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A Cultura Manifesta-se



A cultura manifesta-se esta quarta-feira através dos seus agentes.
Manifesta-se na Praça do Sertório, em frente da Câmara Municipal de Évora, que “in illo tempore” já foi uma cidade de cultura.
Agora pelos vistos, o seu objectivo é ser uma cidade com espectáculos.
Assim a modos que uma cidade Barbie, ou um limão seco, com casca grossa, mas sem nenhum sumo.
Por fora e a uma distancia conveniente até parece que a cidade vive e pulsa; é Cidade Património da Humanidade, tem uma Universidade, com o que isso implica de criação e de actividade, ainda tem turistas vindos de inúmeras procedências em busca do mito.
Mas depois, o que acontece é espuma irrisória, maquilhagem, cenários feitos à medida de um Cecil B. DeMille de trazer por casa.
Porque na verdade, uma aposta na cultura implica riscos, implica acima de tudo diálogo e confronto de ideias e debate, implica transparência e a transparência implica coragem.
No fundo até se entende, não é fácil ter ideias, é complicado não ter propostas e ouvir as propostas de outros sem as entender e ter de decidir acerca da sua bondade e ter de disponibilizar meios para que elas se concretizem.
É mais fácil apostar no histrião de passagem, que chega, debita, recebe e parte, sem vínculos nem compromissos, sem história, sem responsabilidade.
Fecham-se museus, repositórios da cultura popular, do que esteve na base daquilo que hoje somos enquanto cidade, enquanto região, para se abrirem outros utilizando o argumento da rentabilidade, sabendo todos que isso é uma falácia. Organizam-se festivais, trazem-se artistas e candidatos a artistas e séquitos de artistas, gastam-se milhares de euros nesses fogos-fátuos, para depois não se cumprirem os compromissos assumidos com as casas de cultura da cidade; com aqueles que se esforçam e dão a cara e abdicam de muito, para que esta cidade não perca a memória do que já foi, para que esta cidade tenha gente, não marionetas a aplaudir um rei que não vai nu, antes esfarrapado, mendigo, demagogo, que se agarra ao poder e prefere reinar na terra do nunca em vez de ver realizadas as aspirações do seu povo.
Esta manifestação é de todos, não apenas dos agentes culturais, é a manifestação daqueles que como o João sem Medo, não querem ter uma abóbora no lugar da cabeça. De todos os que sabem que sem cultura não se vive, vegeta-se apenas, que sabem que muito mais do que o dinheiro o que conta é a dignidade, porque ela não tem preço.
Ou se tem ou não.

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