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Tempos de Mudança


Será que o papel atribuído aos partidos políticos, no poder local, se tem vindo a esvaziar?
E se assim for quais os motivos?
Será que o mapa autárquico reflecte com acuidade o que emerge do tecido social actual, fazendo sentido a dispersão de Concelhos nas grandes Áreas Metropolitanas, muitas vezes com respostas desarticuladas às solicitações que lhes são transversais?
Será que o êxodo do interior, não justifica a alteração do actual enquadramento legal, visando uma discriminação positiva, das regiões menos populosas?
Será que não está na altura de iniciar de forma pragmática e consistente o caminho da regionalização?
No Alentejo como no país, várias foram as listas de independentes que se apresentaram a escrutínio, chegando mesmo algumas a conquistar o maior número de votos e como consequência, a presidência das respectivas Câmaras e Juntas de Freguesia, não é um fenómeno novo, mas que se tem vindo a afirmar eleição após eleição. Mesmo quando não ganham as eleições, essas candidaturas independentes, regra geral, atingem posições determinantes nos órgãos a que se propuseram.
Se é certo que muitas delas integram indivíduos com experiencia, muitos deles antigos titulares de cargos de liderança, com obra feita, outras existem que representam movimentos cívicos, que, não se revendo na oferta partidária, têm nas suas fileiras pessoas de reconhecidos méritos e propõem soluções exequíveis, para problemas, que tocam todos os munícipes e que extravasam a maior parte das vezes do confronto ideológico/programático que está na base do debate entre partidos.
Por outro lado os agrupamentos políticos tendem a impor nas suas listas personalidades de destaque dentro do partido, numa acção de marketing político, que na maior parte das vezes não são identificáveis com as comunidades locais e também não oferecem garantias de continuidade no cargo caso sejam eleitos, e se isto é mais frequente nos grandes centros, também acontece em comunidades menos populosas, que de uma maneira ou de outra possam assumir papel de efémero relevo na contabilidade global.
É por isso natural que as pessoas se afastem cada vez mais dos partidos e manifestem a sua adesão aos ditos filhos da terra.
Se isto é bom, porque implica uma maior proximidade entre os eleitos e a comunidade, também encerra riscos.
Uma organização que cresce em torno de qualquer candidatura, sem um suporte consistente, corre o perigo sério de se desagregar depois de conseguidos os objectivos que se propôs, ou resolvendo os problemas, ou através da dispersão de vontades na hora de exercer o poder. De um modo ou doutro ficaria sempre um vazio a ser preenchido sabe-se lá de que forma.
Será por isso bom que as organizações partidárias fomentem uma maior proximidade e ponham em prática uma efectiva política de abertura, que estimulem o debate e recolham as sugestões nascidas desse mesmo debate transversal a todos os grupos, e mais, que integrem nas suas listas independentes com méritos firmados para aproximar a população das suas propostas. A actual visão holística em que persistentemente insistem, é um mais que provado anacronismo.
Como anacrónica é a aposta numa pretensa descentralização, que desequilibrou completamente o país desertificando o interior e sobrepovoando o litoral e mais do que isso permitindo o desenvolvimento de duas grandes metrópoles que funcionam como sorvedouros incontrolados dos recursos disponíveis, e originam um país a três tempos, o interior, o litoral, Lisboa e Porto.
Impõe-se repensar o paradigma e apostar na reformulação do mapa administrativo do País, apostando na regionalização mais do que na descentralização.

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