Sentado junto ao portal numa noite de verão, Aziz sonhava com o outro lado do mar. Não que a vida lhe fosse madrasta, pesava-lhe e isso bastava.
Mohamed, o seu irmão mais velho, tinha partido há já alguns anos e tinha regressado próspero, para se casar e levar consigo a mulher. Mas tinha deixado atrás de si o perfume de histórias aventurosas que atiçaram o fogo do mistério no coração de Aziz, era imperioso partir, atravessar aquela imensidão de água que o separava da vida.
A partir daí, embora os seus olhos fossem os mesmos, o seu luzir era diferente, perdido na lonjura do sonho, olhos de um brilho sem norte, desfasados da alma, essa sim, já muito distante.
Começou a vaguear pela cidade, perdido, calcorreando horas a fio as ruas poeirentas, recamadas de cheiros e cores que o desesperavam. tudo lhe sabia a pouco, vida seca, como areia a escorrer-lhe dos dedos.
Fosso intransponível esse que tinha Aziz, ave de arribação de asas cortadas. Foi assim que resolveu abalar.
Fumando um cigarro no portal da sua casa, enquanto o mar, sem que ele o soubesse, se encapelava numa voragem que já lhe consumia o ser.
Fatima era ainda uma menina, mas da sua janela, virada para a rua estreita, os olhos só lhe reluziam no reflexo da face macerada e distante de Aziz.
Nem uma palavra, sequer um aceno, se permitia ao vê-lo passar, mas o seu coração exultava e assim lhe corriam as horas, docemente, esperando ser notada na moldura daquela janela...
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