Avançar para o conteúdo principal

Pessoas

Há uns anos atrás, vivia eu na Bica, em Lisboa, aconteceu-me sair à noite, para ir ao Bairro Alto, como fazia frequentes vezes. Nessa noite, as ruas estavam repletas e eu, que não gosto de grandes confusões, resolvi voltar para casa.

No regresso cruzei-me com um amigo, que se mostrou espantado por eu ir tão cedo para casa. Repondi que havia muita gente nas ruas.
"Tens razão", disse depois de pensar um pouco," muita gente e poucas pessoas".
Prefiro pessoas a gente.
Desconfio sempre daquelas frases que elogiam o aprender a ser gente. Qualquer um pode aprender, até os burros aprendem se lhes enfiarem uma cenoura à frente do nariz. Há até um leque de gente para todos os gostos e serviços.
Quanto a ser pessoa...
Ou se é, ou não. As pessoas vão muito além, têm cara e espinha dorsal e destacam-se pela sua singularidade no meio das gentes.
Eu,  pela parte que me toca cultivo as pessoas, sei que a floresta é feita de árvores e, baseado nesta constatação construo as minhas relações.
Quero aqui deixar público testemunho da minha solidariedade às pessoas que saíram do Registo e às que tiveram de lá ficar a suportar aquela gente.

Comentários

  1. Obrigado, MIguel. Umas linhas só para dizer que também saí do Registo. Preciso de trabalho, claro, mas hoje de manhã, ao levantar, não gostei da minha cara no espelho. E saí. Aquilo já não é sítio onde se possa trabalhar com um mínimo de honradez, e sinto que não posso continuar lá. Agora procuro trabalho, seja o que for, part-time, full-time, temporário, permanente, seja o que fôr, desde que dê os trocados que um homem precisa para a bucha. Saí, e nasceu-me uma alma nova.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Ali onde tudo é possível

Ali onde tudo é possível Um equilíbrio de pé ante pé numa singeleza de voo de borboleta Um córrego pelas linhas do eléctrico a desaguar no Tejo Águas de levada, sonhos, ânsias, brisas Mesmo mesmo mesmo em frente à Sé, por cima das pedras fenícias, gregas, romanas, mouras, pedras com pedacitos da pele de quem por lá andou,  ouvem-se ainda os gritos do povo a chamar a revolta. “Querem matar o Mestre! Querem matar o Mestre” E o sol a girar, a girar, no milagre anual do Fernando de Bolhões E o Cesário, o Verde E tudo, mas mesmo tudo misturado no fado Tudo a ir A misturar-se com as águas do Bugio... com as naus e as caravelas e os veleiros de três mastros a zarparem para os Brasis que em Lisboa já se fala francês... O Rei e a Carlota Joaquina e a resma de piolhos e de cortesãos empoeirados que foram com eles, mais a régia biblioteca que por lá ficou. Imagino os molhos de sertão e de samba e de escravos negros, polidos a óleo de amendoim e a talhe de chic...