No dia 10 de Setembro de 2010, foi criada uma nova associação:
“Perpetuar Tradições – Associação de Defesa do Artesanato do Alentejo”.
O motivo da sua criação, tem sido tema de debate desde Março de 2010 e é de todos conhecido.
Turismo do Alentejo, Câmara Municipal de Évora e Professor Paulo Parra, decidiram instalar em Évora uma colecção de Design Industrial do Séc. XX, propriedade deste último.
Faltava um espaço, uma morada; mais um nome pomposo que lhe justificasse o mérito.
Escolheram o edifício do antigo Celeiro comum para a albergar e baptizaram-na de “Museu do Design”.
Ter-se-ão esquecido no seu afã, que o referido espaço foi residência, primeiro, do “Museu do Artesanato” e agora é, na sequencia de obras profundas de recuperação e restauro - suportadas pelo erário público - com o apoio de fundos comunitários, domicílio do “Centro de Artes Tradicionais – Antigo Museu do Artesanato”.
Nada que os detivesse. Adoptaram uma estratégia de desvalorização do acervo do CAT, ao mesmo tempo que iam valorizando a Colecção Paulo Parra. Referiram de passagem o aproveitamento de algumas peças que se enquadrassem no espírito do novel Museu e lançaram para a opinião pública, o argumento, economicista, da falta de sustentabilidade do CAT.
Estavam assim lançadas as bases para a elaboração de um protocolo tripartido, que sustentasse o atentado.
Só que a democracia representa o primado das ideias sobre os projectos pessoais. Os representantes do Estado, têm o dever de prestar contas das suas acções e não o podem fazer sem transparência.
As suas decisões podem ser contestadas, podem mesmo ser sujeitas a escrutínio popular e apesar de legais, poderão ser implementadas ou não. São essas as regras da convivência democrática: Transparência, fundamentação, respeito pela cidadania.
Quando isso não acontece, tudo inevitavelmente se desmorona, em lugar da confiança subsiste a dúvida, em vez da clareza, surgem zonas de sombra, que condenam à partida qualquer intervenção de quem transitoriamente detém o poder.
O primeiro protocolo foi de facto o paradigma desse autismo de gabinete, completamente alheado do sentimento dos munícipes, curando apenas da defesa dos putativos interesses dos signatários, cedo se viu esvaziado de sentido, contestado quer pelos cidadãos que se manifestaram num abaixo-assinado contra o encerramento do Centro de Artes Tradicionais, quer pelas posições publicamente manifestas em pareceres emitidos pela Direcção Regional da Cultura do Alentejo e pela Comissão de Arte, Arqueologia e Defesa do Património, o mais antigo, respeitado e consensual órgão consultivo do Município, quer ainda por parecer Instituto Português de Museus e da Conservação, entretanto divulgado.
Tudo olimpicamente ignorado, tudo em nome de uma sustentabilidade por provar, de uma visão de cultura no mínimo polémica, de uma oferta cultural inconsistente, desenquadrada do que se pretende para uma região cuja maior força se sustenta na sua matriz.
Se de facto existisse boa-fé, seriam ouvidas as reservas entretanto colocadas, consideradas as críticas, procurado o consenso.
Tal não aconteceu. Foram de facto ouvidas as críticas, sopesadas; mas apenas para as contornar.
Elaborou-se um segundo protocolo, escolheu-se nova designação, limaram-se arestas, publicitou-se, manipulou-se, votou-se em reunião de Câmara, e, foi aprovado um protocolo, fruto de uma operação cosmética, que mais uma vez não responde no concreto às questões legitimamente postas por todos aqueles que não embarcam no canto desta sereia.
Onde estão os estudos que fundamentam a viabilidade desta proposta?
Como conviverão os dois acervos num espaço que os não comporta?
Que garantias são dadas de que não se desmembrará o projecto de qualidade que o Centro de Artes Tradicionais representa?
Quem garante que para além dos dez anos que o protocolo estabelece, o suposto Museu de Artesanato e Design se manterá?
Que custos comporta o novo projecto?
Quem os suportará se não houver a tão propalada auto-sustentabilidade?
Quais são os custos de manutenção do CAT?
Quanto mais se teria de investir para recuperar do estado de abandono a que o TA o votou nos últimos anos?
Nada nos move contra a instalação em Évora de uma colecção privada de Design Industrial do Séc. XX. Não temos reservas mentais acerca da projecção que essa colecção daria à cidade.
O que defendemos são valores, referências que nos unem e marcam a nossa diferença.
Queremos perpetuar tradições, preservar a nossa memória; a criação desta associação, não se esgota por isso na defesa do Centro de Artes Tradicionais – Antigo Museu do Artesanato.
Pretendemos com este passo agora dado, criar um instrumento que possibilite de forma articulada, a defesa do artesanato alentejano, que possa juntar sob o mesmo tecto todos aqueles que acreditam que só preservando a memória, se pode construir o futuro.
Ao dar vida à “Preservar Tradições”, convidamos todos aqueles cuja memória é comum a construir um futuro que respeite o legado que herdamos e que queremos preservar.
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