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ainda o dito museu do design


A conferência de imprensa do passado dia 26, dada pela Câmara Municipal de Évora, pela Direcção de Turismo do Alentejo e pelo coleccionador Paulo Parra, pretendia ser esclarecedora. Pretendia com argumentos irrefutáveis encerrar de vez a polémica em torno do putativo Museu do Design e do ainda existente Centro de Artes Tradicionais.
Sob o lema “Da pedra lascada ao ipod” fez-se uma viagem pelas peripécias de todo este processo, apresentaram-se argumentos, nenhum deles novo, nenhum deles sustentado. Foi no fundo uma manifestação de intenções precedida de uma justificação colectiva para o desmembramento do moribundo Centro de Artes Tradicionais.
Foi dito que dado o actual estado das coisas, apenas dois caminhos se apresentam, ou o fecho puro e simples deste equipamento, ou então a sua reciclagem e integração no novel Museu.
As despesas são muitas e o rendimento inexistente, a oferta é decepcionante e pouco atractiva, há que inovar e essa inovação terá forçosamente de passar por outro modelo.
Não foi atribuída nenhuma responsabilidade a quem deixou que esta situação se arrastasse, não foi mencionada nenhuma tentativa séria para que o Centro de Artes Tradicionais retomasse o caminho da viabilidade.
Foi mencionado um plano de marketing para o museu do design; mencionado apenas, espera-se ansiosamente a sua divulgação.
“A não instalação do hipotético museu será uma perda irreparável para Évora e para o Alentejo,” foi afirmado pelo Dr. Ceia da Silva. Para além do manifesto exagero que tal afirmação comporta, interrogo-me se não será também o caso no que ao centro de artes tradicionais diz respeito?
Recuperou-se um edifício, um acervo, criaram-se condições únicas para levar por diante um projecto de reconhecidos méritos, para depois tudo se afundar numa apagada e vil tristeza, fruto da incompetência de quem tinha a obrigação de pugnar pelo sucesso desse projecto, como aliás se refere no parecer do Instituto Português de Museus. " A inexistência de um responsável bem como de qualquer pessoal técnico
compromete seriamente o desenvolvimento deste projecto" que considera o IPM
"é suportado por conceitos sólidos de patrimónios que embora materiais
radicam no território do imaterial que é o dos saberes e das artes, em
processo de esquecimento pelas sociedades modernas".
Esta é uma das múltiplas questões que deveriam ter tido resposta na dita conferência de imprensa e que não foram sequer afloradas. Como não o foram as opiniões emanadas pela Comissão Municipal de Arte e Arqueologia e também pela Delegação Regional da Cultura do Alentejo.
Tudo isso passa ao largo e o que conta é a luz verde do Ministério das Finanças através da Secretaria de Estado do Tesouro, que como se sabe é a responsável pela cultura neste país…
Quanto à Câmara de Évora, a argumentação utilizada pouco ou nada acrescenta, reafirma-se o investimento neste processo, as cautelas demonstradas na escolha do parceiro, o radioso futuro demográfico que a instalação da Colecção de Design proporcionará a esta exangue cidade, compara-se esta situação à que se viveu em Lisboa, aquando da instalação do Centro de Arte Moderna no espaço Gulbenkian. Um discurso que no fundo apenas mostra a profundidade dos estudos levados a cabo pelo pelouro da cultura da Autarquia, estudos seguros, de águas superficiais, para que o projecto não afunde, nem sufoquem os seus mentores.
O Professor Paulo Parra e a Doutora Inês Ruivo tentaram explicar que artesanato e design são em termos relativos a mesma coisa, que o projecto é uma bênção para os artesãos do distrito e do mundo, já que o museu integrará uma rede de instituições do mesmo cariz, realçaram as ligações profundas do mentor do museu ao Alentejo e aos artesãos alentejanos, (que não foram tidos nem achados na elaboração do projecto) Falaram de uma bienal a realizar, de um “site” a construir, de uma intima parceria com a Universidade de Évora, (que ainda não teve qualquer manifestação institucional) disseram ainda que os formandos do Curso por eles ministrado serão os futuros artesãos de Portugal, pois não fazem distinção entre design e artesanato, (quando feitos por processos artesanais) dando exemplos que não comento.
Por fim, mesmo no fim, foi revelada a intervenção a fazer no espaço. Implica obras, implica custos.
Quem paga?
Aqueles que se vêem compelidos a encerrar o Centro de Artes Tradicionais por não terem verba para o manter.
Sobre isto não digo nada, remeto para os inúmeros pareceres que os organizadores desta conferência de imprensa olimpicamente ignoraram. São eloquentes, falam por si.
Nada neste processo foi e é transparente; a ninguém que pudesse ter opinião contrária foi pedido o mínimo contributo.
Não se indagou sequer se existiriam outras entidades dispostas a assumir a gestão (dentro do mesmo espírito de parceria) do Centro de Artes Tradicionais. Resolveu-se por decreto divino que seria assim.
Porquê? Porque o debate é incómodo, porque dele poderiam surgir alternativas que inviabilizassem o arranjo, e isso para algumas mentes iluminadas, é um dos grandes inconvenientes da democracia, a prevalência da vontade popular!
Queixam-se dos enxovalhos sofridos sem perceberem o imenso enxovalho que estão a fazer à democracia.

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