Este espaço esteva bastante tempo negligenciado.
Fiz mal, é o meu canto, o meu jornal de parede.Hoje retomo-o porque quero falar de eleições, destas eleições que levaram oficialmente ao poder os cultores do neo liberalismo, de um mercado desregulamentado em que se acredita que tudo se equilibra por si, num constante bailado entre estímulos e respostas.
Esquecemo-nos de nós, do nosso lugar quando aceitamos participar nesse jogo de falsos equilíbrios e esquecemo-nos porque o nosso lugar é fora dele. A existir, qualquer modelo só poderia vingar enquanto instrumento, para ser apropriado, nunca para ser determinante.
É suposto que no séc. XXI o mundo fosse um espaço de conforto e de auto-determinação, que a evolução tecnológica fosse no mínimo secundada pela abrangência de direitos fundamentais, como o acesso à água, à saúde, à educação, à justiça, enfim, que o Homem fosse liberto de tarefas, para aprofundar a sua condição, que esse aprofundamento passasse por atitudes mais integradas, ambientalmente, nas relações com outras culturas, na afirmação e defesa da diversidade cultural e biológica.
não é isso que acontece, ao invés, as desigualdades acentuam-se, enquanto uns malbaratam recursos, outros sobrevivem à míngua, e sobrevivendo apenas vivem no medo de perder o que já não têm, enquanto que outros, uma restrita minoria, vivem exactamente da exploração desse medo.
Com o fim da guerra fria, o mundo ficou desequilibrado, perdeu-se o contra-poder, aceitou-se como inquestionável o paradigma do mercado e os direitos foram sendo cerceados, as desigualdades acentuaram-se, os recursos passaram a ser transaccionáveis, o ar, a água por exemplo, são agora cotados, transaccionados e não existe dentro deste sistema representativo uma resposta adequada que não passe pela ruptura.
O caos surgirá inevitavelmente e do caos emergirão novos cosmos, novas configurações, a democracia tal como a entendemos, tem os dias contados.
Por cá o primeiro passo está prestes a ser dado. Acontecerá quando as pessoas descobrirem o logro em que cairam, quando se aperceberem que esta nova ordem é afinal de contas muito velha....
Há uma lei sociológica que diz que sempre que existe poder existe contra poder.
ResponderEliminarO poder apresenta-se por isso nesta fase com ares moderados (daí os apelos à contenção de PPortas e de PPCoelho).O contrapoder parece assim também menos presente. Mas é apenas efeito das aparências de solenidade com que revestimos as eleições.
Sem dúvida Dores.
ResponderEliminarreferi-me aqui ao facto de após o desmantelamento do bloco soviético (com a derrota na guerra fria)não ter surgido uma alternativa que mantivesse o eixo fora do modelo de mercado.
hoje as relações de poder subsistem apenas dentro deste paradigma...
assistimos à queda do antropocentrismo
ResponderEliminarcomo observadores antropocêntricos, talvez chico-espertos, pensamos sem refletir, que tudo cai excepto nós
pois também nós caímos, estamos a cair, ai
a diferença está no quantidade e qualidade do susto
e, claro, na confiança e consistência dos centros de gravidade