Uma das reservas frequentemente posta no que à regionalização diz respeito, tem a ver com a possibilidade de um aumento da corrupção no aparelho do Estado.
Maior o número de eleitos, maior o número de tachos, mais compadrio, mais corrupção.
Mas esse é um mau argumento.
A corrupção é um fenómeno que corre transversal à nossa sociedade e que nada tem a ver com o enquadramento administrativo do Estado.
Se eu fosse um pessimista, diria mesmo que a corrupção é um estado de alma lusitano, que se manifesta desde os bancos da escola.
“ Se não contares à professora, eu dou-te o meu chocolate de leite com um brinde lá dentro”.
Proposta geralmente aceite e que nem sequer levanta grande celeuma entre os colegas, já que é coisa trivial.
Depois, é só aumentar a oferta consoante a disponibilidade económica do sujeito activo e o risco do passivo.
São as multas perdoadas, as cunhas cirúrgicas, os aceleradores dos processos pendentes…
Enfim, o dia-a-dia deste nosso cantinho á beira-mar plantado.
É difícil provar um acto de corrupção?
Pois é, porque a regra é a conivência.
Sempre vivemos com ela, e, mesmo quando ultrapassa os limites do que entendemos tolerável, procuramos quase sempre uma desculpa que transforme um acto criminoso, no “chico-espertismo” dominante, como se os fins justificassem os meios.
“Ele é alegadamente corrupto, mas tem obra feita…”
“Se calhar, se assim não fosse, não passaríamos da cepa torta…”
De tanto ouvirmos estas frases e quejandas, já não nos atrevemos a contrapor e deixamos andar o barco, não sem rumo, mas com rumo incerto.
Tenho para mim, que este estado de coisas, se deve em grande parte a um legado autoritário, que faz crer que o poder, éuma dádiva sabe-se lá de quem, e que, o que o Povo recebe, é fruto da generosidade do Escol iluminado que nos governa o torrão.
Mas não é assim. Quem detém o poder é o povo, e, quem governa, governa por mandato, tem de prestar contas e não oferece nada, limita-se a administrar o que é de todos.
Alem do mais, num país em que as coisas funcionam tão lentamente, para não dizer que não funcionam, é uma tentação imensa seguir o caminho mais curto, e adoptar aquilo que está instituído, mesmo que paralelamente, mesmo que ilicitamente.
A corrupção enfrenta-se, não se evita, dizer que não se faz algo porque isso poderá estimular actos de corrupção, é um favor que se presta aos corruptos.
Sabendo nós, que o fenómeno ocorre em todas as áreas de actividade, não será bom pensar, que uma das formas de o combater, no caso da administração pública, é uma política de maior proximidade entre os cidadãos e os detentores de cargos públicos?
Pergunto, quantos membros da administração central foram indiciados e posteriormente condenados?
Já na administração local, alguns foram julgados e condenados. Não será isto consequência directa da proximidade, não saberão as pessoas mais facilmente o que se passa na sua terra do que o que se passa na Capital?
Não saberão as pessoas mais facilmente o que se passa na sua Região do que o que se passa na capital?
Pensemos nisto.
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