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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2011

Um projecto de cultura

Aprender a ler é um projecto de cultura. não tem retorno imediato, é certo, carece de subsídios, é verdade, mas dá algum jeito haver alguém que saiba ler, interpretar um texto, alguém que consiga pensar além do aforro da formiga. Porque será então que aprender a ler é um projecto de cultura? Porque permite comunicação, homenageia a memória, alarga o futuro. Como qualquer projecto de cultura, aprender a ler é exigente; uma vez cumprido exige outros projectos que dele decorrem, exige movimento, mobilidade, espaço de afirmação. No fundo, aprender a ler é como qualquer outro projecto de cultura, incómodo, porque questiona e questionando se afirma. É para isso que servem os projectos de cultura, para questionar. Há quem não goste, quem ache que são suficientes as formigas, dispensáveis as cigarras. Há quem pense que pensar é mau... para os outros... Mas há quem pense, apenas... E pensar é abrir a porta a projectos de cultura. Queime-se então o pensamento. Inquira-se e queime-se

It´s not a lamb! it's a wolf in disguise...

Ainda não li o programa de governo, mas... "...O Governo assume neste programa um registo de combate sereno e determinado às injustiças. Temos a noção de que Portugal é em muitos planos, e não obstante os progressos realizados, uma sociedade injusta e desigual. As políticas aqui enunciadas visam tornar mais móvel a estrutura social, correspondendo assim a uma das promessas mais nobres do regime democrático, em conjugação com a preservação das instituições basilares do Estado social e com o aumento da sua eficácia." Vai daí: "... - Eliminação dos direitos especiais do Estado enquanto accionista (golden shares); - O Governo tem como objectivo encontrar um comprador para o BPN até ao final de Julho de 2011; - Alienar a totalidade das participações na EDP e REN, preferencialmente até ao final de 2011, e garantir que sociedades cujo objecto seja a produção, distribuição ou comercialização de energia (como a EDP)  não  possam, directa ou indirectamente, imediat

Dúvidas Existenciais

Temos mesmo de ser aprumadinhos para que os nossos disparates sejam ouvidos? Se estivermos fora do contexto modal e dissermos as coisas mais acertadas alguém nos leva a sério? Levamos tão a sério essa treta de a mulher de César ter de parecer séria que já não ligamos à essência das coisas? Se à época existisse televisão e internet e fb as movimentações Crísticas seriam consideradas uma acampada? Se a "presidenta" da fundação Saramago fosse um homem seria chamada de "presidento"? Se quem tem bancas na praça vai aos mercados abastecedores, onde irá quem tem bancos na bolsa? Quando se deposita um voto na urna não será para enterrá-lo? Porque insistem em fazer papel higiénico com picotado se sabem à partida que não funciona? Se fazem isso do picotado com o papel higiénico porque não o fizeram com o memorando da troika já que o uso a dar-lhe é o mesmo?

As Gônadas de Lucifer

Lava, líquido esbrazeado a galgar a cidade, tudo a arder. Gente esbaforida a correr desordenada pelas ruas do centro histórico. Um tétrico clarão laranja a invadir os céus. O Sertório e o Giraldo, S. Mamede, a Sé e Sto Antão, todo o casario em brasa. Do alto de São Bento as pessoas atónitas contemplam a cidade em chamas. É o Suão que chega murmuram os velhos... Mas da Acrópole chega uma música tranquila a acompanhar voz sóbria de barítono. - Sou eu que quero, sou eu que mando, sou eu e eu e apenas eu. E a lava escorre e queima o ventre da cidade. Foi o diabo que se veio e secou tudo à volta, eis o que foi 

Gosto muito de lombadas de couro nos móveis da sala.

fotografia da aldeia da terra trabalho de Tiago Cabeça e Magda Ventura Ontem na Assembleia Municipal de Évora, uma representante do povo do Concelho, Carmen Balesteros, questionou o Executivo acerca do destino anunciado do Centro de Artes Tradicionais; em que pé estão as obras? Que projecto museográfico está elaborado para o novel Museu do Artesanato e Design? Se estão a ser feitos novos expositores que peças irão albergar? Tudo questões absolutamente lógicas, mesmo inevitáveis para quem representando os munícipes, tendo consciência cívica, não abdica dos seus direitos, honra os seus compromissos. Respondeu a Vereadora da Cultura afirmando que disso nada sabia, que a CME enquanto parceira no protocolo tripartido, que visa a substituição do CAT por outra coisa qualquer que inclua a colecção de design industrial do Prof Parra, tem apenas a responsabilidade das obras e da manutenção (também logística) do espaço e que, pasme-se, essas questões transcendem o papel dos eleitos nesta farsa

