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"Pubis pubis"


Tenho andado arredio deste espaço.
Estou envolvido na campanha eleitoral para a Presidência da República e a vida para lá da faina do voto também tem chamado por mim. Mas o dia 23 aproxima-se e o tempo (como diria o Jesus do benfica) ruge.
Vistas e ouvidas as intervenções dos vários candidatos, dois sobressaem como corpos estranhos, Coelho, o homem da Madeira, que desmonta através da sua intervenção cívica (cívica sim) o lado bacoco desta teia de relações a que chamamos sistema e que já deveria ter sido revista há muito e Cavaco, o homem da transparente opacidade.
Transparente, porque à medida que vai falando todos nós entendemos o que é e ao que vem. Uma pessoa dúbia, sem valores sustentados, a não ser um pretenso pragmatismo que foi construindo baseado na sua formação académica e que, descarta qualquer comprometimento social que implique uma distribuição justa dos direitos e obrigações dos cidadãos, base de uma sociedade democrática feita por e para homens livres.
Para Cavaco a responsabilidade social não é inerente à vida em sociedade, não nasce connosco, ela é isso sim, uma possibilidade de escolha, um gesto "altruísta" praticado pelos que podem, para atenuar o sofrimento dos que não têm, de forma a que estes últimos subsistam apesar de nada terem e de assim continuarem.
Esta visão assistencial retrógrada do capitalismo puro e duro, que se pensava erradicada desde a segunda metade do século passado, afinal persiste, com novas roupagens e cores mais vivas, mas com o cheiro inconfundível a naftalina que sempre acompanha a velha senhora.
Tudo o resto da campanha de Cavaco é entendível à luz desta análise.
A mulher que está ao lado do marido, (porque não o contrário?) a produção agrícola partilhada com os amigos e o remanescente oferecido a instituições de solidariedade, a arrogância, a sobranceria com que descarta quaisquer responsabilidades no desconchavo do país, as histórias constantes acerca dos seus negócios, que se recusa a esclarecer... Enfim, Se Coelho arrasa por fora, Cavaco consome-nos por dentro, corrói as entranhas da gente comum, anula-nos a esperança em dias melhores.
Opaco porque se este homem ganhar, todos perderemos,  pode-se sempre perder mais e mais, pode-se mesmo perder a Liberdade e aí...

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