Há uns anos, era eu puto, resolvi construir juntamente com um amigo, uma escada que nos permitisse chegar ao topo das laranjeiras do quintal dos meus avós.
Arranjamos dois paus tratados de três metros, para fazer as traves e uma série de paus mais pequenos, para fazer as travessas.
Colocamos a primeira travessa e a segunda, sem reparamos que havia um pequeno desalinhamento, de cerca de um cm entre as duas, no local em que as cravámos nas traves.
A terceira travessa foi alinhada com a segunda e assim sucessivamente, até que à quinta ou sexta, o desalinhamento já era tão notório que a feitura da escada se tornou impossível. Tivemos de arrancar os pregos e recomeçar.
A partir desse dia aprendi a contextualizar a importância das coisas pequenas... por si são irrelevantes, quase espúrias, mas se as deixamos acumular, a sua dimensão torna-se inultrapassável.
Daí o cuidado que temos de pôr naquilo que proferimos, especialmente se as nossas afirmações forem escrutinadas por todos, como é o caso de um candidato à Presidência da República.
Quando Fernando Nobre se afirma como candidato independente, isso pode ser interpretado como uma afirmação banal, até redundante, já que uma candidatura ao exercício de um cargo uninominal, pressuporá sempre independência; resulta da natureza do mesmo.
O detalhe, o desalinho, reside na diferença entro o exercício e a candidatura a esse cargo. Será possível um candidato ser independente? Não quererá ao manifestar essa pretensa equidistância, pedir o apoio de uns e de outros, sem se comprometer com a definição do seu posicionamento no espectro político.
A esquerda e a direita não são descartáveis, são questões de princípio.
Os caminhos da esquerda ou da direita, esses sim, são debatíveis.
Por isso existem múltiplos agrupamentos políticos, quer à esquerda, quer à direita. Negar isso, é negar a própria essência da democracia representativa.
O desalinho que se segue, consequência deste, é bem mais visível. Ao criticar um presumível competidor, por este ser apoiado por dois partidos distintos, afirmando que a sua própria candidatura, essa sim, é supra-partidária, é no mínimo, de uma miopia, que aconselha fortemente o uso de lentes.
Ser apoiado por mais do que um partido é ser supra-partidário, não ser apoiado por nenhum partido, é o mistério total acerca do móbil dos seus apoiantes.
Só com isto a escada vai mal... mas, se atentarmos em quem está por detrás desta candidatura supostamente independente, descortinamos a mão de alguns que utilizando-a, mais não pretendem do que ganhar posições de maior conforto, na luta pelo poder dentro do PS. Ou pior, apoiam porque movidos por critérios pessoais, de pretensas vendettas ou afirmações de estatuto.
A escada de Fernando Nobre vai torta... são tantas as falhas, que quem a pretender usar, vai de certeza dar um grande trambolhão.
Voltarei ao tema, assim que acabar de montar um puzzle que tenho à frente.
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