, mas pai de toda a irresponsabilidade, co-responsável, por tudo de mau que nos viesse a acontecer, co-autor do Inferno na terra.
Há que aguentar! Gritaram estóicos, há que passar uma imagem de coesão, argumentaram sibilinos. Quando se precipita a queda de um governo, mesmo que péssimo há que apresentar alternativa, gemeram desconfortáveis.
Ainda houve alguém que sugerisse ser tamanha indignação fruto de estratégias eleitoralistas ou de desmedido apego ao poder… Que não! Juraram em uníssono os consignados, apenas o interesse nacional lhes norteia os actos.
Afinal um acordo existe e os acordos, como todos bem sabem, são para ser respeitados, assim o impõe a honra.
Ouviu o cônsul tais palavras e zás! Negoceia medidas ainda mais duras com os prestamistas, sem passar cavaco aos demais… Quando se aperceberam de tamanho desconchavo, deitaram as mãos à cabeça, rasgaram as vestes em sinal de luto, juraram desforra de tamanha traição e apressaram-se a dizer que jamais tolerariam tamanho desaforo.
“Então está bem” respondeu o timoneiro de serviço, “se não aprovarem as medidas propostas, eu demito-me”.
Logo a seguir os usurários depois de esfregarem as mãos de contentes, cairam-nos em cima. O Praetor Maximus ainda não se pronunciou, os senadores estão numa briga pegada e já ninguém se entende. Afinal o que é feito da tal estabilidade? Da muito amada responsabilidade.
Se eu não tivesse ouvido que apenas o interesse nacional os move, diria que já estão a contar espingardas para as próximas eleições…
Estes romanos são loucos, eu continuo estupefacto.
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