AVC - Acidente Vascular Camarário

Et voila. O desacerto é tanto, o desconchavo tamanho, que os srs eleitos se assumem finalmente como donos da cidade. Quem pensa como eles, ou quem não pensa, ou que julga que pensar faz calos, tem via aberta. Quem pensa diferente, faz diferente, cumpre diferente, exige respeito pela sua diferença e consideração pelo seu fazer, é amordaçado, constrangem-lhe a jugular e se se agita na necessidade de respirar, tapam-lhe a boca. Só que se nuns casos a boca está ligada aos intestinos, noutros está ligada ao cérebro e aí reside o busílis, o pensamento tem asas, voa alto, em lugares absolutamente intangíveis pela mediocridade da ostentação, pela prepotência do poder bacoco. Ao que julgo saber, a razão aduzida para tal AVC, (acidente vascular camarário) a razão expressa entenda-se, foi não ser permitida publicidade no feirático recinto fora do regulamentado... Brilhante! primeiro confunde-se publicidade com publicitação, de seguida arregimenta-se a matilha e acaba-se de uma penada com qualquer

Verde ou Esverdeado?

Não consigo entender esta questão toda à volta de Rui Tavares. Em relação a Louçã não faz sentido. O coordenador da Mesa não é o BE e que eu saiba, não pretende sequer sê-lo. As suas declarações são isso mesmo, suas... aliás, mesmo que fossem representativas de todos os aderentes, todos os simpatizantes, todos os eleitores que votaram Bloco nas últimas europeias, não seriam nunca motivo para tão precipitada decisão. A não ser que se interprete à letra a célebre frase de Marx, (do Groucho) "jamais aceitaria entrar para um clube que me aceitasse como sócio". Aí sim esta decisão faria todo o sentido, embora pecasse por tardia. Só há uma justificação plausível para esta atitude, a saber: o BE tinha perfeita consciência da sua incapacidade em eleger qualquer deputado para o Parlamento Europeu, socorreu-se assim da imensa popularidade de Rui Tavares, que sendo tamanha permitiu a sua eleição mesmo em terceiro lugar da lista, os dois eleitos antes dele, foram-no porque os portug

O Rei Vai Nu

Fernando Nobre sujeitou-se a dois escrutínios para ser eleito Presidente da Assembleia da República e não o conseguiu. Não obteve sequer a totalidade dos votos da sua bancada. Não foi uma derrota, foi a derrocada. Nobre perdeu de uma assentada a remota hipótese de afirmação política, perdeu parte substancial dos apoios ao seu negócio de família, perdeu a pouca credibilidade de que ainda dispunha. Vem-me à memória a história do rei ludibriado pelos falsos alfaiates que lhe propuserem veste digna dos deuses, tão sublime, tão etérea, que apenas aqueles que mantivessem na alma a pureza das crianças a poderiam ver. Nada lhe vestiram, mas quer o rei, quer os súbditos, por receio do juízo dos outros, fingiam ver roupas a cobrir a nudez do monarca. Foi preciso uma criança gritar que o rei ia nu, para que se descobrisse o engodo. Foi assim com Fernando Nobre, na ânsia de protagonismo, só se apercebeu da sua nudez tarde demais. Passos Coelho nunca teve dúvidas, sabia ele bem demais que a eleiç

Saber Escutar

Se acabarmos com a diferença ficamos mais pobres, mais longe de ser felizes. Debater é antes de mais saber ouvir, sem isso o debate transforma-se em imposição, poder-se-á pensar que nessas circunstâncias ganha que falar mais alto... mas não! Perdemos todos. Não quero imposições na minha vida, nem me ajeito com imobilismos. De facto tudo muda, se não olharmos em volta, não nos apercebemos da mudança; não a podemos acompanhar. Ficamos irremediavelmente sós e se um de nós se confronta com essa solidão, perdemos todos

A liberdade

Quer-se dizer, a liberdade não se toma às colheres, como o óleo de fígado de bacalhau, nem se esfrega na pele como um bronzeador, nem se receita a ninguém depois de uma invasão bem sucedida, como a democracia. A liberdade é e pronto! Assim, sem mais nem aquelas. Ou se é livre ou não, sem espaços intersticiais a preencher, sem justificações nem pausas para aclimatar a má consciência que possa derivar de algum desvio. Não há lugar a compromissos! Também não é como uma cebola, não é coberta por infindas películas descartáveis, não faz chorar, nem tão pouco é cozivel para acompanhar qualquer pratalhada de conveniência, do tipo bacalhau com todos … Não é apropriável, nem exclusiva, não tem cheiro, nem cor, nem massa e é sempre continente. Vive-se nela muito embora dela se não possa viver. Persiste muito além das fronteiras do tempo e insiste em eliminá-las. Como não é concessionável não se rege por valores materiais, não se traz no bolso. A liberdade não é um peixe, não tem espinhas, nunc

