Avançar para o conteúdo principal

Comissão de Ética



Há muitos anos atrás, quando ainda não existiam automóveis.
As pessoas, deslocavam-se utilizando cavalos ou burros, ou até mesmo carroças puxadas por juntas de bois. Nada era como hoje em dia, as estradas a maior parte das vezes, não passavam de caminhos em terra batida, cheios de buracos e enlameados quando chovia, era muito desconfortável viajar nessa época.
Havia no entanto alguém que tinha de viajar bastante. Em muitas povoações faziam-se feiras de gado, onde se comerciava tudo o que fosse animal, desde galinhas a coelhos, cães, gatos, porcos, vacas, cavalos, burros, enfim, todas as espécies domésticas tinham lugar nessas feiras.
É claro que os comerciantes de gado saltavam de feira em feira para fazer os seus negócios, e por isso, percorriam muitos quilómetros por esses caminhos mal amanhados.
Era raro viajarem sozinhos, normalmente juntavam-se em grupos e assim sentiam-se mais seguros no caso de serem assaltados, ou atacados por alguma alcateia ao atravessar um sítio mais isolado.
Nesta história, verdadeira, o negociante de gado, fez-se acompanhar por um empregado de confiança, que até era bom rapaz, mas que tinha um grande defeito. Era um bocado fanfarrão…
Saíram cedo, ainda de noite, cada um em sua montada, e percorreram em silêncio grande parte do caminho. Depois de o Sol ter nascido, pararam um pouco para descansar e comer qualquer coisita, que as forças já começavam a faltar.
Foi então que o empregado quebrou o silêncio.
- Oh patrão, ainda bem que nasceu o dia, sabe que eu já estava a ficar com medo.
- Então porquê, perguntou o patrão. Aqui não existem salteadores, nem animais perigosos…
- Aí é que o patrão se engana, ainda outro dia quando vim roçar mato para estas bandas, eu vi uma raposa tão grande que mais parecia um boi.
- A sério?
- Verdade patrão, se eu não me tivesse escondido atrás de umas moitas, se calhar já cá não estava para lhe contar, que a raposa de tão grande que era, comia-me pela certa.
O patrão não disse nada, limitou-se a sorrir, montou-se no cavalo e seguiu viagem, com o fanfarrão atrás.
Passado um bocado e como quem não quer a coisa, o patrão com um sorriso, apontou um rio que se via muito ao longe serpenteando entre as encostas da montanha.
- Estás a ver aquele rio. Nós vamos atravessá-lo por uma ponte que ainda não se vê daqui e que se chama, imagina, a ponte dos mentirosos.
- A ponte dos mentirosos! Porquê patrão?
- Porque é uma ponte especial, dizem que se alguém tiver pregado uma mentira e a tentar atravessar, ela abre-se, e essa pessoa cai ao rio.
O empregado calou-se e ficou com um ar pensativo, mas não deu parte de fraco.
Passado um bom bocado, ouviu-se a sua voz.
- Patrão, oh patrão.
- Diz lá o que queres rapaz.
- Bem o patrão recorda-se de eu lhe ter dito há bocado que tinha visto uma raposa do tamanho de um boi?
- Sim, lembro.
- É que ela não era bem do tamanho de um boi, era assim mais como um cão, mas um cão grande, isso com certeza.
- Ahhh, limitou-se a responder o patrão.
- Quanto mais avançavam e mais perto ia ficando a ponte, mais nervoso o rapaz ia ficando.
Até que.
- Oh patrão, afinal a raposa não tinha nada o tamanho de um cão, agora que me lembro melhor, quase que posso jurar que se tratava de uma raposa como as outras, nem mais nem menos.
- Tu é que sabes, tu é que a viste. Retorquiu o patrão.
Entretanto chegaram à beira da ponte e enquanto o patrão a atravessou sem hesitar, o bom do empregado ferrou a mula e não havia modos nem maneiras de o pôr em cima da dita ponte.
- Então o que se passa, perdeste o pio? Perguntou-lhe o patrão.
- Porque é que não atravessas, Queres dizer-me alguma coisa?
- Sabe patrão, é que eu nunca vi raposa nenhuma e se me puser a atravessar a ponte, ela abre-se e eu caio ao rio patrão e como não sei nadar…
- Não te preocupes rapaz, agora que disseste a verdade podes vir à confiança, que a ponte não se abre. Mas que isto te sirva de lição, mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo.  


Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Os cães no Santuário de Fátima

Continuem a fechar os olhos...  Ju Carvalheiro O ESCANDALO do Santuário de Fátima em relação ao abate de animais é conhecido de muitos, mas ninguêm ainda conseguiu parar esta crueldade . As ordens partem da Reitoria do Santuário, para que todos os cães que aparecem por Fátima, quer sejam adultos ou cachorros, quer tenham donos ou não, são capturados pelos seguranças e colocados na caixa que apresentamos em foto. Esta caixa está mesmo nas traseiras do santuário, no local das oficinas. Ali ficam os cães durante algumas semanas, ao frio e á chuva de Inverno, á chapa do sol, no Verão. Sem direito a comida ou água, num espaço minimo onde a maioria nem se consegue colocar de pé... Existem alguns seguranças que não levam os cães capturados para este local, conseguem levar alguns para casa e adoptam-nos ou arranjam donos entre os seus vizinhos ou cologas de trabalho. Boa gente esta que sofre em ver os animais assim tratados, mas que se sente impotente com a ameaça de perderem os seus...

Abril dos meus encantos

Amanhã 25 de Abril Para muitos é uma data de calendário, um dia que foi e que se celebra por ter sido. Um marco a definir o antes e o depois. Antes a bruma medieval do fascismo do Estado Novo que se tornou velho, depois a Democracia, os cravos, o povo unido, o folclore produzido por aqueles que sendo passageiros do antes, tentaram impor de todas as formas o regresso às trevas da oligarquia que nos dominava. Para mim 25 de Abril será sempre o de 1974, quando eu tinha dezassete anos e encarava o mundo como um campo por lavrar, um imenso campo onde todo povo coubesse, uma lavra que por ser de todos não seria nunca de ninguém. Tinha então dezassete anos... Fui para o Carmo e andei pelas ruas e cantei e bailei e festejei antecipadamente o meu direito a errar, porque errar significa optar e optar é poder corrigir o erro. Desses tempos um ensinamento me ficou, uma mensagem de Abril, talvez a mais importante. Não há que ter medo! o medo é o pior inimigo do sonho, o medo tolhe, o medo s...