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Feliz Natal na Paz de Cristo


Aproxima-se o Natal, já se ouvem ao longe os sinos das renas e a gargalhada estrábica do vendedor da coca-cola.
É a versão consumista da modernidade, substitui-se o gaiato Jesus pelo cota de encarnado. Desenganem-se no entanto os puristas, que a coisa não é muito diferente.
Em verdade vos digo, que de facto à dois mil anos, mais ou menos, nasceu para as bandas do oriente mediterrâneo um rapaz, presumivelmente Essénio, que se viria a destacar do maralhal, pela sua intensa actividade política.
Poder-se-ia afirmar sem grande receio de errar, que foi um anarquista "avant la lettre" como Pitágoras ou Gautama e muitos mais, que em tempos remotos já tinham uma visão igualitária do mundo.
Teve uma vida cheia, mesmo arrebatadora. Conseguiu fazer tremer o poder, arrastou consigo multidões identificadas com a sua mensagem, magnetizadas pelo seu carisma.
Foi de tal ordem o seu impacto, que foi perseguido, condenado, executado (ao que dizem) de forma exemplar.
Tal homem não podia morrer, de modo que o ressuscitaram. Aqui e ali surgiam relatos de efémeras aparições, de codificadas mensagens, enfim, desapareceu o homem para dar lugar ao mito. Nada de novo na história pregressa, assim a modos que um eterno retorno.
Mesmo agora ainda há quem jure a pés juntos que o viu  nas docas a jantar com o D. Sebastião e o Elvis, discutindo entre garfadas o estado da cultura, as repercussões da bolha imobiliária.
Espertos os funcionários da ICAR, apropriaram-se do mito e aprazaram-lhe o nascimento para o Solstício de Inverno, a celebração do constante rejuvenescimento vinha-lhes a jeito.
Uma mãe austera que negasse Isis e Astarte e Ishtar, um pai omnipresente e omnipotente, um padrasto complacente e crédulo, uma limpeza placentária a eliminar manos e manas do retrato de família e a coisa fez-se.
Colocaram-no num palheiro com um burrico e uma vaquinha como aquecedores e como primeiras visitas encomendaram uns pastorinhos vindos com os seus rebanhos de uma primavera qualquer (já que a coisa se passou em Dezembro) para a adoração popular ao novel líder (apenas espiritual, já se vê).
Os patorinhos eram a modos que os comissários políticos dos rebanhos, massa indistinta, que vai para onde a mandam e cumpriram muito bem o seu papel, oferecendo o produto do  trabalho de todos, submissos e sem reivindicações.
Mais tarde, veio o reconhecimento internacional com os reis magos. Uma poderosa embaixada montada em camelos (poderia ser de outra forma?) trouxe presentes de maior substrato, entre eles o ouro, esse símbolo não deteriorável do poder, o incenso esse aroma inconfundível da bajulação, mais a mirra, essa resina de sabor amargo, como a solidão do poder.
Não acredito que isto tenha mesmo acontecido, não vejo os reis magos a furarem o bloqueio do poder imperial, para darem conta do seu apoio a um recém nascido com oráculo de revolucionário, mas era conveniente à ICAR quando no séc. V publicou pela primeira vez o argumento.
Assim se transforma um homem bom num deus medíocre...
Se na altura existissem os Wikipapiros talvez a história fosse outra...

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