A minha leitura das legislativas

Estas eleições legislativas decorreram enquanto se negociou um resgate da dívida pública. Foi assinado pelo governo ainda em exercício um manifesto de entendimento com a EU, o BCE e o FMI. Esse manifesto pela sua extensão e minúcia não poderia nunca ter sido elaborado num espaço de quinze dias apenas, já vinha de trás, para que ele fosse aceite sem grandes convulsões sociais, precipitou-se a queda de um governo moribundo e convocaram-se eleições legislativas, que mais não foram do que um plebiscito do referido memorando. Os três partidos da direita, adoptaram-no como base do seu manifesto programático, considerando unanimemente ser o resgate inevitável para respeitar compromissos do Estado e evitar um incumprimento da dívida. Encenaram-se reuniões com os representantes das três entidades que envolveram os três partidos e inúmeras organizações, de representantes do patronato a organizações sindicais, a figuras de peso no ensino na banca, enfim criou-se uma romaria, como se fosse possí

A Cidadania

Quando votamos para as legislativas, não votamos em pessoas, votamos em manifestos programáticos, em algo que gostaríamos de ver implementado durante a legislatura, existem mulheres e homens que corporizam esses manifestos, que lhes conferem ou retiram credibilidade, mas na sua essência o voto será sempre num manifesto e digo manifesto, porque se trata apenas de uma proposta, algo que depende de inúmeras circunstâncias para que sendo aprovado na Assembleia da República se transforme, aí sim, em programa de governo. A opção agora encontrada de coligação entre o PSD e o PP, não é a única possível; seria viável um bloco central por exemplo, agora que Sócrates saiu de cena, como seriam possíveis outras hipóteses, se bem que menos plausíveis, como um governo minoritário, com suporte parlamentar previamente negociado. Quero com isto dizer que o voto, longe de ser uma determinação absoluta da vontade popular, é isso sim, uma indicação de rumo, o estabelecimento de uma linha orientadora para

A minha Amiga Alexandra

Ontem a Alexandra fez anos e resolveu dar uma festa. E onde foi a festa? Em casa? Não! Num restaurante? Não! No Pim Teatro? Não! Então onde? Foi na rotunda do Raimundo, aquela dos esguichos, com a neo vulva do Cutileiro ao lado. É verdade! Foi mesmo aí. Levaram-se comes e bebes e um bolo, levou-se também um cavaquinho e nós, os amigos, fomos aparecendo e cantando e comendo e bebendo... Ah!!! apareceu também a PSP porque uns quantos maduros se deram ao trabalho de telefonar a fazer queixa do desplante que é utilizar um espaço público para fazer uma festa. É o fado... Grande festa que foi! gostamos tanto que vamos fazer outra na rotunda das Portas de Aviz e por aí fora... até já convidei uns amigos para bater uma suecada na micro rotunda da Rodoviária. A rua é nossa e como todos sabem é pelas rotundas que se começa... não há volta a dar. Grande Alexandra!!!!!!

Acerca do Vamos ao Pote....

Li com atenção e alguma perplexidade à mistura o post do "A Cinco Tons",  "Vamos ao Pote Já" . Não me iludo com a avidez de muitos em relação às prebendas decorrentes do poder, para eles é natural, como é expectável falarem de meritocracia, ou o que quer que isso seja. É certamente uma variante da tecnocracia, algo asséptico, decorrente de escolhas determinadas pela desresponsabilização política daqueles que irão ocupar cargos de confiança política. É aqui nesta encruzilhada que a porca torce o rabo e que a dita senhora deveria torcer a língua e conter-se. O que defende, os argumentos espandongados nessa defesa, são uma homenagem ao vazio demagógico cultivado no seu partido, o PP, o partido de Portas, tal como o PS é o partido de Sócrates, sem tirar nem pôr. São partidos que vivem da imagem dos seus lideres, partidos de quadros, que apenas subsistem com lideranças fortes que decidem o rumo político e se rodeiam de técnicos para executarem as decisões dos gurus.

