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Depois da Manif


(imagem cedida por Armando Mesquita)


Manif terminada algumas pessoas foram até à Rua das Portas de Sto Antão.
As esplanadas dos módicos recursos estavam cheias, não sei se toda a gente viria da manifestação, pouco importa.
Eu fui até à ginginha para beber uma cerveja e fiquei junto à porta do estabelecimento.
De repente, noto a montante alguma agitação, de início pensei tratar-se de algum desaguisado, fui ver. Um homem, na casa dos cinquenta  argumentava com um agente da "autoridade". Em torno, fechara-se um círculo de perigosos anarquistas, constituido por alguns Machnovistas de ambos os sexos, ainda muito jovens, e de tenebrosos agentes subversivos, disfarçados de trabalhadores vindos da manif, mais uns quantos terroristas armados em transeuntes.
Os pobres dos agentes - afinal eram mais do que aquele que eu identificara - vendo a sua integridade em risco, sentindo-se ameaçados por aquela multidão de uma vintena de pessoas; chamaram a tribo, que acorreu pressurosa, de carro, a pé, enfim, em poucos instantes a rua estava repleta de defensores da lei e da ordem sob as mais variadas formas, com bonitas camisas azul celeste, de fato de macaco azul, complementado com um funcional capacete de viseira, mais um elegante bastão de couro preto; alguns, os mais afortunados tinham em sua posse exemplares únicos de "shotguns" novas, ou pelo menos em excelente estado de conservação.
Havia ainda agentes à paisana, sem dúvida com o intuito de apaziguar os ânimos.
Do outro lado da barricada a multidão de peralvilhos já se tinha armado de contundentes copos de plástico e vociferava palavras de ordem bem ao bucólico estilo Vicentino.
Foi então que o exército tribal carregou sobre os perigosos Macklovistas; bastonadas meigas, afagos nas faces e nos lombos, e os palermas dos "anarquistas", sem se aperceberem que aquilo era apenas uma paternal prova de amor, deram em correr em várias direcções com os "agentes da lei e da ordem" atrás deles a gritar em uníssono enquanto batiam: "faço isto para teu bem, faço isto como exemplo".
Infelizmente a coisa descontrolou-se e os restantes agitadores meteram-se também ao barulho. Houve até uma senhora já na casa dos setenta, que se mandou violentamente para o chão, só para depois dizer que tinha sido empurrada e partido a cabeça em consequência disso. Insidiosa acusação! todos sabemos que as mulheres idosas são o principal inimigo da paz social.
O que aconteceu a seguir foi uma grande demonstração de civismo e eficácia por parte das "autoridades". Fecharam a rua com carros profusamente decorados de luzinhas, com sonoros apitos tranquilizadores, foram malhando em mais uns quantos e de passagem ainda ameaçaram alguns moradores que da janela das suas casas protestavam contra tão edificante espectáculo.
Ao lado vindo do D.Maria ouvia-se uma voz a perguntar: " Quem és tu Zé Pagante?" e o coro a responder: "Ninguém"
Satisfeito com o que vi, regressei a penates, ao meu Alentejo e hoje vou contar aos meus compadres aqui do Monte, as minhas aventuras no sorvedouro a que alguns chamam Lisboa.

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