Avançar para o conteúdo principal

Catrapuz Lá Caiu o Governo



Ao que parece caiu o governo. Catrapuz!
Elaboram-se cenários, afiam-se os votos, dá-se brilho às urnas. As faixas que vão decorar a taça já estão encomendadas, serão cor de laranja, mas, por via das dúvidas, mandaram-se fazer também umas cor-de-rosa, não vá o diabo tecê-las.
Está tudo pronto, nas diferentes sedes engomam-se as bandeiras, contam-se os emblemas e as esferográficas, dobram-se as camisetas de manga curta, retocam-se programas, ensaiam-se apertos de mão, treinam-se sorrisos ao espelho.
Há um clamor geral a perpassar da rua para as sacristias: “agora é que é! Chegou a hora da luta! Vamos mudar esta merda! Vamos todos votar! Vamos reduzir a abstenção a uma expressão ínfima!”
O nosso futuro - pensa-se - está nas nossas mãos, impresso num rectângulo de papel que se enfia numa ranhura e pronto…
Eu estou de todo renitente, mesmo espantado, até porque, sei que a esquerda tem tantas hipótese de chegar ao poder através do voto, quanto um cidadão anónimo levar com uma cagadela de pombo na cabeça, num estádio da luz repleto até ao cruto.
Entretanto, longe daqui, na floresta negra, alguém se ri e esfrega as mãos de contente; finalmente vão conseguir encavar mais um país da periferia, acabou-se o teatro, tudo se tornou mais simples.
Eu pessoalmente quero que o fmi e as agencias de notação e os usurários de merda, vão dar uma volta ao bilhar grande. Acho mesmo que os especuladores e os donos da massa, só têm uma bandeira, a do lucro, acho também que a pátria dos trabalhadores são os seus direitos, falem eles português ou mandarim ou ovimbundo ou outra língua qualquer.
Fazem-se manifestações com hora marcada e greves com data aprazada, debitam-se redondos e retóricos discursos, mas não se passa daí.
A luta ganha-se na rua, à traulitada se necessário for, tal como o caminho se faz caminhando, ninguém pergunta aos pensionistas o que pensam dos cortes nas suas pensões, nem aos trabalhadores se concordam com a redução da massa salarial, nem aos desempregados se aceitam a retirada dos subsídios de desemprego, fazem-no e pronto.
Porque é que as greves não podem ser selvagens? Têm de ser civilizadas?
“Queira desculpar… mas nós os trabalhadores desta empresa gostaríamos de fazer greve no dia tantos de tal, acha que a confederação patronal não vê inconveniente nisso? Ah! Já agora sem querer abusar vamos também manifestar-nos à porta de sua casa, pode ser às quatro da tarde?”
Caiu o governo, e vai outro para o seu lugar e esse cairá também e assim sucessivamente até haver povo para esmifrar.
Há alturas em que o voto se faz na rua lutando, fazendo um manguito, boicotando, espetando alfinetes nos balões do mercado, pegando fogo aos tigres de papel.
De boas eleições está o inferno cheio!

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Os cães no Santuário de Fátima

Continuem a fechar os olhos...  Ju Carvalheiro O ESCANDALO do Santuário de Fátima em relação ao abate de animais é conhecido de muitos, mas ninguêm ainda conseguiu parar esta crueldade . As ordens partem da Reitoria do Santuário, para que todos os cães que aparecem por Fátima, quer sejam adultos ou cachorros, quer tenham donos ou não, são capturados pelos seguranças e colocados na caixa que apresentamos em foto. Esta caixa está mesmo nas traseiras do santuário, no local das oficinas. Ali ficam os cães durante algumas semanas, ao frio e á chuva de Inverno, á chapa do sol, no Verão. Sem direito a comida ou água, num espaço minimo onde a maioria nem se consegue colocar de pé... Existem alguns seguranças que não levam os cães capturados para este local, conseguem levar alguns para casa e adoptam-nos ou arranjam donos entre os seus vizinhos ou cologas de trabalho. Boa gente esta que sofre em ver os animais assim tratados, mas que se sente impotente com a ameaça de perderem os seus...

Abril dos meus encantos

Amanhã 25 de Abril Para muitos é uma data de calendário, um dia que foi e que se celebra por ter sido. Um marco a definir o antes e o depois. Antes a bruma medieval do fascismo do Estado Novo que se tornou velho, depois a Democracia, os cravos, o povo unido, o folclore produzido por aqueles que sendo passageiros do antes, tentaram impor de todas as formas o regresso às trevas da oligarquia que nos dominava. Para mim 25 de Abril será sempre o de 1974, quando eu tinha dezassete anos e encarava o mundo como um campo por lavrar, um imenso campo onde todo povo coubesse, uma lavra que por ser de todos não seria nunca de ninguém. Tinha então dezassete anos... Fui para o Carmo e andei pelas ruas e cantei e bailei e festejei antecipadamente o meu direito a errar, porque errar significa optar e optar é poder corrigir o erro. Desses tempos um ensinamento me ficou, uma mensagem de Abril, talvez a mais importante. Não há que ter medo! o medo é o pior inimigo do sonho, o medo tolhe, o medo s...