O monstro bateu à minha porta, primeiro de forma suave, como quem não quer a coisa, depois, cada vez mais insistente, com pancadas secas, sincopadas, à medida da sua raiva. Fiquei sentado no meu canto à espera que desistisse, mas não; o monstro não desiste nunca, é tenaz. Chegou o momento em que só o fragor das suas pancadas, aquele martelar ritmado e assustador a ressoar na minha cabeça, se fazia sentir. Pum, pum, pum, sou eu o monstro, pum, pum, deixa-me entrar, não vez que não necessito de estar junto a ti para te atormentar. Não entendes que mesmo distante te possuo a alma? Anda, deixa-me entrar, se o fizeres, se te deixares possuir, tudo terminará, não sofrerás, não sentirás, não ouvirás, não serás mais…