Está-se sentado num bar de fim de tarde, só, entre muitos.
À frente, um copo de cerveja.
Em torno, vozes, muitas vozes, sobrepondo-se, amalgamando-se, tornando-se indistintas na sua desordem.
Na cerveja, destacam-se as bolhas gasosas que amarinham copo acima até ao contacto do ar.
Entretanto, outras vão surgindo e, quando desaparecem de todo, a cerveja está morta.
Não é um processo imediato, as bolhas vão escasseando até à extinção, e aí, com o seu fim, a cerveja perde o sabor, irremediavelmente.
Pede-se outra.
Renova-se o processo e a tiragem sai melhor, filha da experiência ganha a verter a bebida para o copo.
Perto, apoiado no confortavelmente sólido balcão de madeira, um homem de meia idade, de altura invulgar e corpo seco, limita-se a ouvir, mas pelo seu rosto cerzido no osso, baila uma distância que lhe confere a máscara do alheado.
Apenas um ligeiro arrepanhar da boca, quase despida de lábios, lhe trai o esforço de ouvir.
Para onde o seu olhar aponta, um grupo, pequeno, agita-se; dele uma voz emerge.
- Acreditem, ... É sem petulância que manifesto o meu direito de adiar... Pese embora a consciência desse pequeno acto não passar de uma mera dilação... Manobra de diversão, tempo ganho enquanto os anjos não estendem as asas sobre esta minha existência, apenas para proporem o conforto de outras visões...
Está-se à janela agora.
Avista-se o estuário que corre manso.
Na outra margem, dominante, uma estátua de Cristo, braços abertos à cidade.
Em surdina, com a brisa que sobra do rio, ei-lo que que segreda: "Sou um Messias exposto, de braços abertos, não ligo ao nevoeiro, não porque seja apenas uma nuvem impedida de voar; mas irrita-me a água do nevoeiro.
São apenas gotas, não chegam à Índia!
Guardam-nas sonhos até que o Sol as evapore...
A mim, com estes braços abertos só chegam os rios, nunca as gotas que os sustêm..."
Está-se na beira do rio.
Quase junto à água, três homens contemplam em silêncio.
Não flam porque se pressentem e isso basta-lhes.
A brisa corre por eles e traz novas da cidade, da noite agonizante.
Muito ao longe murmura-se um fado e, as notas soltas, desgarram-se pelas ruas, antes de se perderem entre a nostalgia da neblina que começa a soltar-se do rio...
À frente, um copo de cerveja.
Em torno, vozes, muitas vozes, sobrepondo-se, amalgamando-se, tornando-se indistintas na sua desordem.
Na cerveja, destacam-se as bolhas gasosas que amarinham copo acima até ao contacto do ar.
Entretanto, outras vão surgindo e, quando desaparecem de todo, a cerveja está morta.
Não é um processo imediato, as bolhas vão escasseando até à extinção, e aí, com o seu fim, a cerveja perde o sabor, irremediavelmente.
Pede-se outra.
Renova-se o processo e a tiragem sai melhor, filha da experiência ganha a verter a bebida para o copo.
Perto, apoiado no confortavelmente sólido balcão de madeira, um homem de meia idade, de altura invulgar e corpo seco, limita-se a ouvir, mas pelo seu rosto cerzido no osso, baila uma distância que lhe confere a máscara do alheado.
Apenas um ligeiro arrepanhar da boca, quase despida de lábios, lhe trai o esforço de ouvir.
Para onde o seu olhar aponta, um grupo, pequeno, agita-se; dele uma voz emerge.
- Acreditem, ... É sem petulância que manifesto o meu direito de adiar... Pese embora a consciência desse pequeno acto não passar de uma mera dilação... Manobra de diversão, tempo ganho enquanto os anjos não estendem as asas sobre esta minha existência, apenas para proporem o conforto de outras visões...
Está-se à janela agora.
Avista-se o estuário que corre manso.
Na outra margem, dominante, uma estátua de Cristo, braços abertos à cidade.
Em surdina, com a brisa que sobra do rio, ei-lo que que segreda: "Sou um Messias exposto, de braços abertos, não ligo ao nevoeiro, não porque seja apenas uma nuvem impedida de voar; mas irrita-me a água do nevoeiro.
São apenas gotas, não chegam à Índia!
Guardam-nas sonhos até que o Sol as evapore...
A mim, com estes braços abertos só chegam os rios, nunca as gotas que os sustêm..."
Está-se na beira do rio.
Quase junto à água, três homens contemplam em silêncio.
Não flam porque se pressentem e isso basta-lhes.
A brisa corre por eles e traz novas da cidade, da noite agonizante.
Muito ao longe murmura-se um fado e, as notas soltas, desgarram-se pelas ruas, antes de se perderem entre a nostalgia da neblina que começa a soltar-se do rio...
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