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Retrato da Alma


Como vencer a inércia que a folha ainda virgem de sentimentos nos desperta?
Em face de uma folha em branco todos os sonhos são possíveis.
Basta que uma letra se interponha,para que novos mundos se desnudem perante os olhos viajantes do escritor.    
E não se pense levianamente,que quem escreve é pai é mãe e é tudo, pois isso não passa de um mito. O que na verdade pesa,é a alvura da folha, conviva silenciosa dos repastos daqueles que sonham.
Vagueamos por um espaço sem bússola, e perdemo-nos nesse mundaréu imenso e intenso das nossas memórias, até que um cheiro, um gesto, uma palavra, revelem uma porta semi aberta na paisagem.
Todas as histórias começam por uma porta semi aberta nessa paisagem das nossas memórias. Todas as histórias são filhas de véus que conferem mistério ao prazer de recordar...
Digamos então que tenho alguns anos existidos, pois vividos são centos deles, mas essas vivências, não as coordeno, não me cabem na ordem cosmogónica da existência física, são paralelas umas, convergentes outras, espaços que fui percorrendo, experiencias digeridas, expressas na alquimia da sageza.
Assim sendo, nenhum relato é autobiográfico, apenas reflete a contemplação da distância, é fruto do olhar que involuntáriamente ignora, tal como um horizonte perdido entre pequenos acidentes. Mas não será essa a visão que o homem tem do seu passado?
            Quanto a mim, apenas o momento conta, sobrelevo-me dos factos que foram.  Nem sei se assim me exorciso, nem tampouco sei se pairar sobre ou contra, não importa, me despoja e me liberta. Mas para quê, se letra a letra  preencho uma tela que nunca pretenderei afilhar.
            Permito-me  retirar um cheiro da minha paleta e é de cravo o aroma que me atravessa o tempo, a sua cor é vermelha, companheira militante e quente, intensa e indócil, irmã da juventude que ataviei de sonhos.
                                            

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