Avançar para o conteúdo principal

Os monstros


O dique finalmente cedeu. O caudal foi demasiado forte mesmo para um dique chamado Igreja.
Durante séculos conseguiram encobrir toda a disfunção que o exercício não escrutinado do poder acarreta.
Sempre se soube o que se passava nas sacristias, nas residências pastorais, nos seminários, por toda a parte.
Mas sabendo-se, a informação não chegava a toda a gente, ficava circunscrita aos vizinhos da paróquia, era facilmente demarcada. Hoje em dia, com a velocidade quase instantânea com que a informação corre o mundo, a Igreja ou o seu braço secular não consegue impedir que as notícias sejam confrontadas, não consegue suster, por muito poderosa que seja, e ainda o é, a indignação das pessoas.
Tudo isto é apenas o começo da descredibilização de uma instituição que nada tem a ver com os ensinamentos libertários do seu fundador.
Não se pense no entanto que este fenómeno é exclusivo da igreja, é uma chaga social filha de uma sociedade sem valores, em que aos poderosos tudo é permitido, enquanto que aos mais fracos cumpre o papel de servos da gleba, de escravos contratados por senhores sem rosto, escravos que vendem a sua dignidade e a dos filhos em troca da subsistência.
não nos iludamos os monstros não se vestem apenas de púrpura, há-os por aí em qualquer lado, onde menos se espera

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A historia da Girafa sem Pescoço

Era uma vez uma girafa, muito simpática, que morava numa enorme savana, lá bem no coração de África. Mas a nossa amiga girafa, não era completamente feliz. Tinha uma pequena mágoa sempre a roer-lhe a alma. À primeira vista ninguém conseguiria dizer que ela não era uma girafa como as outras, com o seu enorme pescoço e as manchas castanhas a cobrirem-lhe o corpo amarelado. Como as outras girafas, tinha o seu jeito desengonçado de andar e o hábito de mastigar as folhas que ia tirando das árvores. Quem a visse diria sem qualquer dúvida que ela era uma vulgar girafa, a viver a vida de todas as girafas, mas não era bem assim. Lá na savana, ao cair da noite, todos os animais se juntavam e conversavam, contavam histórias e cantavam juntos canções que iam inventando no momento, mas, a nossa amiga limitava-se a ouvi-los, porque da sua garganta não saía nem um ai. Por ter um pescoço tão grande, ela não conseguia emitir qualquer som, mesmo o mais insignificante e  era essa a causa da sua mel...

Ali onde tudo é possível

Ali onde tudo é possível Um equilíbrio de pé ante pé numa singeleza de voo de borboleta Um córrego pelas linhas do eléctrico a desaguar no Tejo Águas de levada, sonhos, ânsias, brisas Mesmo mesmo mesmo em frente à Sé, por cima das pedras fenícias, gregas, romanas, mouras, pedras com pedacitos da pele de quem por lá andou,  ouvem-se ainda os gritos do povo a chamar a revolta. “Querem matar o Mestre! Querem matar o Mestre” E o sol a girar, a girar, no milagre anual do Fernando de Bolhões E o Cesário, o Verde E tudo, mas mesmo tudo misturado no fado Tudo a ir A misturar-se com as águas do Bugio... com as naus e as caravelas e os veleiros de três mastros a zarparem para os Brasis que em Lisboa já se fala francês... O Rei e a Carlota Joaquina e a resma de piolhos e de cortesãos empoeirados que foram com eles, mais a régia biblioteca que por lá ficou. Imagino os molhos de sertão e de samba e de escravos negros, polidos a óleo de amendoim e a talhe de chic...