Avançar para o conteúdo principal

Sporting a vítima do neo-liberalismo recorre ao FMI



Hoje vou falar do meu Sporting. Para dizer a verdade, se bem que goste de futebol e de assistir a espectáculos de cariz desportivo, o que me move nestas andanças catárticas é a sensação de pertencer a uma tribo.
Sou verde, o meu pai é verde, já o meu avô era verde e faço tudo para que a minha prole seja verde. Respeito sem interferências as opções estéticas, como respeitarei, quando chegar a hora, as afectivas, as políticas, as sexuais dos meus filhos e filhas… não suporto é que eles se abriguem à sombra de outra bandeira desportiva, que não a do Sporting. Isso é que não! Isso, caso venha a acontecer, será fonte de extremo desencanto e levar-me-á sem dúvida a interrogar-me onde terei falhado…
Para mim assistir a um jogo em que os gladiadores da minha tribo defrontam os de uma tribo rival, é como ritualizar as Termópilas, fazer por breves minutos parte da história comum de dois grupos mais do que antagónicos, absolutamente inconciliáveis, sem síntese possível.
Num estádio, todos os conceitos de carácter social, todas as barreiras, sejam económicas, ou de formação, ou religiosas, políticas, de género, enfim… todas elas se esbatem na sobre valência da cor tribal, no meu caso o verde.
Claro que não é comum ver um homem rico abraçado a um pé-descalço, porque os ingressos têm custos diferentes e isso ajuda a salvaguardar as distancias entre ambos, mas, quer um quer outro festejam a vitória e suportam o amargo da derrota, como se das suas vitórias e derrotas se tratasse.
Há um pacto de boa-fé que leva todos a sobrepor os valores do clube aos seus interesses particulares. Tenha a agremiação nascido de uma tertúlia numa barbearia de bairro ou de um chá dançante num palácio qualquer.
Existia até a tradição da carolice, esse mecenato desprovido de segundas intenções, que levava a que os dirigentes disponibilizassem capitais próprios para elevar a grandeza do clube, ficando não raras vezes em maus lençóis quando as coisas davam para o torto.
Hoje em dia porém, com o advento das SAD, as coisas não se passam assim. Os clubes não passam de ornamento ou pior de biombos, para transacções menos claras, executadas por quadros contratados, que têm desta festa tribal sublimadora de tensões, uma visão meramente empresarial.
Os jogadores são activos em vez de símbolos, os estádios passaram a recintos e os adeptos são espectadores, não parte do espectáculo.
Daí a sujeitar os clubes aos interesses da banca e de “investidores sem rosto” foi um passo.
No caso do meu Sporting, a receita aplicada foi a neo-liberal. Cortar nas despesas, vender activos, abrir as portas à participação de terceiros, queimar gorduras…
Perdeu-se a participação dos sócios, esfumou-se o prestígio do clube, sem investimento, a prestação da equipa degradou-se descendo para patamares inaceitáveis e os “activos” saídos da formação foram desviados para os concorrentes directos, muito por causa da necessidade de realizar capital, não para investir, mas para satisfazer os juros da dívida, para acalmar os mercados…
Está assim o SCP, completamente nas mãos da banca em vésperas de eleições, enfiado num buraco sem fundo e à mercê de qualquer especulador que o queira comprar ao preço da uva mijona.
Não é de estranhar, um clube com Santana Lopes, Durão Barroso, Horta e Costa e outros do mesmo calibre, só poderia mesmo ser uma deriva neo-liberal.
Chama-se Sporting Clube de Portugal, se calhar é por isso por ser de Portugal…

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Os cães no Santuário de Fátima

Continuem a fechar os olhos...  Ju Carvalheiro O ESCANDALO do Santuário de Fátima em relação ao abate de animais é conhecido de muitos, mas ninguêm ainda conseguiu parar esta crueldade . As ordens partem da Reitoria do Santuário, para que todos os cães que aparecem por Fátima, quer sejam adultos ou cachorros, quer tenham donos ou não, são capturados pelos seguranças e colocados na caixa que apresentamos em foto. Esta caixa está mesmo nas traseiras do santuário, no local das oficinas. Ali ficam os cães durante algumas semanas, ao frio e á chuva de Inverno, á chapa do sol, no Verão. Sem direito a comida ou água, num espaço minimo onde a maioria nem se consegue colocar de pé... Existem alguns seguranças que não levam os cães capturados para este local, conseguem levar alguns para casa e adoptam-nos ou arranjam donos entre os seus vizinhos ou cologas de trabalho. Boa gente esta que sofre em ver os animais assim tratados, mas que se sente impotente com a ameaça de perderem os seus...

Abril dos meus encantos

Amanhã 25 de Abril Para muitos é uma data de calendário, um dia que foi e que se celebra por ter sido. Um marco a definir o antes e o depois. Antes a bruma medieval do fascismo do Estado Novo que se tornou velho, depois a Democracia, os cravos, o povo unido, o folclore produzido por aqueles que sendo passageiros do antes, tentaram impor de todas as formas o regresso às trevas da oligarquia que nos dominava. Para mim 25 de Abril será sempre o de 1974, quando eu tinha dezassete anos e encarava o mundo como um campo por lavrar, um imenso campo onde todo povo coubesse, uma lavra que por ser de todos não seria nunca de ninguém. Tinha então dezassete anos... Fui para o Carmo e andei pelas ruas e cantei e bailei e festejei antecipadamente o meu direito a errar, porque errar significa optar e optar é poder corrigir o erro. Desses tempos um ensinamento me ficou, uma mensagem de Abril, talvez a mais importante. Não há que ter medo! o medo é o pior inimigo do sonho, o medo tolhe, o medo s...