A crise
Esta crise instalou-se de armas e bagagens e ocupou as nossas vidas com a violência brutal de uma doença cancerosa.
Chegou sorrateira sem bater à porta, foi lançando as suas metástases, tomando conta de nós e quando já nos possuía o corpo, anunciou-se em toda a sua dimensão e começou a ocupar-nos a alma.
De início não demos por ela. Dava sinais, aqui e ali, mas sempre pontuais; muitas vezes esses indícios, não passavam de manobras de diversão, para nos distrair, tal como um ilusionista, que nos desvia a atenção com um gesto esperado, para assim consumar o truque.
Andamos alheados, não podemos sequer dizer que tudo foi feito nas nossas costas. De facto todos os indicadores se manifestaram, tocaram todos os sinais de alarme e nós é que não os quisemos ver.
Mas esta crise tem em si uma característica, para a qual ainda não existe antídoto.
Ela configura a nossa perda de independência; os instrumentos para a combater, não são determinados por nós, pois ao aceitarmos as regras do jogo de roleta que é a globalização, ao adoptarmos a moeda única, perdemos a nossa soberania, abdicamos da possibilidade de a resolver pelos nossos meios.
As soluções são-nos impostas e o poder político, seja ele qual for, sujeita-se ao económico, que vem de fora, sem rosto nem referências ideológicas, olhando para a floresta sem ver as árvores que a constituem e que somos nós, as pessoas.
Acresce que uma crise, não é um acontecimento isolado, ela emerge sempre das vicissitudes de um sistema e manifesta-se porque, em determinada altura, esse mesmo sistema se encontra fragilizado. Se ele encontra respostas adequadas, fortalece-se, se não, colapsa.
Mas qualquer crise é também uma oportunidade. Quem quiser alterar o “status quo”, pode aproveitar o momento para alterar as regras do jogo. Neste momento, esses cânones já estão suficientemente expostos. São a precariedade, a falta de emprego, a falta de acesso à justiça, a asfixia de um sistema nacional de saúde, o ensino público posto em causa, a privatização de sectores fundamentais da economia, as desigualdades sociais cada vez maiores, a perda de direitos de cidadania, em suma: um retrocesso civilizacional, que volta a por nas mãos de muito poucos, aquilo que pela sua natureza é de todos.
O primeiro passo a dar para combater este ataque à nossa liberdade, à nossa dignidade, ao nosso futuro, é dizer não. Ir para a rua lutar, afirmar a vontade colectiva de acabar com esta exploração desenfreada e insensível dos nossos recursos.
Dia 29 vai haver uma manifestação em Lisboa pela defesa dos nossos direitos, contra a execução desta política assassina.
Seria bom que todos estivéssemos unidos a afirmar esses mesmos direitos, a nossa vontade de recuperar aquilo de que fomos espoliados.
Dia 29 eu vou estar em Lisboa a percorrer a Avenida da Liberdade a defender o que é de todos, não apenas de alguns.
Até para a semana.
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