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o poema é uma arma


“Se queres escrever poesia
porque é que não escreves poesia?

Porque é que não cantas
as aves e os peixes,
os ramos persistentes dos antigos carvalhos,
a fúria dos elementos?

Porque é que não dás voz
a quem não tem dinheiro para o tabaco,
à criança que vagueia pelas lixeiras…”

Existe um vate em Portugal, cujo nome não refiro, que é um homem de esquerda, que apregoa solidariedades várias e que se encanta com o sorriso das crianças e por isso escreve para elas.
Existem crianças que lêem os seus livros, que se deixam seduzir pelos seus poemas, que por via deles sonham com um mundo melhor.
Esse filho das musas é muitas vezes convidado para se deslocar às escolas, conviver com as crianças, falar-lhes em português do português com que expressa a sua mensagem.
Esteve para vir a Évora, a S. Mamede. Toda a Escola se agitou, fizeram-se desenhos, escreveram-se poemas, enfeitou-se a escola, crianças houve que fazendo anos no mesmo dia do vate, entusiasmadas escreveram sobre isso para lhe entregar, assim como uma prenda antecipada de aniversário. Toda a gente sabe que isso é bom. Não existem melhores presentes do que os das crianças, são tão genuínos na sua simplicidade…
Chegou o dia e o arrebanhador de sonhos não chegou. Adoecera…
Mas será realmente assim que a história se passou?
Não!
Viria a sublime criatura a Évora, mediante transporte e pagamento. Tudo bem! Se chamarmos um canalizador, ou um médico, ou um calista, ou um electricista à nossa casa ele cobra-se e acrescenta à factura o custo dos transportes. Porque haveria de ser diferente com um guardador de palavras? Também come, também tem família, também precisa de ver o seu trabalho recompensado. Só por má fé ou ignorância persistente se pode contestar.
Acresce a isto o facto de o homem ser tão pobre que nem telefone tem, por isso só quando o motorista da CME lhe bateu à porta é que se soube que ele não viria por estar doente.
Foi de tal ordem a maleita que nem uma mensagem mandou às crianças… Decepção… mas pronto, ele até tinha sido bastante singelo nas suas exigências:
Ir às salas não! Não estava para isso, reunissem as crianças na biblioteca que ele falaria a todos, como S. Paulo aos Coríntios.
Ir à sede do agrupamento falar com os mais graúdos? Certamente! Desde que pagassem por isso…
Foi pena. Não pode vir o poeta. Adoeceu… mas depois, quando contactado para se saber se de facto viria… retorquiu em redondilha menor que não, que lhe escasseava o tempo.
Agradecem as crianças e eu confirmei o que já sabia da natureza humana.
Longe vá o agoiro.



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