Abandonado no meio do pátio, está caído um soldadinho de plástico.
Vou soerguê-lo, dar-lhe a dignidade de um sentinela perdido no meio do deserto, a observar a sua própria sombra.
Está feito. No entanto ao pegar-lhe, reparei que não se trata de um soldado, mas de um vaqueiro, daqueles do oeste americano. com a sua mão direita, empunha uma arma pronta a disparar, com a esquerda, febril, tenta sacar da outra pistola, ainda no coldre.
Resolvi deixá-lo só, lá no meio do deserto, a alvejar os seus fantasmas, como um filósofo.
Fui buscar um cavalo, também de plástico e coloquei-o ao lado do intrépido vaqueiro.
Quis assim recordá-lo, que, se quisesse, poderia sair daquele sítio.
No fundo, a tentar dizer-lhe que os melhores confrontos, residem sempre no devir e quase nunca no mesmo lugar.
Deixou-se ficar quedo, na mesma pose ameaçadora, enquanto ao seu lado, o equídeo, resfolegava num desassossego de partir. Patas dianteiras no ar, num gesto de desafio ao mundo, a tudo, a qualquer coisa, eu sei lá...
Se calhar numa manifestação de orgulho...
os meus soldadinhos de menino
ResponderEliminarestão guardados
em cofres feitos
implodindo sonhos
nas raízes das árvores
do Campo de Santana
quando passo por lá
não os vejo
peritos que são
na arte da camuflagem
ah mas eu sei que lá estão
piscadela de olho
e vou à vida