Entro. De frente para a porta, um balcão alto de mármore rosa domina toda a sala rectangular, além dele,existem mesas de madeira de tampo quadrado e em torno delas, quatro cadeiras também de madeira. As paredes brancas, sujas do ar pesado da noite, estão parcialmente cobertas por quadros e fotografias de músicos famosos. A porta, ladeada por duas janelas, é uma porta de vaivém feita de madeira pesada, pintada de verde.
Três músicos ao canto da sala tocam os blues que me atraíram, quase afagando os seus instrumentos: um velho contrabaixo, uma guitarra de doze cordas e um piano de parede.
O espaço está vazio, apenas os músicos, o dono do bar e eu, partilhamos o momento.
Peço uma aguardente, sento-me junto à banda e deixo-me levar pelos pensamentos…
Eu gosto muito de vocês, mas não pactuo com a vossa vontade.
Se agora, por exemplo, me pedirem para os levar a “viajar” no espaço, é evidente que não vos levo.
“Merci beaucoup. Répond le garçon qui veut aller au bout du chagrin. Une fenaitre ouverte, une fenaitre eclairé”.
No fundo, bem no fundo, todos nos questionamos, todos temos esperanças estioladas na voragem da vida.
Marte estendido como uma toalha na praia, envolta em grãos de areia, milénio após milénio, com guerras esforçadas na alma e nas mãos romanas dos povos submersos na vontade dos Deuses.
Estultas conversas às portas do nada, com todos os buracos negros a sugar qualquer réstia de dignidade, que possa sobejar das palavras ainda por dizer.
-Quer mais uma aguardente” ouço uma voz distante, saída do nada, a sacudir o meu torpor.
-Sim, por favor. Respondo sem olhar, entretanto os músicos pararam de tocar, mas eu ainda os ouço, ainda os tenho em mim, a soltarem os seus sons como farrapos de névoa. Nada me importa, eu não me importo.
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