A homeopatia a tecnocracia e um dia…

Enviei esta crónica para o jornal "Registo", só que incompleta, como é óbvio publicaram apenas o que receberam... publico-a aqui, agora para rectificar o meu erro.  Consiste a homeopatia na cura através do semelhante, se temos gripe dão-nos pequenas gripes diluídas até que o organismo reaja e as suas defesas actuem, se temos uma dívida dão-nos pequenas dívidas diluídas até que a economia reaja e as suas defesas actuem. Há quem diga que resulta, há quem diga que nem tanto, há até quem afirme que se não se morrer da doença, morrer-se-á certamente da cura. A tecnocracia não é mais do que o governo dos técnicos, que através do controlo dos meios de produção ultrapassam o poder político, esvaziando através desse controlo a sua capacidade de decisão. À primeira vista homeopatia e tecnocracia nada têm em comum, são mesmo mundos distintos, mas se por um funesto acaso surgisse um homeopata tecnocrata numa qualquer cidade do planeta, em Chicago por exemplo e imbuído de um espírito

A Dúvida de Hamlet

Do meu amigo Carlos Piecho a dúvida de Hamlet príncipe relativo da Dinamarca perdeu o sentido agora já sem direcção vetorial dilema agora já sem o perfume do absurdo apesar disso Hamlet sobrevive agora já sem cadeias de tragédia pedras metamorfoseiam-se em aladas bóias Ofélia vive ou volátil flutua viva Hamlet finalmente livre viva Ofélia finalmente rindo viva Eu que esta noite os convidei para jantar 

Quem sou eu?

Escrevi isto há uns tempos, não sei se publiquei se não. pouco importa, apetece-me... Quem sou eu? O que faço aqui? Eu sou muitos. Sou todos aqueles que anseiam viver num espaço de liberdade, aberto, corajoso, capaz de se pôr em causa, de se despir de preconceitos e crescer humanamente com as diferenças que lhe dão forma e força. Sou os que sendo velhos, sobrevivem de velhas reformas dentro dos muros de uma cidade velha, numa casa incómoda que serve apenas para tapar o incómodo abandono a que foram votados. Sou os que começam longe a sua vida activa por não terem na sua própria terra condições para se fixarem. Sou milhares, milhões de vozes em uníssono a gritarem basta! Sou os sem-abrigo, os marginalizados que vivem à margem da sociedade, que percorrem toda a sua existência como sombras. Sou as minorias sem outra expressão que não a revolta, ou o sussurro do medo. Sou os imigrantes clandestinos, enclausurados na sua busca da liberdade. Sou as mulheres abusadas, as crianças violentad

AS PRAÇAS DO LAGO

Temos assistido este ano a múltiplos movimentos de protesto, movimentos de cidadania, movimentos de pessoas que se juntam e manifestam o seu descontentamento e o desejo de mudança e o desejo de fazerem parte dessa mudança. Para mim que sou um incurável romântico seriam a revolta do grande lago, do meu bem amado Mediterrâneo, mas não quero entrar por aí. Se bem que todos estes milhares de anos de história, de revoluções, de avanços e recuos não existam por acaso,  nem as ocasionais surtidas dos nibelungos conseguem apagar a marca do humanismo Greco-Latino ou o determinismo semita do sul, que se combinaram de forma tão harmoniosa para criar o cadinho único que é o nosso código genético. Somos sem dúvida os homens do mundo, os eternos calcorreantes do planeta e isso é bom, porque conhecemos a diferença e conhecendo-a deixamos de a temer e aprendemos a viver com ela, a amá-la mesmo. É exactamente essa capacidade de viver na diferença que está na base destes movimentos, eles são fruto de m

pensamentos de ressaca

Este espaço esteva bastante tempo negligenciado. Fiz mal, é o meu canto, o meu jornal de parede. Hoje retomo-o porque quero falar de eleições, destas eleições que levaram oficialmente ao poder os cultores do neo liberalismo, de um mercado desregulamentado em que se acredita que tudo se equilibra por si, num constante bailado entre estímulos e respostas. Esquecemo-nos de nós, do nosso lugar quando aceitamos participar nesse jogo de falsos equilíbrios e esquecemo-nos porque o nosso lugar é fora dele. A existir, qualquer modelo só poderia vingar enquanto instrumento, para ser apropriado, nunca para ser determinante. É suposto que no séc. XXI o mundo fosse um espaço de conforto e de auto-determinação, que a evolução tecnológica fosse no mínimo secundada pela abrangência de direitos fundamentais, como o acesso à água, à saúde, à educação, à justiça, enfim, que o Homem fosse liberto de tarefas, para aprofundar a sua condição, que esse aprofundamento passasse por atitudes mais integradas,