Avançar para o conteúdo principal

Mexilholandia


O primeiro-ministro do país que habito, não se chama Sócrates, dá pelo nome de Pinócrates.
O meu país não é Portugal, é a Mexilholandia.
No meu país, o que hoje é verdade, amanhã é mentira.
No meu país não existe povo, porque o povo não é soberano.
No meu país existem servos da gleba e chico-espertos, vendilhões, homens sem dignidade, que por isso não valorizam a dignidade dos outros.
No meu país quem paga a crise crónica são os reformados, os desempregados, os idosos, as crianças, os trabalhadores.
No meu país há homúnculos que vivem de expedientes, criaturas corruptas sem cerviz. Varejeiras que vivem da merda do poder, que entregam alegremente o destino de todos na mão dos especuladores sem rosto. Biltres que não hesitam em sacrificar as gerações vindouras a troco de cifrões, de piercings dourados nos seus umbigos de nababos.
No meu país a educação é um luxo, a saúde um negócio, a justiça uma miragem.
No meu país existe um enclave chamado S. Bento, mas que para os amigos adoptou a alcunha de Portugal.
O meu país tem um Presidente que se preocupa mais com a sua reeleição do que com o estado miserável daqueles que jurou defender.
No meu país aumentam-se impostos com efeitos retroactivos, no meu país reduzem-se apoios sociais, no meu país fecham-se escolas, compram-se submarinos e carros de luxo, prosperam os restaurantes de luxo e há quem vista fatos de dez mil euros.
No meu país há pessoas sem tecto, gente que não sabe ler, há investimento em cabras para combater os incendios, porque as cabras tal como os governantes do meu país, rapam tudo o que lhes aparece à frente.
No meu país a Mexilholandia as pessoas estão fartas de ser roubadas.
No meu país, a coisa está por um fio.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Ali onde tudo é possível

Ali onde tudo é possível Um equilíbrio de pé ante pé numa singeleza de voo de borboleta Um córrego pelas linhas do eléctrico a desaguar no Tejo Águas de levada, sonhos, ânsias, brisas Mesmo mesmo mesmo em frente à Sé, por cima das pedras fenícias, gregas, romanas, mouras, pedras com pedacitos da pele de quem por lá andou,  ouvem-se ainda os gritos do povo a chamar a revolta. “Querem matar o Mestre! Querem matar o Mestre” E o sol a girar, a girar, no milagre anual do Fernando de Bolhões E o Cesário, o Verde E tudo, mas mesmo tudo misturado no fado Tudo a ir A misturar-se com as águas do Bugio... com as naus e as caravelas e os veleiros de três mastros a zarparem para os Brasis que em Lisboa já se fala francês... O Rei e a Carlota Joaquina e a resma de piolhos e de cortesãos empoeirados que foram com eles, mais a régia biblioteca que por lá ficou. Imagino os molhos de sertão e de samba e de escravos negros, polidos a óleo de amendoim e a talhe de chic...