O homem está a meia haste.
Nem velho, nem novo.
Calcorreia a vida com um passado às costas. Um saco de viajante, feito de lona, cheio de tralhas acumuladas, coisas supostamente belas, como o brilho dos corvos, arrecadadas, olvidáveis, perdidas no meio de outras.
O homem vai inevitavelmente sentir pelo custo do seu caminhar, que tem de alijar a carga, deixar para trás memórias, soltar recordações.
Lenços brancos acenando ao seu percurso.
Coisas da vida…
O homem por vezes ouve falar de outros homens, que como ele, se deixaram enredar no efémero, que julgaram que todo o mundo se contem numa mão fechada, as unhas cravadas na pele, com força, para que os momentos lhes não fugissem por entre os dedos, que se não escoassem na clepsidra que o destino lhes reservou.
Mas o homem sabe que essoutros partiram já e que partindo, deixaram para trás toda a vontade que lhes tolheu os movimentos, todo o fardo que suportaram para chegar a lado nenhum.
O homem não tem asas mas pressente que não as necessita para voar…
O homem vê com os olhos da alma tudo o que está para além do horizonte e entende que por isso é.
E pronto. Depois acende um cigarro e deixa que queime só para ver as voltas enevoadas do fumo…
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