Há muito tempo,
muitíssimo tempo,
e há uns cinquenta anos talvez
porque.
como vem escrito no meu estado civil, eu teria nascido a 4 de setembro de 1896 em Marselha, Bouches-du-
-Rhône, França, e socialmente falando terei qualquer coisa como cinquenta e quatro anos e quatro meses,
há mais de cinquenta anos portanto
dei conta de uma insigne e mirabolante mentira.
Mentira que é a humanidade ter, num sítio qualquer, um animal que nunca quis eliminar, uma espécie de animal suave que ela escrupulosamente oculta à espera do dia, por si mais abençoado e citado, em que poderá trazê-lo à luz.
Mas isto é a verdade do homem, este irreprimível e guloso biltre que cem mitos descrevem, exigido por cem mitos,
e que não mais se moveu desde as suas primeiras incrustações.
A mentira é a desta honestidade de fachada
que, sabemos lá por quanto tempo ainda, encobre as relações humanas,
apesar de a grande obsessão da consciência ser o mal,
a satisfação sem peias de não sei que abjecto desejo entre o erotismo e o cadáver que, noite após noite, passa por toda a gente,
mas que senti entrar em mim de uma forma localisada e corporal de mais para não se transformar nesse inimigo irredutível e definitivo de vida em sociedade, que há nove anos eu demonstrei ser em Dublin, quando ia mostrar aos Irlandeses um certo bordão que começou por se revelar motivo de me prenderem e depois deportarem, por fim internarem durante nove anos.
Antonim Artaud -História Vivida de Artaud.Momo
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