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Museu do Artesanato


Estabeleci como regra não voltar a temas abordados em crónicas anteriores, no entanto, porque o assunto me é caro e dada a importância do que está em causa, vou abordar de novo o encerramento do Museu do Artesanato - Centro de Artes Tradicionais, para instalar no edifício que este actualmente ocupa, o Museu do Design – Colecção Paulo Parra.
Não sou contra (nem ninguém de bom senso o poderia ser) a instalação em Évora de um equipamento como o Museu do Design; é bem-vindo. Oponho-me, isso sim, ao fim de um repositório do que é a nossa memória colectiva. Porque de um fim se trata, já que pelo que me foi dado ler, o protocolo celebrado entre a Câmara Municipal de Évora, o Turismo do Alentejo e o coleccionador, o Professor Paulo Parra é omisso quanto ao destino a dar a este acervo.
Para onde vai? Sob a responsabilidade de quem? Estará disponível para ser visto? Ficará a população privada da mais-valia que ele representa? Perguntas pertinentes que carecem de resposta, até agora inexistente.
Foi investida uma soma considerável de dinheiro para que o Museu do Artesanato tivesse um espaço condigno. Isso pressupõe uma vontade política, algo que seja consistente no tempo, que ultrapasse a mera conjuntura determinada pela cadeira do poder. Não se pode mudar agulha apenas porque surgiu uma proposta que é, dadas as circunstâncias mais apetecível do que já estava instituído. Negar esta regra sem razões plausíveis é abrir uma “Caixa de Pandora”. Se essas razões são de natureza financeira, encerrar um museu é atentar contra a cultura, privar a população de um bem, apenas porque o Estado entende que deve gerir um equipamento público como se fora privado. Ninguém numa democracia pode ter este entendimento das coisas. Chama-se a isso desrespeito pelos cidadãos, que no fundo são quem suporta tal equipamento.
Como do protocolo resulta que continuaremos a ser nós a viabilizar com os nossos bolsos o Museu do Design, pelo menos até ser economicamente sustentável - quando irá acontecer essa viabilidade não se sabe - a questão que se põe é se a decisão de substituir um museu por outro não deveria ter sido mais participada.
Sem colocar em causa as boas intenções dos envolvidos, gostaria de frisar que as características do espaço inviabilizam a disponibilização simultânea dos dois acervos em causa, e se como já ouvi, irão ser expostas peças pertencentes ao museu do Artesanato, quer na exposição permanente, quer em exposições temporárias, quem será o responsável pela gestão e manutenção do acervo do Museu do Artesanato? O director do Museu do Design? Ou guardam-se os artefactos num armazém, encaixotados, e quando for necessário recorre-se a eles?
Esta história está toda muito mal contada. Transparência precisa-se.
Quando falei do Cemitério dos Prazeres, como é óbvio ficcionei, jamais paguei o que quer que fosse para lá entrar, mas convenhamos que com o caminho que as coisas levam, qualquer dia, artesãos e artesanato só mesmo nos cemitérios.
Depois não digam que é tarde.
Até para a semana.

  

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