fotografia da aldeia da terra trabalho de Tiago Cabeça e Magda Ventura
Ontem na Assembleia Municipal de Évora, uma representante do povo do Concelho, Carmen Balesteros, questionou o Executivo acerca do destino anunciado do Centro de Artes Tradicionais; em que pé estão as obras? Que projecto museográfico está elaborado para o novel Museu do Artesanato e Design? Se estão a ser feitos novos expositores que peças irão albergar? Tudo questões absolutamente lógicas, mesmo inevitáveis para quem representando os munícipes, tendo consciência cívica, não abdica dos seus direitos, honra os seus compromissos.
Respondeu a Vereadora da Cultura afirmando que disso nada sabia, que a CME enquanto parceira no protocolo tripartido, que visa a substituição do CAT por outra coisa qualquer que inclua a colecção de design industrial do Prof Parra, tem apenas a responsabilidade das obras e da manutenção (também logística) do espaço e que, pasme-se, essas questões transcendem o papel dos eleitos nesta farsa vicentina.
Fica assim o destino do nosso património nas mãos de duas entidades que não foram legitimadas através de eleições, porque para o nosso executivo a CME tem nisto unicamente o papel de mestre de obras.
Está tudo dito, a coisa resolve-se pelas leis da física; o vazio da Câmara preenche-se pela intromissão de oportunistas.
Este é um exemplo paradigmático do que neste país se passa quando falamos de cultura, porque a cultura existe e grita e gesticula e não se verga. Só que... num país onde os criadores enquanto vivos são incómodos e depois de mortos vão para os Jerónimos, num país governado por gente cuja visão de cultura é estática, meramente patrimonial, em que tudo se mede pelo livro do merceeiro, o analfabetismo funcional é sempre passaporte para o poder.
Em Portugal a cultura é um artefacto num móvel, ou metro e meio de lombadas sem livros a tapar as garrafas de aguardente no aparador da sala de jantar.
Em Portugal a cultura é pecado que se se redime com a morte, porque os mortos não reclamam.
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