Avançar para o conteúdo principal

O Funeral


Hoje vou a um funeral; um homem que mal conheci suicidou-se.
Vivia só, entregue ao alcoolismo, sem emprego, sem perspectivas de vida. Não era velho, tinha quarenta e oito anos e, apesar de viver só, tinha família, filhos, irmão, mãe, parentes… talvez até tivesse amigos, quem sabe?
O que o levou a pôr fim à vida? Talvez a própria vida… ou que fez dela, ou ainda o que lhe não permitiram fazer dela.
Não tinha dinheiro para pagar a renda de casa, uma ordem de despejo estava prestes a ser executada e ele não resistiu. Corda ao pescoço e pronto. Tudo acabou para si.
Tão previsível, tão enquadrável, tão desresponsabilizante para todos os que ficam…
Será que apenas os mais fortes, os mais integrados, os menos passivos, têm espaço nesta sociedade?
Não será esta vida encerrada, feita de contínuas desistências, um grito de revolta? Uma chamada de atenção? Uma solitária manifestação de desengano?
Nasceu, teve mãe e pai e amor e filhos. Será que o álcool foi apenas opção ou fraqueza? A incapacidade de se manter no emprego e as constantes tibiezas que lhe enformaram o carácter, foram sua exclusiva responsabilidade?
Porque é que todos temos de ser aptos? Porquê?
Como poderemos nós aspirar a uma sociedade mais justa, mais livre, mais igual, se não entendermos a precariedade das nossa vidas? Essa absoluta precariedade que nos leva a dividir o mundo entre formigas e cigarras e a esquecer o vento que passa por todos e que repassa por não ter norte nem sul.
Nada na vida se garante a não ser a incerteza.
Temos muito a mudar se queremos ser melhores…

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Viva a globalização II

WILSON from Arnaud Bouquet on Vimeo . Vou postar todos os dias um video com lágrimas. Um video do absurdo e da estupidez. Um video da insanidade deste mundo que habitamos. Da esquizofrenia global. Da imensa tristeza de habitar tal espaço...

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua melanco