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Homem Estátua




Há muito nas coisas expressas que transcende de largo o que retemos no olhar.
Uma fotografia de alguém que desconhecemos, por exemplo, leva-nos sempre a uma viagem reveladora, véus soltam-se e mostram-nos sempre tudo o que o olhar frio da câmara não conseguiu revelar.
A época, o enquadramento, o estatuto económico do fotografado….
Enfim, revela-se a pessoa por detrás da máscara.
O mesmo com as cidades. As ruas desvendam quem as traçou, mas desvendam também quem as percorre.
Não nos define aquilo de que dispomos.
A nossa assinatura está no uso que lhe damos.
Não resisto a contar aqui um episódio interessante.
O meu amigo António, conhecido por “Homem Estátua”, cansado dos entraves colocados às suas performances nas ruas deste país, contou-me que a primeira vez que foi a Copenhaga, ao escolher um sítio para actuar, foi abordado por um polícia que, espanto dos espantos, lhe indicou um local mais conveniente, já que por desconhecimento da cidade, o bom do António tinha optado por um espaço menos concorrido do que seria desejável.
Depois da actuação, quando arrumava as suas coisas, foi abordado por alguém que se identificou como membro da associação do comércio local e agradecendo, lhe entregou um contributo monetário, pois  com a sua performance o “Estátua” tinha chamado potenciais clientes para as lojas circundantes.
Não interessa comentar o óbvio. O que daqui recolho, é a existência de uma estratégia. De algo debatido, digerido, aceite por todos e posto em prática independentemente das conjunturas.
Não se pode viver uma cidade no transitório.
Se calhar, antes de falar, há que saber ouvir.
Monólogos dispensam-se.
Ouça-se quem dá a cara pela cidade.

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