Avançar para o conteúdo principal

Callas de amor a alguém que nunca foi, mas que poderia ter sido.






Como se do rio que me seduz a janela,sobressaísse apenas o rastro das naus que abraçaam o mundo.
Fantasmas, apenas fantasmas, nada mais! grita-me a angústia ao ouvido da alma.
Mas eu garanto-me o contrário, por isso escrevo espesso, que é a cor da minha memória, a veste atávica deste fado mareante.
Não importa o rastro, tãopuco as naus que o desenham; importam-me os homens, esses circum-navegantes da vida, que volta após volta, lavram um mundo maior que o tempo, maior do
que a própria existência.
Não é um rio de lágrimas esse que me seduz a janela.
Essa janela, meu amor, é nossa.
Que palavra, que mágica?
Como posso eu, que dia a dia te pressinto, te aspiro, escrever a espuma de ti, sem me tornar Narciso e confundir a paixão com o espelho...
Sorris, nesse teu jeito simples de fazer as coisas, todas as coisas, e eu, insisto, no meu trejeito arrebatado de ser.
Todo o meu Sol, oh fazendeira, se compraz em iluminar as pequenas coisas que inteiram a vastidão sempre crescente do todo, dessa sublime dispensa da some de todas as coisas.
Sorris, e atua Lua dá-me a distância que permite ver.
É um reflexo apenas, dizem os outros, aqueles que se plasmam por fora.
Sorrio eu agora, eu, que já me pensei Lua e esperei um raio, pequeno que fosse, um luzimento apenas, só para reflectir a alma.
Sorrimos ambos, não os dois, importante é sorrirmos ambos, cada um com a sua diferença...



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Ali onde tudo é possível

Ali onde tudo é possível Um equilíbrio de pé ante pé numa singeleza de voo de borboleta Um córrego pelas linhas do eléctrico a desaguar no Tejo Águas de levada, sonhos, ânsias, brisas Mesmo mesmo mesmo em frente à Sé, por cima das pedras fenícias, gregas, romanas, mouras, pedras com pedacitos da pele de quem por lá andou,  ouvem-se ainda os gritos do povo a chamar a revolta. “Querem matar o Mestre! Querem matar o Mestre” E o sol a girar, a girar, no milagre anual do Fernando de Bolhões E o Cesário, o Verde E tudo, mas mesmo tudo misturado no fado Tudo a ir A misturar-se com as águas do Bugio... com as naus e as caravelas e os veleiros de três mastros a zarparem para os Brasis que em Lisboa já se fala francês... O Rei e a Carlota Joaquina e a resma de piolhos e de cortesãos empoeirados que foram com eles, mais a régia biblioteca que por lá ficou. Imagino os molhos de sertão e de samba e de escravos negros, polidos a óleo de amendoim e a talhe de chic...