Avançar para o conteúdo principal

O Povo é sereno


A minha madrinha Roque deu-me uma moeda de vinte e cinco tostões para ir comprar rebuçados à loja do Maurício Matias, que ficava no outro lado da rua.
Lá fui eu todo lampeiro com a pequena moeda de prata na mão fechada. Ao entrar na venda, que à época era também uma casa de vinhos e petiscos, deram em estalejar foguetes lá para os lados do Pupo. Que é que se passa, ouvi alguém perguntar. O botas caiu de uma cadeira, e está a bater a caçoleta, respondeu uma voz vibrante de alegria.
Que raio, pensei eu, então o Constantino cai da cadeira, fica às portas da morte e as pessoas põem-se a festejar, fiquei com pena do Constantino Botas, homem simpático, meu vizinho, até me contava histórias de polícias e ladrões… que gente mais desumana.
Entretanto o Maurício convidara todos os presentes para beberem um copo e, a mim ofereceu-me uma laranjada da rical, claro que me recusei a aceitá-la, jamais faria essa desfeita ao meu amigo Constantino. Mas de repente, ei-lo que aparece a dobrar a esquina, todo contente, de sorriso estampado no rosto.
-Então não foi você caiu da cadeira Sr. Constantino? Gargalhada geral.
-Não rapaz, foi o outro botas, o velho corvo, lá em Lisboa, eu ainda estou para durar, bebe lá a tua laranjada que é dia de festa, e guarda o dinheiro, que hoje sou eu quem te oferece os rebuçados.
Devia ser tramado esse velho botas, para as pessoas ficarem tão contentes com a sua triste sorte…

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Viva a globalização II

WILSON from Arnaud Bouquet on Vimeo . Vou postar todos os dias um video com lágrimas. Um video do absurdo e da estupidez. Um video da insanidade deste mundo que habitamos. Da esquizofrenia global. Da imensa tristeza de habitar tal espaço...

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua melanco