Avançar para o conteúdo principal

Um projecto de cultura


Aprender a ler é um projecto de cultura.
não tem retorno imediato, é certo, carece de subsídios, é verdade, mas dá algum jeito haver alguém que saiba ler, interpretar um texto, alguém que consiga pensar além do aforro da formiga.
Porque será então que aprender a ler é um projecto de cultura?
Porque permite comunicação, homenageia a memória, alarga o futuro.
Como qualquer projecto de cultura, aprender a ler é exigente; uma vez cumprido exige outros projectos que dele decorrem, exige movimento, mobilidade, espaço de afirmação.
No fundo, aprender a ler é como qualquer outro projecto de cultura, incómodo, porque questiona e questionando se afirma.
É para isso que servem os projectos de cultura, para questionar. Há quem não goste, quem ache que são suficientes as formigas, dispensáveis as cigarras.
Há quem pense que pensar é mau... para os outros...
Mas há quem pense, apenas...
E pensar é abrir a porta a projectos de cultura.
Queime-se então o pensamento.
Inquira-se e queime-se em ofício.
A pequenez é mais fácil de controlar, especialmente a de espírito.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Ali onde tudo é possível

Ali onde tudo é possível Um equilíbrio de pé ante pé numa singeleza de voo de borboleta Um córrego pelas linhas do eléctrico a desaguar no Tejo Águas de levada, sonhos, ânsias, brisas Mesmo mesmo mesmo em frente à Sé, por cima das pedras fenícias, gregas, romanas, mouras, pedras com pedacitos da pele de quem por lá andou,  ouvem-se ainda os gritos do povo a chamar a revolta. “Querem matar o Mestre! Querem matar o Mestre” E o sol a girar, a girar, no milagre anual do Fernando de Bolhões E o Cesário, o Verde E tudo, mas mesmo tudo misturado no fado Tudo a ir A misturar-se com as águas do Bugio... com as naus e as caravelas e os veleiros de três mastros a zarparem para os Brasis que em Lisboa já se fala francês... O Rei e a Carlota Joaquina e a resma de piolhos e de cortesãos empoeirados que foram com eles, mais a régia biblioteca que por lá ficou. Imagino os molhos de sertão e de samba e de escravos negros, polidos a óleo de amendoim e a talhe de chic...