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A Cidadania



Quando votamos para as legislativas, não votamos em pessoas, votamos em manifestos programáticos, em algo que gostaríamos de ver implementado durante a legislatura, existem mulheres e homens que corporizam esses manifestos, que lhes conferem ou retiram credibilidade, mas na sua essência o voto será sempre num manifesto e digo manifesto, porque se trata apenas de uma proposta, algo que depende de inúmeras circunstâncias para que sendo aprovado na Assembleia da República se transforme, aí sim, em programa de governo.
A opção agora encontrada de coligação entre o PSD e o PP, não é a única possível; seria viável um bloco central por exemplo, agora que Sócrates saiu de cena, como seriam possíveis outras hipóteses, se bem que menos plausíveis, como um governo minoritário, com suporte parlamentar previamente negociado.
Quero com isto dizer que o voto, longe de ser uma determinação absoluta da vontade popular, é isso sim, uma indicação de rumo, o estabelecimento de uma linha orientadora para a legislatura. É neste contexto que se enquadram as promessas eleitorais e é das promessas eleitorais que decorrem posteriores afirmações de desconhecimento do estado real da economia, ou de espartilhamento de intenções por via de compromissos pós eleitorais, como as coligações ou os governos minoritários, enfim, desmontada a tenda fazem-se as contas e depois se vê.
Só que dado o momento que vivemos a coisa não é bem assim. Estas eleições foram excepcionais, porque se realizaram enquanto decorria um pedido de resgate; isso determinou a campanha que foi feita a partir de um acordo já existente, (ao que parece) pois os contendores estivessem a favor ou contra esse acordo tiveram inevitavelmente que o assumir como linha mestra das suas campanhas; mas determina também tudo o que se passa e virá a passar neste período pós eleitoral até à aprovação em Assembleia da República do programa de governo.
O que é interessante e constituirá mesmo um caso de estudo, é que sendo o acordo de resgate a peça chave do debate eleitoral ele não foi divulgado (pelo menos oficialmente) nem discutido, tudo se centrou na necessidade de o aceitar sem reservas. As pessoas plebiscitaram-no sem o conhecer, sem terem a clara noção do que esse acordo implicará nas suas vidas. Deram como boas as asserções dos seus defensores, aceitaram como inevitável a sua implementação.
Seria bom, já que ninguém votou numa coligação PSD/PP, (poder-se-ia até ter votado maioritariamente noutra qualquer coligação se isso tivesse sido proposto) que o próximo governo, numa atitude de boa fé e respeito pela transparência democrática, divulgasse esse acordo e o explicasse sob a sua perspectiva e se sujeitasse a um amplo debate no que à sua implementação diz respeito.
Sei bem que virão explicações a defender que o acordo é demasiado complexo, que a maioria das pessoas o não entenderiam… mas, se o não entenderem a incompetência é de que explica, não de quem ouve.

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