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Pessoas

Há uns anos atrás, vivia eu na Bica, em Lisboa, aconteceu-me sair à noite, para ir ao Bairro Alto, como fazia frequentes vezes. Nessa noite, as ruas estavam repletas e eu, que não gosto de grandes confusões, resolvi voltar para casa.

No regresso cruzei-me com um amigo, que se mostrou espantado por eu ir tão cedo para casa. Repondi que havia muita gente nas ruas.
"Tens razão", disse depois de pensar um pouco," muita gente e poucas pessoas".
Prefiro pessoas a gente.
Desconfio sempre daquelas frases que elogiam o aprender a ser gente. Qualquer um pode aprender, até os burros aprendem se lhes enfiarem uma cenoura à frente do nariz. Há até um leque de gente para todos os gostos e serviços.
Quanto a ser pessoa...
Ou se é, ou não. As pessoas vão muito além, têm cara e espinha dorsal e destacam-se pela sua singularidade no meio das gentes.
Eu,  pela parte que me toca cultivo as pessoas, sei que a floresta é feita de árvores e, baseado nesta constatação construo as minhas relações.
Quero aqui deixar público testemunho da minha solidariedade às pessoas que saíram do Registo e às que tiveram de lá ficar a suportar aquela gente.

Comentários

  1. Obrigado, MIguel. Umas linhas só para dizer que também saí do Registo. Preciso de trabalho, claro, mas hoje de manhã, ao levantar, não gostei da minha cara no espelho. E saí. Aquilo já não é sítio onde se possa trabalhar com um mínimo de honradez, e sinto que não posso continuar lá. Agora procuro trabalho, seja o que for, part-time, full-time, temporário, permanente, seja o que fôr, desde que dê os trocados que um homem precisa para a bucha. Saí, e nasceu-me uma alma nova.

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